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Morte expõe impotência do país da Copa
Autoridades admitem que, mesmo com aumento de efetivo policial, é difícil conter violência das torcidas organizadas
Confronto entre corintianos e vascaínos, três dias após anúncio das cidades-sedes do Mundial-14, deixa pelo menos 1 morto e 9 feridos
LUIS KAWAGUTI
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após a maior batalha
campal dos últimos dois anos
entre torcedores em São Paulo,
autoridades e até membros de
organizadas reconheceram que
a violência em dias de jogos de
futebol é quase incontrolável.
E que uma das poucas soluções viáveis para contornar o
problema seria a realização de
partidas para uma só torcida.
"Estamos aumentando o efetivo há anos. O problema dessas
torcidas organizadas é que elas
sentem satisfação em brigar.
Reforçamos o policiamento e,
ainda assim, temos problemas", afirmou o major José Balestiero Filho, subcomandante
do 2º Batalhão de Choque da
PM e que se diz favorável à adoção do plano de torcida única.
Ele sustentou que não houve
falha da polícia, citando que o
efetivo usado na escolta dos
ônibus de vascaínos -20 motocicletas e dois carros policiais-
foi o dobro do normal.
O promotor Paulo de Castilho mostrou-se contrário ao remanejamento de um número
excessivo de policiais para controle específico de violência relacionada a torcidas de futebol.
Ele admitiu que não há um efetivo suficientemente grande
para contornar esse problema.
"Não podemos desguarnecer
a população. Quantos policiais
serão necessários para escoltar
torcedores que venham de outros Estados? Não tem policial
sobrando. A sociedade quer pagar esse preço [de perder segurança em outros locais] para escoltar apenas 500 torcedores
de organizadas?", questionou.
Devido à falta de segurança, o
promotor, de novo, fez campanha pela adoção de torcida única em jogos de "alto risco".
Até as torcidas admitem a
impotência. As quatro maiores
organizadas de SP, Mancha Alviverde, Gaviões da Fiel, Independente e Torcida Jovem,
afirmaram que é impossível
manter 100% de controle sobre
seus associados e que as brigas,
invariavelmente, acontecem.
Confirmada no domingo como uma das cidades-sedes da
Copa do Mundo de 2014, São
Paulo luta para ter a abertura.
O choque de anteontem começou às 21h30 na marginal
Tietê (zona norte de São Paulo), próximo da ponte das Bandeiras. Um comboio de 15 ônibus da torcida do Vasco, escoltado pela PM, foi abordado por
um ônibus com 60 membros da
Gaviões da Rua São Jorge.
Barras de ferro, fogos de artifício, pedras, facas e pelo menos
duas armas de fogo -uma espingarda calibre 12 e uma pistola- foram usados no tumulto. Parte desse armamento estava no ônibus corintiano e em
quatro carros particulares.
A PM informou que até 450
pessoas participaram da briga,
mas a Polícia Civil disse ser impossível contabilizar. O conflito acabou em 15 minutos, com a
chegada de mais policiais. Na
correria, alguns corintianos invadiram o Clube Esperia, situado às margens da via, e depredaram parte das instalações.
O torcedor Clayton Ferreira
de Souza, 27, foi encontrado
sem roupas e com ferimentos
provocados por pancadas e por
um objeto cortante no rosto.
Ele morreu no hospital. Outras
nove pessoas (entra elas um
policial) ficaram feridas.
Os ônibus com a torcida do
Vasco seguiram para o estádio.
Um deles foi incendiado durante o segundo tempo do jogo.
Só torcedores corintianos foram presos por causa da briga,
pois a PM liberou os vascaínos
sem revistar seus ônibus ou
apresentá-los à Polícia Civil. A
Delegacia de Crimes Raciais e
Delitos de Intolerância diz que
32 pessoas foram detidas.
Até a noite de ontem, cinco
delas tinham sido indiciadas
pelos crimes de formação de
quadrilha, rixa com resultado
de morte e dano ao patrimônio
privado. De acordo com a delegada Margarette Barreto, ainda
não é possível saber se o confronto foi resultado de uma
emboscada preparada por corintianos ou de um encontro
eventual de torcidas rivais.
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