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FUTEBOL
Superprodução de 473 capítulos, heróis, vilões, clichês e viradas rocambolescas procura desfecho na última rodada
Nacional de cinema espera fim da trama
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhum estúdio de Hollywood
teria orçamento, criatividade e
atuações suficientes para construir uma trama tão rica e imprevisível quanto a do Campeonato
Brasileiro de 2005. Nenhum gênero do cinema deixou de ser contemplado no "filme" do torneio.
Em cada uma das 42 rodadas, 11
"capítulos" desfilaram seus heróis
e vilões. Cada um dos 473 episódios (incluindo os remarcados)
passou na TV e podia ser decidido
no verde dos gramados ou no azul
do tapetão do STJD, no Rio.
Os fãs de tramas de tribunal se
esbaldaram todas as vezes em que
os auditores se reuniram. E eles
começaram cedo. Na primeira rodada, o Brasiliense empatou com
o Vasco, mas seu rival ganhou os
três pontos porque o time do DF,
punido por incidente na Série B,
não podia vender ingressos.
Apesar de ter um papel aparentemente discreto, o presidente do
STJD, Luiz Zveiter, acabou sendo
mais exigido em suas performances quando a parte policial da trama veio à tona. Edilson Pereira de
Carvalho, árbitro pacato, religioso e bem-sucedido, teve sua face
do mal revelada pelos federais.
Uma sombra pairou sobre o
campeonato, e Zveiter, usando
efeitos especiais até hoje discutidos, deu um "rewind" na fita
-que resultou num inesperado
"fast-forward" corintiano.
Assim, um time acostumado a
brigas internas e crises políticas
-um eterno "O Que É Isso,
Companheiro?"- virou líder.
Mas não, nem sempre o campeonato foi assim sério. Cabia no
roteiro momentos leves. Como o
humor pastelão de Júnior Baiano;
o impagável zagueiro do Flamengo fez golaço contra de cobertura,
abrindo a vitória ao misto do São
Paulo, com um a menos desde o
primeiro tempo.
Algumas histórias, contudo,
não tiveram fôlego. Alguém se
lembra da Ponte Preta de Oswaldo Alvarez, líder isolada, fazendo
artilheiros como Roger e Kahê?
Ou do Botafogo, em que brilhava
a estrela solitária César Prates, banido pelo presidente Bebeto de
Freitas, acusado de corpo mole?
Nem todas as cenas, porém, foram originais. O que falar de Corinthians 1x1 Internacional, com
Márcio Rezende de Freitas errando no Pacaembu, no jogo mais
decisivo do Brasileiro? Clichê?
Ficou também um gosto de reprise no sofrimento de Flamengo,
Vasco, Atlético-MG e Paysandu,
rodada após rodada, para fugir da
zona de rebaixamento. Dessa vez,
porém, os paraenses e os mineiros não escaparam. Não houve
dublês nem mudança no roteiro.
Mas os atores principais fizeram
sua parte. "Oscarizáveis" como
Tevez, Rafael Sóbis e Petkovic arrancaram palmas da crítica e do
público. Edmundo, que parecia
ter sido esquecido, teve uma performance primorosa no Figueirense, e o Palmeiras já quer vê-lo
em nova superprodução. Romário, no Vasco, já pensa em não parar. Diante das câmeras, seus gols
adaptam "Hamlet" à bola: "Ser ou
não ser ex-ídolo, eis a questão".
A trama, porém, teve excessos.
O banho de sangue entre as torcidas faz pensar se menores e famílias podem assistir com sossego às
próximas realizações. E os convites de produções estrangeiras acabaram levando protagonistas cedo demais, como Robinho, ex-Santos, e Fred, ex-Cruzeiro, nomes que Carlos Alberto Parreira
pretende levar para filmagem na
Alemanha no ano que vem.
Quando os créditos subirem, às
18h, alguns vão dizer que já sabiam, outros, que não gostaram
do final. Pelo menos, a última rodada promete drama, suspense e
ação - elementos que cinema e
futebol dividem com prazer.
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