São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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FUTEBOL

"Brasil, Um Século de Futebol, Arte e Magia" exibe imagens raras dos maiores boleiros nacionais em cenas inusitadas

Livro usa bola para retratar século no país

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Leônidas da Silva experimenta um terno. Heleno de Freitas acende um cigarro. Didi e Pelé posam em duas bicicletas.
O título pode enganar, mas "Brasil, Um Século de Futebol, Arte e Magia" (Aprazível Edições, R$ 130) não é uma súmula visual dos melhores momentos do futebol brasileiro. O álbum de luxo, que está chegando às livrarias, procura espelhar na maior parte de suas 180 fotos os costumes do país nos últimos cem anos.
As imagens citadas acima são algumas das que se destacam no livro. O editor Leonel Kaz afirma ter visto cerca de 60 mil fotografias até chegar à seleção final.
"Há poucas fotos de gols. Procuramos transmitir o espírito das épocas das fotos. É uma forma de mostrar como o brasileiro é habitado pelo futebol, que estava reservado às elites e foi reinventado por nós. O futebol influenciou os nossos costumes e foi influenciado por eles", declara Kaz, que conseguiu apoio do Ministério da Cultura e da Bradesco Seguros para realizar a edição luxuosa.
O editor assina a introdução do livro, mas é o jornalista João Máximo, um profundo conhecedor da história do futebol, quem acompanha com textos os blocos de imagens. Conta desde os primórdios -o paulistano Charles Miller e o carioca Oscar Cox trazendo da Europa o esporte- até os dias de hoje, no capítulo batizado "A Globalização da Bola".
Nos textos, que não são longos, "não há muita bola rolando", como ele diz. Mas também não há tratados sociológicos sobre o futebol, algo que ele odeia e, em algumas passagens do livro, contesta.
"Existem [nos livros acadêmicos] contos da carochinha, como a história de que os negros aprenderam a driblar porque não podiam se chocar com os brancos. Não há registro disso", ressalta Máximo, creditando ao clássico "O Negro no Futebol Brasileiro" (1947), de Mário Filho, um quinhão das lendas. "É um livro delicioso, mas de ficção."
Máximo dedica boa parte dos dois primeiros capítulos -que cobrem o período de 1894 a 1956- a tratar do racismo. "Há uma certa glamurização do racismo no futebol brasileiro. Não que não tenha havido, mas não houve segregação oficial. O preconceito era mais social e econômico", afirma ele.
Em uma das fotos encontradas no acervo de Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro do Fluminense e da seleção brasileira na década de 1910, vê-se dois negros de chapéu, paletó e gravata assistindo a um jogo na aristocrática sede das Laranjeiras.
Quando não interessava a um clube ou a uma confederação ver a porção negra de um craque, fechavam-se os olhos racistas, como no caso do mulato Friedenreich, o primeiro grande craque nacional. Uma foto interessante do livro mostra o time do Bangu de 1911, com alguns negros, já que era formado por operários da fábrica Confiança, do subúrbio carioca.
Um outro aspecto enfocado por Máximo é o da transformação, a partir da Copa de 1950, do futebol em algo mais do que um esporte.
"É quando ele se torna fator de identidade nacional, como os sociólogos gostam de escrever. Costumo dizer que o Brasil vai disputar uma Copa como um avião: o normal, pousar, é ser campeão; se não ganhou, temos que apurar as causas do acidente", diz.
Há belas fotos de Copas, como o capitão brasileiro Augusto sendo consolado pelo goleiro uruguaio Máspoli após a derrota na final de 50, no Maracanã. Ou de Pelé dando seus vôos para cabecear contra a Inglaterra -a famosa cabeçada defendida por Banks- e a Itália em 1970.
O livro, no entanto, é recheado de imagens menos espetaculares, mas significativas, como as pernas tortas de Garrincha sendo examinadas; a mulher de Didi, Guiomar, desamarrando as chuteiras do craque após o título carioca de 57; além de anônimos ouvindo pelo rádio os jogos da seleção nas Copas de 58 e 62.


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