São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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São Paulo usa "exílio" para manter promessa

Clube manda Oscar, 16, à Espanha por um mês para impedir saída precoce

Vítima de forte assédio de agentes, meia só voltou quando completou idade mínima para assinar o 1º contrato de sua carreira

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O assédio de empresários internos e externos fez com que o São Paulo tomasse uma atitude ousada para não perder precocemente o talento do meia Oscar dos Santos Emboaba Júnior, da equipe sub-17 tricolor.
Um mês antes de completar 16 anos, quando finalmente poderia assinar um vínculo definitivo com o São Paulo, o jogador foi "seqüestrado" para Albacete, na Espanha, onde disputaria a Taça Quixote, um mundialito sub-17 de clubes.
O garoto de origem humilde teve as passagens aéreas, a alimentação e a estadia bancadas pelo São Paulo, tudo para que não fosse encontrado por empresários que rondavam o garoto até em sua casa. Já em Albacete, Oscar passou cerca de 20 dias treinando sozinho, acompanhado apenas pelo coordenador técnico da base, Bebeto Oliveira. Tudo isso, segundo o São Paulo, com o consentimento da família.
"Conversamos com a mãe dele, e ela aceitou, porque era o melhor que poderíamos fazer", afirmou o diretor do futebol de base, Marcos Tadeu Novais dos Santos. "Tanto que o menino viajou e conseguiu até manter seu ano letivo sem problemas."
Em Albacete, Oscar, que é órfão de pai, esperou a delegação, jogou o Mundial, eliminou até o Real Madrid , somou dois gols e foi campeão sobre o Partizan (Sérvia) no dia 2 de setembro.
Mas só voltou ao Brasil uma semana após a final, jogada no dia 9 -exatamente no seu aniversário-, para assinar o primeiro contrato de sua carreira. No site da CBF, as datas não mentem: o termo começa justamente em 9 de setembro de 2007 e vai até o aniversário de Oscar em 2010 -o tempo de três anos é o máximo que a Lei Pelé permite entre um clube e um jogador nessa faixa etária.
"Fizemos isso porque o assédio era muito grande", afirmou o presidente do clube, Juvenal Juvêncio, à Folha. "Tínhamos que tirar o menino daqui [do Brasil] porque havia muita pressão em cima dele."
De acordo com o presidente, não só havia propostas de empresários internos como também ofertas sedutoras do poderoso Manchester United (ING). "Não posso falar os nomes dos agentes que o procuraram, mas até o Manchester nos contatou de forma oficial. Primeiro, com convites ao atleta, para que ele passasse uma semana lá. Depois, nos propondo uma parceria pelos direitos dele. Mas isso nós não queremos", diz o cartola são-paulino. O futebol de Oscar, segundo Juvêncio, é conhecido no São Paulo. Para o dirigente, que prefere não compará-lo a nenhum nome do futebol, o menino subirá logo para o CT dos profissionais, na Barra Funda.
Outro que também despertou grande cobiça de agentes foi o meia Wellington Aparecido Martins, que fez 16 anos em janeiro deste ano. A medida extrema de "seqüestrar" Oscar, segundo Juvêncio, deu-se porque a Lei Pelé não protege os clubes formadores das saídas dos garotos.
O presidente do São Paulo falou que o tema já foi até debatido em conversas com outro presidente, o da República, que externou sua preocupação com os fatos. "Em nosso último encontro, o Lula me disse que temos que achar uma forma de impedir o êxodo dos jogadores mais jovens. A fragilidade dos clubes é muito grande diante do capital externo. Certa vez, numa viagem, eu tinha propostas pelo sub-15 inteiro."
Para Juvêncio, porém, não se trata apenas de começar mais cedo o processo de profissionalização desses atletas.
"Isso é nivelar todos pelos calcanhares. O que nós estamos falando é de talento", afirma ele, acrescentando não ter nenhuma proposta formal.


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