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AÇÃO
Green card
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Somos um país curioso. Temos a enorme capacidade de
lançar ao mundo ícones de esportes que carecem de apoio e estrutura. Nos esportes consagrados,
como o futebol, o automobilismo,
o tênis, isso é bem conhecido. Mas
existe uma outra atividade que
foi alavancada principalmente
porque ídolos surgiram das cinzas e, nesse movimento, arrastaram com eles o próprio esporte
para fora da clandestinidade.
Trata-se do nosso skate, que, a
cada dia, é mais reconhecido como um dos mais técnicos do mundo. Temos, nesse segmento, uma
trinca de notáveis, atletas que, na
Europa e nos EUA, são reconhecidos nas ruas: Bob Burnquist, Sandro Dias e Lincoln Ueda.
Bob e Sandro, há alguns anos,
ocupam espaço na mídia especializada e na grande mídia internacional. Bob, que lançou um filme
("A realidade de Bob Burnquist")
muito bem recebido pela crítica, é
embaixador do esporte. Sandro,
que em 2005 se sagrou tricampeão mundial, é também um dos
maiores divulgadores de nossa
imagem. Mas foi o pequenino Ueda que obteve um dos feitos mais
improváveis para o skate: ser citado em matéria com chamada de
capa pelo "The Wall Street Journal". Em novembro, o periódico
dedicou reportagem especial ao
brasileiro, que hoje mora na Califórnia. Claro que o mercado do
skate entrou no radar do jornal
econômico quando divulgou sua
receita em 2004: US$ 5 bilhões em
venda de material. Não é pouco.
Bob, por exemplo, é um dos
mais bem-sucedidos atletas americanos, ganhando salários de sete dígitos. Ueda, que nasceu e
cresceu em Guarulhos, filho de
um mecânico, vive bem hoje em
uma casa no litoral californiano.
Exatamente por isso, a matéria
do "Wall Street" traça a trajetória
humana de Ueda, cita Bob e Sandro e diz que o skate brasileiro é
um dos melhores do mundo.
"Lincoln é um dos skatistas mais
empolgados. Quando você vê a
paixão e a dedicação desses brasileiros, é inevitável entender por
que eles chegam tão longe". A frase é de Tony Hawk, o maior ícone
do esporte. E serve para explicar
as razões pelas quais nos superamos, mesmo sem estrutura.
Paixão e dedicação, coisas que
não podem ser medidas, compensam unidades mesuráveis como
apoio financeiro no começo da
carreira. Lincoln, que fez recentemente 31 anos, teria herdado a
mecânica do pai e ganharia pouco mais do que três salários mínimos se não tivesse seguido seu sonho. Hoje, fatura US$ 180 mil/ano, o suficiente para sustentar a
família e viver bem com a mulher
nos EUA. Na matéria do jornal
americano, Ueda é, como fazem o
"Wall Street" e o "New York Times" com seus entrevistados, chamado de "mister". "Mr. Ueda".
Um tipo de respeito que não estamos acostumados a ver dirigido a
esportistas, ainda mais a skatistas, uma atividade que era, até
que nossa trinca de ouro mudasse
isso, marginal e clandestina.
Esses rapazes são a prova de
que, para crescer, esportes alternativos precisam de ícones. O duro é que, normalmente, ícones,
para nascer, precisam de estrutura. Mas o Brasil, esse país curioso,
tem driblado essa máxima.
Mundial de surfe sub-21
Seis brasileiros seguem na disputa em Narrabeen (AUS). A prova, a
sétima edição da categoria, vai até domingo, e o Brasil defende o título com Pablo Paulino e tenta o tetra. No feminino, que estreou neste
ano, a paraibana Diana Cristina, 15, terminou em quinto lugar.
Calendário WCT-2006
Apesar da pressão sobre a organização, a etapa brasileira do Mundial
de surfe segue em SC. Novidade: a inclusão de Puerto Escondido
(MEX), em junho, e volta de Mundaka (ESP). Serão 12 provas no ano.
É mais embaixo
O inglês Lewis Pugh bateu o recorde de nadar no ponto mais ao sul
do globo. De sunga, fez 1.000 m em 18min na gélida água antártica.
E-mail: sarli@trip.com.br
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