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FUTEBOL
Só os gênios são originais
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
C ontinuo o assunto da evolução tática. Sei que a maioria não gosta, principalmente os
jornalistas esportivos, mas insisto.
Sou persistente.
O 4-2-4 dos anos 50 e 60 conviveu na mesma época com o 4-3-3,
pela ponta e pelo meio.
O ponta-direita Telê recuava,
fechava pelo meio e se tornava
um terceiro jogador de meio-campo. O ponta-esquerda Zagallo fez o mesmo no Botafogo e nas
seleções de 58 e 62. Quando a
equipe recuperava a bola, eles
avançavam como pontas.
Na Copa de 70, a seleção, que
jogara as eliminatórias no 4-2-4
com Saldanha, passou a atuar no
4-3-3 sob o comando de Zagallo.
O técnico trocou o ponta esquerda Edu pelo meia Rivellino.
Muitas outras equipes da década de 60, como o Cruzeiro, jogavam no 4-3-3, porém pelo meio,
com dois pontas, um centroavante, dois meias e um volante.
Dizem que a origem da palavra
volante foi por causa de um
centro médio sul-americano que
se chamava Volante. Será que ele
era um caneleiro, um fazedor
de faltas, um brucutu, como alguns volantes de hoje? Isso tem
mudado.
O 4-3-3 evoluiu para o 4-4-2,
com dois volantes e um armador
de cada lado. Foi o fim dos dois
pontas. Até hoje, a maioria dos times europeus e a atual seleção
brasileira jogam dessa forma.
Mas não é sobre isso que quero falar, e sim sobre a volta do 4-3-3,
pelo meio, com três atacantes. É o
esquema da moda, com um toque
de modernidade.
A Holanda nunca abandonou
esse esquema. Nos outros países
europeus, os técnicos perceberam
a necessidade de ter atacantes pelos lados, já que os laterais avançam pouco. Isso não ocorreu no
Brasil porque os laterais brasileiros sempre gostaram de atacar.
Poucos sabem.
Nesse novo ou velho esquema,
cada dia mais utilizado na Europa, os atacantes pelos lados são
diferentes dos antigos pontas.
Eles se movimentam mais, recuam para marcar os laterais e
entram pelo meio para fazer gols.
Para isso, precisam ser velozes,
habilidosos e bons finalizadores.
Com os três atacantes e mais
quatro defensores, o meio-de-campo pode ser formado por um
volante e dois armadores que atacam e defendem, como ocorre no
Chelsea, no Barcelona e na seleção da Espanha (atuou assim pela primeira vez no meio de semana), ou por dois volantes e um
meia ofensivo, como na seleção de
Portugal.
Contra a Croácia, a Argentina
aderiu também à moda, ao escalar Messi e Tevez pelos lados,
Crespo de centroavante e mais o
Riquelme vindo de trás. Mas o
técnico José Pekerman fez uma
grande lambança do meio-campo
para trás ao colocar três volantes
e três zagueiros, todos pelo meio.
Não havia laterais ou alas para
defender ou para atacar.
A Itália também jogou no 4-3-3
com três atacantes, mas com dois
pelo meio e o terceiro (Del Piero)
pela esquerda. Ficou torto. Mesmo assim, goleou a Alemanha em
Florença. Na Copa do Mundo,
atuando em casa, a Alemanha será diferente.
Os esquemas táticos servem de
referência, para colocar ordem na
correria dos jogadores, para os
treinadores se sentirem mais importantes e para facilitar o trabalho de comentaristas, que gostam
não só do espetáculo mas também da maneira de jogar dos times. Para analisar o conteúdo,
preciso conhecer a forma.
A volta dos três atacantes mostra que o futebol repete a vida. As
coisas vão e voltam, geralmente
disfarçadas de modernidade. Só
os gênios são originais.
Clássico paulista
Mesmo sem um único jogador
excepcional, Vanderlei Luxemburgo organizou rapidamente a
equipe do Santos.
O técnico vai tentar aproveitar
hoje as deficiências da defesa do
Palmeiras. O time dirigido por
Emerson Leão joga com dois
meias que participam muito pouco da marcação e com dois laterais que avançam bastante, principalmente Paulo Baier. Os zagueiros ficam desprotegidos, mesmo com dois volantes.
Em compensação, o Palmeiras
chega ao ataque com muitos jogadores e cria muitas chances de
gol. Leão sempre priorizou o ataque. Costuma dar certo.
Correa não é um jogador excepcional, mas deveria ser mais valorizado. Os seus ótimos cruzamentos têm sido decisivos.
Por isso, e por não haver outro
excelente volante, não vejo razão
de ele ser tão substituído e tão
contestado.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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