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COMENTÁRIO
Só há um código de bom-tom para juiz: não roubarás
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
O verdadeiro e único código de bom-tom dos árbitros
brasileiros foi escrito há séculos e se resume ao 7º mandamento da chamada lei de
Deus: não roubarás.
O resto é tira-teima de TV
e bafafá de boteco.
Prefiro um juiz que cuspa
no chão e rasgue bisteca no
pé-sujo, como Obelix rasgava um javali, a um juiz limpinho, asséptico, almofadinha,
que no domingo rouba descaradamente o meu time.
Juiz que entende de vinho,
saca de talheres, e não usa
palitos nos caninos, assim
meio "cafa" da távola redonda, não merece respeito. Juiz
que sente o bouquet de um
cabernet é, para dizer o mínimo, um suspeito.
Juiz que cumpre manual
de etiqueta é desajustado na
certa. Juiz que faz tudo certinho em casa... é a Geni dos
estádios. Pedras e radinhos
de pilha nela! Toda Geni vale
uma chinelada, vale, na boa,
a perda de mando de campo.
O código dos árbitros paulistas, além de esquecer do 7º
mandamento, pecou por
omissão em outro capítulo.
Num de seus itens mais antifreudianos, recomenda que
os juízes não narrem seus
sonhos e assaltos, digo, assaltos à mão armada de que
foram vítimas. Esqueceram
o básico na moral dos álibis
de todos os alibabás: ladrão
que rouba ladrão tem cem
anos de perdão.
Aos escribas do tal código
recomendo duas passagens
bíblicas: "Não roubarás" (Dt
5,19). "Nem os ladrões, nem
os avarentos... nem os injuriosos herdarão o Reino de
Deus" (1Cor 6,10). Cor. de
Corinthos não de Corinthians, não confundam, senhores juízes, o livro bíblico
com o time a ser favorecido.
Que matem, que cobicem
mulheres alheias, que não
amem o presidente da FPF
acima de todos, que não
guardem os domingos e dias
de jogos, que não honrem
pais e mães (logo elas!), que
pequem contra a castidade,
que levantem falso testemunho, que errem a torto e a direito... Mas que respeitem o
sagrado e 7º mandamento.
Que errem e façam feio na
combinação da carne e do
vinho, mas que não roubem
o meu time no domingo.
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