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FUTEBOL
Uma ou duas festas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Todos os psicólogos de plantão, com ou sem diploma,
pensam que o Fluminense vai ser
derrotado pelo Palmeiras, pois o
time carioca está abatido e em
queda. Será? É o mais provável,
mas tudo pode acontecer.
"As coisas não têm explicações;
têm existência" (Fernando Pessoa). O significado é posterior.
O Corinthians já é campeão? É
praticamente impossível tirar essa enorme diferença em dois jogos
equilibrados. Corto a mão se o Inter ganhar o título, desde que seja
a esquerda, pois ainda escrevo a
mão e com a direita.
Mesmo sabendo que a anulação dos jogos vai além dos pontos
recuperados, se a diferença final a
favor do Corinthians for menor
do que quatro pontos, o Inter não
será campeão, porém vai se sentir
campeão e também vai fazer a
festa.
Pulo do gato
Acompanhei pela TV as discussões e quase todas as palestras na
integra, do segundo Fórum de
Técnicos, realizado essa semana
no Rio. É uma ótima iniciativa do
Parreira, que deveria ser repetida
todos os anos.
Klinsmann, técnico da Alemanha, disse que uma das razões da
queda do futebol alemão é a diminuição de meninos que jogam
futebol na rua.
Isso poderá também ser um
problema para o futebol brasileiro. A habilidade e a criatividade
aparecem e se desenvolvem na infância, na brincadeira com a bola, na rua, sem regras e sem professores.
Depois, os meninos vão aprender a técnica e outras coisas nas
escolas e nas categorias de base
dos clubes. Não se deve inverter
essas fases.
Gostaria de perguntar ao Klinsmann por que ele escala o Ballack
de volante. A Alemanha joga com
dois volantes e um armador de
cada lado. Como Ballack tem
função importante de marcação,
chega pouco à área para finalizar
e não aproveita a sua principal
qualidade. Ballack é excelente do
meio para a frente, e não do meio
para trás.
Klinsmann faz um ótimo trabalho de renovação na Alemanha.
Ele e Van Basten, técnico da seleção da Holanda, que foram dois
excepcionais atacantes, contrariam os conceitos de que o ex-jogador precisa de um tempo de
aprendizagem para dirigir uma
grande equipe e que artilheiros
não se tornam bons treinadores.
Uma boa palestra foi do Felipão
sobre as diferenças entre futebol
europeu e brasileiro, dentro e fora
de campo.
O técnico disse que queria ter
uns três jogadores indisciplinados
taticamente na seleção de Portugal, e não apenas um. Não citou
nomes, mas deve ser o jovem habilidoso Ronaldo, que atua no
Manchester United e que gosta de
driblar como Robinho e Ronaldinho Gaúcho.
Felipão deu ótimos exemplos de
como o futebol na Europa é muito
mais organizado e disciplinado
fora de campo.
Mas não disse como mudou o
seu comportamento durante a
partida. Com certeza, lá ele não
joga a bola no campo para parar
o lance.
Leão, que estava presente na
palestra, poderia aprender na Europa a respeitar os árbitros e auxiliares durante o jogo.
Felipão disse ainda que os jogadores europeus têm menos intimidade com a imprensa do que os
brasileiros. Essa relação acontece
também com técnicos, dirigentes,
clubes, federações e com a CBF.
Felizmente, parte da imprensa resiste a essa proximidade e mantém a total independência, sem
perder o relacionamento profissional.
Na sua palestra sobre as Copas
do Mundo, Parreira mostrou que
todos os jogadores da seleção de
70 recuavam quando perdiam a
bola. É o que todos os técnicos
tentam fazer hoje. Concordo, mas
gostaria que os treinadores utilizassem também a marcação por
pressão em alguns momentos.
É uma ótima estratégia para
dominar o jogo, ser mais ofensivo
e não dar chance para o adversário. Os técnicos não fazem isso por
causa dos riscos.
Leão falou sobre como formar
uma equipe vencedora. Ele realmente entende disso. Mas falou
90% do tempo sobre ele mesmo e
10% do tema. Não deu também o
pulo do gato. Nem poderia. O pulo do gato não está nas pranchetas, nos manuais de auto ajuda,
na internet, nos livros nem nas
universidades. Ele não pode ser
ensinado.
Em qualquer atividade, o grande talento é o que sabe o pulo do
gato. Porém ele não sabe explicar
como sabe. Ele faz.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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