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Com 850 mil mulheres nos gramados, país anfitrião acredita que Mundial vai empurrar uma nova geração de meninas para praticar o futebol
Menina dos olhos Alemãs vêem na Copa chance de novo boom
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
"Brigitte" seria uma típica revista feminina não fosse o espaço dedicado ao futebol. No lugar de textos sobre jogadores
considerados bonitos ou elogios ao metrossexual inglês David Beckham, a publicação debate aspectos táticos e técnicos
dos elencos que a partir de sexta entram em campo na Copa.
Tal opção editorial pode soar
estranha a um brasileiro, mas é
natural na Alemanha. O público feminino não só pratica o esporte mais popular do planeta
como o considera uma agradável opção de entretenimento.
Segundo a Federação Alemã
de Futebol, cerca de 20% da capacidade dos estádios em partidas do Nacional masculino é
preenchida por mulheres.
Mais: com a bola nos pés, as
alemãs têm currículo recheado
de conquistas -ganharam medalha de bronze na Olimpíada
de Sydney-2000 e ficaram com
o ouro no Mundial em 2003.
"A participação está aumentando a cada ano e um evento
como a Copa vai empurrar uma
nova geração de meninas para
praticar o futebol. Se soubermos absorver tudo isso, vamos
crescer mais. Na verdade, os
clubes ainda têm muito espaço
para receber jogadoras, já que
podemos usar toda a estrutura
que os times masculinos possuem", explica à Folha Sissy
Raith, técnica do time feminino do Bayern de Munique.
Suas palavras dão apenas
uma pista do tamanho deste
boom. Em 1994, 600 mil jogadoras integravam 4.000 times
na Alemanha. Hoje, 850 mil estão espalhadas por 7.000 equipes. Um incremento de 41,67%
em 12 anos.
"Eu demorei para acreditar
quando comecei a disputar os
jogos oficiais. Os estádios estão
sempre cheios e existem até
torcidas organizadas formadas
só por mulheres. Em campo,
tudo é muito profissional. Para
quem jogou no Brasil, é um outro mundo", explica Cristiane,
21, a brasileira mais bem-sucedida nos gramados alemães.
Após brilhar na Olimpíada
de Atenas, em 2004 -o Brasil
chegou à decisão, mas sucumbiu diante dos EUA-, ela firmou contrato com o Turbine
Potsdam. De lá para cá, ganhou
títulos nacionais e europeus.
No Campeonato Alemão que
está em disputa, a atacante
conta com sete gols. Sua meta é
ampliar essa contagem ainda
hoje, quando sua equipe enfrenta o Bayern de Munique.
Depois, o certame será interrompido para a Copa.
Cristiane, aliás, não vai
acompanhar a seleção de Carlos Alberto Parreira. Não tem
ingresso para os jogos. Trata-se, porém, de uma situação
oposta à de suas colegas de
equipe, cujo brilho nos campos
rendeu privilégios concedidos
por autoridades alemãs.
"É difícil de acreditar, mas
cada jogadora da seleção alemã
ganhou 15 entradas para usar
no Mundial. E olha que os ingressos estão muito disputados. Acho que isso prova a importância que elas têm para o
país", opina Cristiane.
Essa valorização ocorreu
também nos bastidores e ajudou a romper um tabu. O quadro de diretores da Bundesliga,
sempre dominado por homens,
tem agora a presença de uma
mulher: é Katja Kraus, que trabalha no clube Hamburgo.
Sua explicação para a febre
do futebol feminino está na infra-estrutura. "As mulheres só
passaram a ser assíduas freqüentadoras quando os estádios passaram a ter boa qualidade. Clubes com estádios mal
conservados ainda não conseguem explorar esse mercado.
Já as cidades que investiram
em reformas visando os jogos
da Copa estão colhendo frutos", afirma Kraus à agência de
notícia Reuters.
Não são apenas jogadoras de
futebol, praticantes eventuais
ou cartolas que devem engrossar a audiência do Mundial.
Muita gente aproveitou a
exaltação natural que precede
um evento desse porte para
oferecer informações e cativar
novas audiências femininas
que até então não demonstravam interesse pelo esporte.
Uma escola de Nuremberg,
por exemplo, criou um curso
de oito meses que esmiuça regras e ensina jargões da bola.
Duas jornalistas alemãs tiveram idéia semelhante e lançaram um livro bem-humorado
com o objetivo de explicar para
mulheres de torcedores o motivo de seus maridos "chorarem feito crianças" quando
acompanham um jogo.
"É preciso compreender as
regras para se emocionar com
futebol. Algumas pessoas que
dizem não gostar do esporte
não sabem nem o que é um
simples impedimento", escrevem Gaby Papenburg e Annette Pilawa, as autoras da obra.
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