São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

Superprodução de 473 capítulos, heróis, vilões, clichês e viradas rocambolescas procura desfecho na última rodada

Nacional de cinema espera fim da trama

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum estúdio de Hollywood teria orçamento, criatividade e atuações suficientes para construir uma trama tão rica e imprevisível quanto a do Campeonato Brasileiro de 2005. Nenhum gênero do cinema deixou de ser contemplado no "filme" do torneio.
Em cada uma das 42 rodadas, 11 "capítulos" desfilaram seus heróis e vilões. Cada um dos 473 episódios (incluindo os remarcados) passou na TV e podia ser decidido no verde dos gramados ou no azul do tapetão do STJD, no Rio.
Os fãs de tramas de tribunal se esbaldaram todas as vezes em que os auditores se reuniram. E eles começaram cedo. Na primeira rodada, o Brasiliense empatou com o Vasco, mas seu rival ganhou os três pontos porque o time do DF, punido por incidente na Série B, não podia vender ingressos.
Apesar de ter um papel aparentemente discreto, o presidente do STJD, Luiz Zveiter, acabou sendo mais exigido em suas performances quando a parte policial da trama veio à tona. Edilson Pereira de Carvalho, árbitro pacato, religioso e bem-sucedido, teve sua face do mal revelada pelos federais.
Uma sombra pairou sobre o campeonato, e Zveiter, usando efeitos especiais até hoje discutidos, deu um "rewind" na fita -que resultou num inesperado "fast-forward" corintiano.
Assim, um time acostumado a brigas internas e crises políticas -um eterno "O Que É Isso, Companheiro?"- virou líder.
Mas não, nem sempre o campeonato foi assim sério. Cabia no roteiro momentos leves. Como o humor pastelão de Júnior Baiano; o impagável zagueiro do Flamengo fez golaço contra de cobertura, abrindo a vitória ao misto do São Paulo, com um a menos desde o primeiro tempo.
Algumas histórias, contudo, não tiveram fôlego. Alguém se lembra da Ponte Preta de Oswaldo Alvarez, líder isolada, fazendo artilheiros como Roger e Kahê? Ou do Botafogo, em que brilhava a estrela solitária César Prates, banido pelo presidente Bebeto de Freitas, acusado de corpo mole?
Nem todas as cenas, porém, foram originais. O que falar de Corinthians 1x1 Internacional, com Márcio Rezende de Freitas errando no Pacaembu, no jogo mais decisivo do Brasileiro? Clichê?
Ficou também um gosto de reprise no sofrimento de Flamengo, Vasco, Atlético-MG e Paysandu, rodada após rodada, para fugir da zona de rebaixamento. Dessa vez, porém, os paraenses e os mineiros não escaparam. Não houve dublês nem mudança no roteiro.
Mas os atores principais fizeram sua parte. "Oscarizáveis" como Tevez, Rafael Sóbis e Petkovic arrancaram palmas da crítica e do público. Edmundo, que parecia ter sido esquecido, teve uma performance primorosa no Figueirense, e o Palmeiras já quer vê-lo em nova superprodução. Romário, no Vasco, já pensa em não parar. Diante das câmeras, seus gols adaptam "Hamlet" à bola: "Ser ou não ser ex-ídolo, eis a questão".
A trama, porém, teve excessos. O banho de sangue entre as torcidas faz pensar se menores e famílias podem assistir com sossego às próximas realizações. E os convites de produções estrangeiras acabaram levando protagonistas cedo demais, como Robinho, ex-Santos, e Fred, ex-Cruzeiro, nomes que Carlos Alberto Parreira pretende levar para filmagem na Alemanha no ano que vem.
Quando os créditos subirem, às 18h, alguns vão dizer que já sabiam, outros, que não gostaram do final. Pelo menos, a última rodada promete drama, suspense e ação - elementos que cinema e futebol dividem com prazer.


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