São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

Uma ou duas festas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Todos os psicólogos de plantão, com ou sem diploma, pensam que o Fluminense vai ser derrotado pelo Palmeiras, pois o time carioca está abatido e em queda. Será? É o mais provável, mas tudo pode acontecer.
"As coisas não têm explicações; têm existência" (Fernando Pessoa). O significado é posterior.
O Corinthians já é campeão? É praticamente impossível tirar essa enorme diferença em dois jogos equilibrados. Corto a mão se o Inter ganhar o título, desde que seja a esquerda, pois ainda escrevo a mão e com a direita.
Mesmo sabendo que a anulação dos jogos vai além dos pontos recuperados, se a diferença final a favor do Corinthians for menor do que quatro pontos, o Inter não será campeão, porém vai se sentir campeão e também vai fazer a festa.

Pulo do gato
Acompanhei pela TV as discussões e quase todas as palestras na integra, do segundo Fórum de Técnicos, realizado essa semana no Rio. É uma ótima iniciativa do Parreira, que deveria ser repetida todos os anos.
Klinsmann, técnico da Alemanha, disse que uma das razões da queda do futebol alemão é a diminuição de meninos que jogam futebol na rua.
Isso poderá também ser um problema para o futebol brasileiro. A habilidade e a criatividade aparecem e se desenvolvem na infância, na brincadeira com a bola, na rua, sem regras e sem professores.
Depois, os meninos vão aprender a técnica e outras coisas nas escolas e nas categorias de base dos clubes. Não se deve inverter essas fases.
Gostaria de perguntar ao Klinsmann por que ele escala o Ballack de volante. A Alemanha joga com dois volantes e um armador de cada lado. Como Ballack tem função importante de marcação, chega pouco à área para finalizar e não aproveita a sua principal qualidade. Ballack é excelente do meio para a frente, e não do meio para trás.
Klinsmann faz um ótimo trabalho de renovação na Alemanha. Ele e Van Basten, técnico da seleção da Holanda, que foram dois excepcionais atacantes, contrariam os conceitos de que o ex-jogador precisa de um tempo de aprendizagem para dirigir uma grande equipe e que artilheiros não se tornam bons treinadores.
Uma boa palestra foi do Felipão sobre as diferenças entre futebol europeu e brasileiro, dentro e fora de campo.
O técnico disse que queria ter uns três jogadores indisciplinados taticamente na seleção de Portugal, e não apenas um. Não citou nomes, mas deve ser o jovem habilidoso Ronaldo, que atua no Manchester United e que gosta de driblar como Robinho e Ronaldinho Gaúcho.
Felipão deu ótimos exemplos de como o futebol na Europa é muito mais organizado e disciplinado fora de campo.
Mas não disse como mudou o seu comportamento durante a partida. Com certeza, lá ele não joga a bola no campo para parar o lance.
Leão, que estava presente na palestra, poderia aprender na Europa a respeitar os árbitros e auxiliares durante o jogo.
Felipão disse ainda que os jogadores europeus têm menos intimidade com a imprensa do que os brasileiros. Essa relação acontece também com técnicos, dirigentes, clubes, federações e com a CBF. Felizmente, parte da imprensa resiste a essa proximidade e mantém a total independência, sem perder o relacionamento profissional.
Na sua palestra sobre as Copas do Mundo, Parreira mostrou que todos os jogadores da seleção de 70 recuavam quando perdiam a bola. É o que todos os técnicos tentam fazer hoje. Concordo, mas gostaria que os treinadores utilizassem também a marcação por pressão em alguns momentos.
É uma ótima estratégia para dominar o jogo, ser mais ofensivo e não dar chance para o adversário. Os técnicos não fazem isso por causa dos riscos.
Leão falou sobre como formar uma equipe vencedora. Ele realmente entende disso. Mas falou 90% do tempo sobre ele mesmo e 10% do tema. Não deu também o pulo do gato. Nem poderia. O pulo do gato não está nas pranchetas, nos manuais de auto ajuda, na internet, nos livros nem nas universidades. Ele não pode ser ensinado.
Em qualquer atividade, o grande talento é o que sabe o pulo do gato. Porém ele não sabe explicar como sabe. Ele faz.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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