São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2000


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Comando da F-1 pode mudar de mãos ainda nesta temporada
Um fantoche no volante

Editoria de Arte/Folha Imagem
Personagens da série de TV "Muppets", cuja a companhia criadora foi comprada pela EM.TV em fevereiro



Ecclestone se prepara para transferir gerência comercial do Mundial para alemão, executivo que começou vendendo máquinas de escrever e ficou rico com séries infantis de TV


FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Barcelona

Não se espante se, dentro de alguns anos, você se deparar com imagens como essa aí ao lado nos autódromos da F-1. Não estranhe se personagens como Caco, Miss Piggy, Animal e Gonzo passarem a estampar os carros das escuderias e os capacetes dos pilotos.
Esses são só alguns dos projetos do ambicioso Thomas Haffa para o mais célebre campeonato de automobilismo do planeta.
Desde março, o empresário alemão é o novo sócio da F-1. Sua empresa, a EM.TV & Merchandising AG, com sede em Munique, adquiriu 50% da FOA, holding comandada pelo inglês Bernie Ecclestone, que controla todas as ações comerciais da categoria.
Até o fim do ano, Haffa promete aumentar sua participação no negócio. Já anunciou que pretende comprar mais 25% das ações.
Caso concretize seu plano, se tornará, nos próximos meses, o novo dono da F-1. De desconhecido do público em geral no começo do ano, entrará no próximo século como um dos grandes nomes do esporte mundial.
O histórico de Haffa leva a crer que ele terá sucesso na empreitada. Aos 48 anos, o executivo possui hoje a 184ª fortuna pessoal do mundo, estimada pela revista "Forbes" em US$ 2,2 bilhões.
Sua empresa cresce em um ritmo vertiginoso. Deficitária em 1996, a EM.TV colheu, só no primeiro semestre de 1999, lucro líquido superior a US$ 22 milhões.
Um pacote de ações da EM.TV no Neuer Markt (Bolsa de Frankfurt que concentra papéis de empresas de alta tecnologia) que valia US$ 22 no lançamento, está hoje cotado a US$ 1.164.
Enquanto isso, a F-1 parece ter atingido seu limite. Nos últimos anos, vem patinando. Enfrentando problemas com a União Européia, não conseguiu lançar seus papéis nas Bolsas de Valores. E a TV digital, lastro para a operação, ainda não decolou na Europa.
Outro fator que pode colocar Haffa no comando da situação é a saúde debilitada de Ecclestone.
Aos 69 anos, o empresário inglês já dá sinais de cansaço. Não aparece no paddock com a mesma frequência e, no ano passado, passou por uma cirurgia cardíaca.
Indiretamente, Ecclestone dá apoio à ascensão de Haffa. Motivo para isso, ou simples coincidência, as trajetórias dos dois empresários são bem parecidas.
Ex-piloto frustrado, o inglês surgiu no cenário do automobilismo de ponta no início da década de 70. Começou por baixo, comprando a Brabham, então uma equipe bem modesta.
Com talento para os negócios e um notório humor negro, ganhou títulos, destaque e, em 1978, foi escolhido como presidente da Foca, antecessora da FOA.
Desde então, passou a ganhar cada vez mais espaço no comando da categoria. E dinheiro. Hoje, é o sexto homem mais rico da Inglaterra -sua mulher, a croata Slavica, que tem participação nos seus negócios, é a mulher mais rica daquele país, superando até mesmo a rainha Elizabeth 2ª.
Haffa é um executivo da carreira. Adolescente, largou os estudos para trabalhar como operário, em uma fábrica da BMW. Aos 21 anos, foi trabalhar na IBM, onde vendia computadores pessoais e máquinas de escrever.
Sua virada começou em 1979, quando foi contratado para trabalhar com Leo Kirsch, um dos magnatas das comunicações na Europa. Dez anos depois, deixou um bom emprego de diretor do setor de "home videos" para formar sua própria empresa.
Sua estratégia desde o começo vem sendo comprar os direitos de programas infantis. Hoje, detém a exclusividade em alemão de séries consagradas, como "Tom & Jerry" e "As Tartarugas Ninjas".
Neste ano, pouco antes da compra de 50% da F-1, por US$ 1,65 bilhão, Haffa já havia protagonizado outro lance ousado.
Em fevereiro, adquiriu a Jim Henson Company, por US$ 680 milhões, com todo seu acervo, dos bonecos dos "Muppets" aos personagens de "Vila Sésamo". Na Alemanha, o negócio foi considerado a segunda maior anexação da cultura norte-americana à germânica desde a compra da Chrysler pela Mercedes-Benz.
Haffa já deixou claro que quer unir os dois negócios. Acredita que, com a força da EM.TV, agora anabolizada pela Jim Henson, pode dar novo impulso à F-1.
No comando, por enquanto, o sarcástico Ecclestone não perde a oportunidade para brincar com a situação. "Se continuar assim, daqui a pouco Caco, o sapo, vai ser o novo rival de Schumacher."


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