São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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FUTEBOL

Inspirado em código da FAB, novo manual ensina regras de etiqueta

Após escândalo, árbitros aprendem boas maneiras

DA REPORTAGEM LOCAL

O caso Edilson deixou novas lições aos árbitros. Aprenderam que mulheres devem evitar fumar na rua, que não é educado levantar o dedinho ao segurar uma taça e que o prato de carne precisa ficar a 1 cm da borda da mesa.
Se a Federação Paulista de Futebol recorreu à ajuda de psicólogos, o Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo buscou ajuda na Força Aérea Brasileira.
Inspirado em regras de etiqueta da corporação, em que serviu até 1995, o presidente da associação de juízes, Sérgio Corrêa, distribuiu um novo manual a seus filiados, batizado de "Código de Ética & Bons Costumes dos Árbitros".
"Alguns tiram sarro, mas, como o assunto da máfia do apito foi questionado pela sociedade, achei oportuno reeditar e ampliar o manual de ética e incluir o item dos bons costumes, coisa que faltou ao Edilson", diz Corrêa.
Até o escândalo que teve como pivô o juiz Edilson Pereira de Carvalho e que levou à anulação de 11 partidas do Brasileiro-05, os juízes recebiam apenas um código de ética de cerca de dez páginas. A nova edição, ampliada, teve tiragem de mil exemplares.
"O manual é importante para melhorar a cultura e o nível da arbitragem, principalmente a do juiz internacional. Mas acredito que o desvio de conduta não tenha muita ligação com o código de etiqueta. O manual não vai deixar a gente mais ou menos livre de ter desvio", diz o árbitro da Fifa Paulo César de Oliveira, que recebeu com surpresa o fato do manual ter um código de etiqueta.
Quanto a pôr a mesa, Oliveira é seco. "No meu dia-a-dia, eu como na frente da TV vendo partida de futebol. Sei que não é uma coisa boa, mas me porto bem fora de casa", afirma o juiz.
A manipulação dos resultados dos jogos de futebol por Edilson ainda assusta o sindicato. Agora, a única manipulação permitida aos árbitros será a dos talheres.
À página 34 do manual (que tem 41 páginas no total), o juiz terá uma ilustração que explica de forma detalhada o passo a passo da montagem de uma mesa de banquete e almoço, com garfos, facas, pratos e taças de vinho.
O livro também destina boa parte dos textos à mulher. Num deles, relata que "ela" deve andar entre dois homens fora de casa.
Vale lembrar que 5% dos árbitros são mulheres. Uma delas, aliás, mostrou curiosidade e bom humor quanto à "nova Bíblia".
"Acho a iniciativa válida, mas não se muda o caráter de alguém de 30 a 40 anos com etiqueta. Minha sugestão é que seja feito um manual de bons costumes voltado para a realidade do árbitro. Este é para o pessoal da aeronáutica", afirma a bandeira Ana Paula de Oliveira, da Fifa. (KLEBER TOMAZ)


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