São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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AÇÃO

Green card

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Somos um país curioso. Temos a enorme capacidade de lançar ao mundo ícones de esportes que carecem de apoio e estrutura. Nos esportes consagrados, como o futebol, o automobilismo, o tênis, isso é bem conhecido. Mas existe uma outra atividade que foi alavancada principalmente porque ídolos surgiram das cinzas e, nesse movimento, arrastaram com eles o próprio esporte para fora da clandestinidade.
Trata-se do nosso skate, que, a cada dia, é mais reconhecido como um dos mais técnicos do mundo. Temos, nesse segmento, uma trinca de notáveis, atletas que, na Europa e nos EUA, são reconhecidos nas ruas: Bob Burnquist, Sandro Dias e Lincoln Ueda.
Bob e Sandro, há alguns anos, ocupam espaço na mídia especializada e na grande mídia internacional. Bob, que lançou um filme ("A realidade de Bob Burnquist") muito bem recebido pela crítica, é embaixador do esporte. Sandro, que em 2005 se sagrou tricampeão mundial, é também um dos maiores divulgadores de nossa imagem. Mas foi o pequenino Ueda que obteve um dos feitos mais improváveis para o skate: ser citado em matéria com chamada de capa pelo "The Wall Street Journal". Em novembro, o periódico dedicou reportagem especial ao brasileiro, que hoje mora na Califórnia. Claro que o mercado do skate entrou no radar do jornal econômico quando divulgou sua receita em 2004: US$ 5 bilhões em venda de material. Não é pouco.
Bob, por exemplo, é um dos mais bem-sucedidos atletas americanos, ganhando salários de sete dígitos. Ueda, que nasceu e cresceu em Guarulhos, filho de um mecânico, vive bem hoje em uma casa no litoral californiano. Exatamente por isso, a matéria do "Wall Street" traça a trajetória humana de Ueda, cita Bob e Sandro e diz que o skate brasileiro é um dos melhores do mundo. "Lincoln é um dos skatistas mais empolgados. Quando você vê a paixão e a dedicação desses brasileiros, é inevitável entender por que eles chegam tão longe". A frase é de Tony Hawk, o maior ícone do esporte. E serve para explicar as razões pelas quais nos superamos, mesmo sem estrutura.
Paixão e dedicação, coisas que não podem ser medidas, compensam unidades mesuráveis como apoio financeiro no começo da carreira. Lincoln, que fez recentemente 31 anos, teria herdado a mecânica do pai e ganharia pouco mais do que três salários mínimos se não tivesse seguido seu sonho. Hoje, fatura US$ 180 mil/ano, o suficiente para sustentar a família e viver bem com a mulher nos EUA. Na matéria do jornal americano, Ueda é, como fazem o "Wall Street" e o "New York Times" com seus entrevistados, chamado de "mister". "Mr. Ueda". Um tipo de respeito que não estamos acostumados a ver dirigido a esportistas, ainda mais a skatistas, uma atividade que era, até que nossa trinca de ouro mudasse isso, marginal e clandestina.
Esses rapazes são a prova de que, para crescer, esportes alternativos precisam de ícones. O duro é que, normalmente, ícones, para nascer, precisam de estrutura. Mas o Brasil, esse país curioso, tem driblado essa máxima.

Mundial de surfe sub-21
Seis brasileiros seguem na disputa em Narrabeen (AUS). A prova, a sétima edição da categoria, vai até domingo, e o Brasil defende o título com Pablo Paulino e tenta o tetra. No feminino, que estreou neste ano, a paraibana Diana Cristina, 15, terminou em quinto lugar.

Calendário WCT-2006
Apesar da pressão sobre a organização, a etapa brasileira do Mundial de surfe segue em SC. Novidade: a inclusão de Puerto Escondido (MEX), em junho, e volta de Mundaka (ESP). Serão 12 provas no ano.
É mais embaixo O inglês Lewis Pugh bateu o recorde de nadar no ponto mais ao sul do globo. De sunga, fez 1.000 m em 18min na gélida água antártica.

E-mail: sarli@trip.com.br

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