São Paulo, segunda, 5 de janeiro de 1998.



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Sistema está institucionalizado no país

da Reportagem Local

A preocupação dos políticos uruguaios com a sonegação fiscal nas transferências de jogadores de futebol não é gratuita.
Em dezembro último, a Folha revelou como funcionava o Central Español, clube da segunda divisão do país, que serviu de ponte para a negociação do passe do lateral-esquerdo Zé Roberto entre Lusa e Real Madrid, da Espanha.
Apesar de, no papel, estar envolvido em transações milionárias, pouco desse dinheiro parece sobrar para a própria agremiação.
Com vestiários modestos, onde a água é aquecida à lenha, o principal jogador do time, o atacante José Franco, ganha US$ 400 mensais e vai trabalhar de ônibus.
Para o presidente do Central, Hugo Jaurena, que não nega o envolvimento do clube nas negociações capitaneadas pelo sócio honorário Juan Figer, empresário de Zé Roberto e articulador da transação, tudo é feito dentro da legalidade.
Sobre o caso do jogador brasileiro, Jaurena afirmou à Folha, em dezembro: "Já está institucionalizado no Uruguai essa tendência para o comercial. Estamos acostumados a ver o dinheiro entrar e sair do país. No caso do Zé Roberto, não sei se são muito bobos os dirigentes da Lusa ou se são muito bobos os dirigentes do Real Madrid. Nós, pelo menos, fizemos o melhor negócio".
O problema, porém, é que a própria Associação Uruguaia de Futebol não tem conhecimento da passagem de Zé Roberto pelo Central -conforme os documentos revelados pela Folha, em novembro, ele foi comprado e vendido no mesmo dia-, apesar do clube afirmar que tudo foi devidamente registrado.
Considerado um paraíso fiscal, o Uruguai não taxa a entrada e a saída de capitais ou metais de seu território.
Essa característica acaba atraindo os empresários de futebol, como Figer, e os próprios clubes do continente, que acabam realizando transferências de jogadores para a Europa e vice-versa evitando o pagamento de Imposto de Renda em seus países.
A tranquilidade de Jaurena impressiona. "Não tememos nenhuma medida da Fifa ou da Associação Uruguaia. Tudo o que fizemos está dentro das normas."



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