São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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MATINAS SUZUKI JR.
A síndrome da abertura

O primeiro jogo de Copa do Mundo que cobri, no dia 31 de maio de 1986, deu 1 a 1.
A campeã de 82, Itália, inaugurava o segundo Mundial do México com um medíocre empate contra a então inexpressiva Bulgária, dos tempos pré-Stoichkov.
Na abertura do segundo Mundial na Itália, a campeã Argentina deu um vexame maior: perdeu, no Giuseppe Meazza que Ronaldinho agora conhece tão bem, no dia 8 de junho de 1990, para a desconhecidíssima seleção de Camarões por 1 a 0.
Aliás, a Argentina era reincidente: campeã em 78, perdeu na abertura da Copa da Espanha de 82, em Barcelona, para a Bélgica por 1 a 0.
No dia 17 de junho de 94, na abertura da primeira Copa dos EUA, a campeã Alemanha conseguiu vencer, no Soldier Field de Chicago, mas jogou mal e só marcou um gol na Bolívia -que entrou jogando sem o diabo Etcheverry.
Mas a Alemanha, campeã de 74, tinha em seu passivo um 0 a 0 contra a Polônia na abertura do primeiro Mundial na Argentina, jogo realizado em 1º de junho de 78, no carismático estádio do River Plate, em Buenos Aires.
O Brasil, em 74, inaugurou a moderna tradição nos Mundiais de a seleção campeã na Copa anterior fazer a cerimônia de abertura da seguinte.
E já inaugurou dando a sua contribuição para o carma do jogo de abertura: ficou em um difícil 0 a 0 contra a antiga Iugoslávia, no Wald Stadion, em Frankfurt.
Aliás, o velho Lobo do fut Zagallo deve saber bem o que é essa síndrome, pois estava no banco da seleção brasileira, como técnico, naquele dia.
Mas, pior do que as dificuldades do primeiro jogo, que já são uma experiência bem dura de se passar, é constatar que nenhuma das seleções campeãs que fizeram a abertura conseguiram levantar o caneco novamente.
Isso mostra o quanto é duro ganhar duas Copas seguidas e também reforça o mito em torno da abertura (e nós sabemos o quanto o mundo do futebol é sensível a essas coincidências -será que são apenas coincidências?- do destino).
O supersticioso Zagallo sabe melhor do que ninguém que, além da árdua tarefa de preparar melhor a seleção brasileira, terá que fazer um "trabalhinho" extra para, no próximo dia 10 de junho, espantar a bruxa escocesa, no estádio de Saint Denis.


Matinas Suzuki Jr. é diretor editorial-adjunto da Editora Abril.



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