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São Paulo usa "exílio" para manter promessa
Clube manda Oscar, 16, à Espanha por um mês para impedir saída precoce
Vítima de forte assédio de agentes, meia só voltou quando completou idade mínima para assinar o 1º contrato de sua carreira
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O assédio de empresários internos e externos fez com que o
São Paulo tomasse uma atitude
ousada para não perder precocemente o talento do meia Oscar dos Santos Emboaba Júnior, da equipe sub-17 tricolor.
Um mês antes de completar
16 anos, quando finalmente poderia assinar um vínculo definitivo com o São Paulo, o jogador foi "seqüestrado" para Albacete, na Espanha, onde disputaria a Taça Quixote, um
mundialito sub-17 de clubes.
O garoto de origem humilde
teve as passagens aéreas, a alimentação e a estadia bancadas
pelo São Paulo, tudo para que
não fosse encontrado por empresários que rondavam o garoto até em sua casa.
Já em Albacete, Oscar passou
cerca de 20 dias treinando sozinho, acompanhado apenas pelo
coordenador técnico da base,
Bebeto Oliveira. Tudo isso, segundo o São Paulo, com o consentimento da família.
"Conversamos com a mãe
dele, e ela aceitou, porque era o
melhor que poderíamos fazer",
afirmou o diretor do futebol de
base, Marcos Tadeu Novais dos
Santos. "Tanto que o menino
viajou e conseguiu até manter
seu ano letivo sem problemas."
Em Albacete, Oscar, que é órfão de pai, esperou a delegação,
jogou o Mundial, eliminou até o
Real Madrid , somou dois gols e
foi campeão sobre o Partizan
(Sérvia) no dia 2 de setembro.
Mas só voltou ao Brasil uma
semana após a final, jogada no
dia 9 -exatamente no seu aniversário-, para assinar o primeiro contrato de sua carreira.
No site da CBF, as datas não
mentem: o termo começa justamente em 9 de setembro de
2007 e vai até o aniversário de
Oscar em 2010 -o tempo de
três anos é o máximo que a Lei
Pelé permite entre um clube e
um jogador nessa faixa etária.
"Fizemos isso porque o assédio era muito grande", afirmou
o presidente do clube, Juvenal
Juvêncio, à Folha. "Tínhamos
que tirar o menino daqui [do
Brasil] porque havia muita
pressão em cima dele."
De acordo com o presidente,
não só havia propostas de empresários internos como também ofertas sedutoras do poderoso Manchester United (ING). "Não posso falar os nomes dos agentes que o procuraram, mas até o Manchester nos
contatou de forma oficial. Primeiro, com convites ao atleta,
para que ele passasse uma semana lá. Depois, nos propondo
uma parceria pelos direitos dele. Mas isso nós não queremos", diz o cartola são-paulino.
O futebol de Oscar, segundo
Juvêncio, é conhecido no São
Paulo. Para o dirigente, que
prefere não compará-lo a nenhum nome do futebol, o menino subirá logo para o CT dos
profissionais, na Barra Funda.
Outro que também despertou grande cobiça de agentes
foi o meia Wellington Aparecido Martins, que fez 16 anos em
janeiro deste ano.
A medida extrema de "seqüestrar" Oscar, segundo Juvêncio, deu-se porque a Lei Pelé não protege os clubes formadores das saídas dos garotos.
O presidente do São Paulo
falou que o tema já foi até debatido em conversas com outro
presidente, o da República, que
externou sua preocupação com
os fatos. "Em nosso último encontro, o Lula me disse que temos que achar uma forma de
impedir o êxodo dos jogadores
mais jovens. A fragilidade dos
clubes é muito grande diante
do capital externo. Certa vez,
numa viagem, eu tinha propostas pelo sub-15 inteiro."
Para Juvêncio, porém, não se
trata apenas de começar mais
cedo o processo de profissionalização desses atletas.
"Isso é nivelar todos pelos
calcanhares. O que nós estamos falando é de talento", afirma ele, acrescentando não ter
nenhuma proposta formal.
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