|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
"Brasil, Um Século de Futebol, Arte e Magia" exibe imagens raras dos maiores boleiros nacionais em cenas inusitadas
Livro usa bola para retratar século no país
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Leônidas da Silva experimenta
um terno. Heleno de Freitas acende um cigarro. Didi e Pelé posam
em duas bicicletas.
O título pode enganar, mas
"Brasil, Um Século de Futebol,
Arte e Magia" (Aprazível Edições,
R$ 130) não é uma súmula visual
dos melhores momentos do futebol brasileiro. O álbum de luxo,
que está chegando às livrarias,
procura espelhar na maior parte
de suas 180 fotos os costumes do
país nos últimos cem anos.
As imagens citadas acima são
algumas das que se destacam no
livro. O editor Leonel Kaz afirma
ter visto cerca de 60 mil fotografias até chegar à seleção final.
"Há poucas fotos de gols. Procuramos transmitir o espírito das
épocas das fotos. É uma forma de
mostrar como o brasileiro é habitado pelo futebol, que estava reservado às elites e foi reinventado
por nós. O futebol influenciou os
nossos costumes e foi influenciado por eles", declara Kaz, que
conseguiu apoio do Ministério da
Cultura e da Bradesco Seguros para realizar a edição luxuosa.
O editor assina a introdução do
livro, mas é o jornalista João Máximo, um profundo conhecedor
da história do futebol, quem
acompanha com textos os blocos
de imagens. Conta desde os primórdios -o paulistano Charles
Miller e o carioca Oscar Cox trazendo da Europa o esporte- até
os dias de hoje, no capítulo batizado "A Globalização da Bola".
Nos textos, que não são longos,
"não há muita bola rolando", como ele diz. Mas também não há
tratados sociológicos sobre o futebol, algo que ele odeia e, em algumas passagens do livro, contesta.
"Existem [nos livros acadêmicos] contos da carochinha, como
a história de que os negros aprenderam a driblar porque não podiam se chocar com os brancos.
Não há registro disso", ressalta
Máximo, creditando ao clássico
"O Negro no Futebol Brasileiro"
(1947), de Mário Filho, um quinhão das lendas. "É um livro delicioso, mas de ficção."
Máximo dedica boa parte dos
dois primeiros capítulos -que
cobrem o período de 1894 a
1956- a tratar do racismo. "Há
uma certa glamurização do racismo no futebol brasileiro.
Não que não tenha havido, mas
não houve segregação oficial.
O preconceito era mais social e
econômico", afirma ele.
Em uma das fotos encontradas no acervo de Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro
do Fluminense e da seleção
brasileira na década de 1910,
vê-se dois negros de chapéu,
paletó e gravata assistindo a
um jogo na aristocrática sede das Laranjeiras.
Quando não interessava a
um clube ou a uma confederação ver a porção negra
de um craque, fechavam-se os olhos racistas, como
no caso do mulato Friedenreich, o primeiro grande
craque nacional. Uma foto
interessante do livro mostra
o time do Bangu de 1911, com
alguns negros, já que era formado
por operários da fábrica Confiança, do subúrbio carioca.
Um outro aspecto enfocado por
Máximo é o da transformação, a
partir da Copa de 1950, do futebol
em algo mais do que um esporte.
"É quando ele se torna fator de
identidade nacional, como os sociólogos gostam de escrever. Costumo dizer que o Brasil vai disputar uma Copa como um avião: o
normal, pousar, é ser campeão; se
não ganhou, temos que apurar as
causas do acidente", diz.
Há belas fotos de Copas, como
o capitão brasileiro Augusto sendo consolado pelo goleiro uruguaio Máspoli após a derrota na
final de 50, no Maracanã. Ou de
Pelé dando seus vôos para cabecear contra a Inglaterra -a famosa cabeçada defendida por
Banks- e a Itália em 1970.
O livro, no entanto, é recheado
de imagens menos espetaculares,
mas significativas, como as pernas tortas de Garrincha sendo
examinadas; a mulher de Didi,
Guiomar, desamarrando as chuteiras do craque após o título carioca de 57; além de anônimos
ouvindo pelo rádio os jogos da seleção nas Copas de 58 e 62.
Texto Anterior: Mogi evita desespero Próximo Texto: Em ano de Mundial, Alemão tem camisa mais cara da Europa Índice
|