São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Divagações matemáticas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Há muitas coisas que não gosto na vida, mas reconheço a importância delas. Uma é a estatística. Ela está presente no esporte e em todas as ciências. Tudo pode ser calculado. Como nada é exato nem se repete indefinidamente, cada nova experiência precisa ser vivida como única, diferente, fora de qualquer estatística.
Por causa dessa incerteza e da inexistência de uma única verdade, todos se acham no direito de opinar sobre tudo, mesmo sem entender nada.
O Brasil é o principal favorito para o Mundial, principalmente pela qualidade de alguns de seus craques. Isso não significa, obviamente, que já é campeão. Será difícil. A Copa será na Alemanha, e os europeus não querem ver o Brasil tão na frente.
Há um exagero, um equívoco estatístico sobre as chances do Brasil. A maioria fala em 70% e 80%. Como não sou estatístico -matava as aulas na faculdade- nem matemático, se falar besteira, me corrijam. Não quero provar nada. Só divagar.
Como existem logo abaixo do Brasil de oito a dez seleções, mais ou menos, no mesmo nível e todas com chances de ganhar o Mundial, diluem-se as possibilidades de cada uma e também as do Brasil.
Entre essas seleções, citaria a Argentina, a Alemanha (por jogar em casa), a Inglaterra, a Itália, a França (Zidane vai querer parar por cima) e, um pouco abaixo, a Holanda, Portugal, a Espanha e a República Tcheca. Não sei se incluo o México e Sérvia e Montenegro. As outras serão grandes zebras. Por isso, vou ignorar suas raríssimas chances matemáticas.
Se o Brasil possui umas três ou quatro vezes mais chances do que essas outras seleções -estou sendo otimista-, a possibilidade de a seleção do técnico Carlos Alberto Parreira ganhar o Mundial está em torno de 30%, e a das outras juntas, em 70% (na média, em torno de 8% a 10% para cada uma). Se as chances são bem menores do que 50%, não seria mais provável o Brasil perder do que ganhar o Mundial?
Fiquei confuso.
Chamem um matemático.

Futebol quadrado
No domingo, escrevi que o primeiro esquema tático foi o 2-3-5, com dois zagueiros, três médios e cinco atacantes. Para haver impedimento, era necessário ter menos de três jogadores entre o último atacante e a linha de fundo. A mudança na regra de três para dois ocorreu em 1925, e as defesas ficaram mais desprotegidas.
Em torno de 1930, surgiu o WM (ou o 3-2-2-3). Um dos médios recuou para a zaga, e os dois atacantes que voltavam para receber a bola se tornaram meias armadores. A arma principal das equipes passou a ser o quadrado no meio-de-campo, formado pelos dois médios e os dois meias armadores. Na época, a palavra mágico ainda não estava na moda. Portanto não era quadrado mágico. Era só quadrado.
O inventor desse esquema, Herbert Chapman, técnico do Arsenal, deve ter sido um inglês muito sistemático, obcecado pela simetria. Os cinco que ficavam no próprio campo (três zagueiros e dois médios) formavam uma letra W, e os cinco mais adiantados (dois meias e três atacantes), um M.
Se colocarmos a prancheta de cabeça para baixo, o W se transforma em M e vice-versa. Os cinco da frente de um time se encaixavam, ocupavam exatamente o mesmo lugar dos cinco mais recuados do outro time. Tudo simétrico. Por isso, a marcação era individual.
O WM foi trazido para o Brasil, persistiu por umas duas décadas e foi utilizado várias vezes na Copa de 50. Os craques Jair e Zizinho eram os meias, e Danilo e Bauer, os médios, formando o quadrado, que não era mágico.
Um esquema tático tão certinho e simétrico não poderia durar tanto. Futebol não é quadrado.
Com o tempo, o WM ficou torto e dele surgiu o 4-2-4, que será assunto de uma próxima coluna.

Torcida
Pela história, simpatia do clube e em solidariedade a José Trajano, uma pessoa generosa e apaixonada pelo time, vou torcer para o América no Estadual do Rio.
Em Minas, vou torcer para o outro América, time do meu querido pai. Cruzeiro e Atlético-MG já ganharam muitos Estaduais.
Já em São Paulo, queria torcer para a Portuguesa, mas as suas chances de ganhar o título estão em torno de 0%. Não consigo viver sem esperança.


E-mail - tostao.folha@uol.com.br

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