São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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Morte expõe impotência do país da Copa

Autoridades admitem que, mesmo com aumento de efetivo policial, é difícil conter violência das torcidas organizadas

Confronto entre corintianos e vascaínos, três dias após anúncio das cidades-sedes do Mundial-14, deixa pelo menos 1 morto e 9 feridos


LUIS KAWAGUTI
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após a maior batalha campal dos últimos dois anos entre torcedores em São Paulo, autoridades e até membros de organizadas reconheceram que a violência em dias de jogos de futebol é quase incontrolável.
E que uma das poucas soluções viáveis para contornar o problema seria a realização de partidas para uma só torcida.
"Estamos aumentando o efetivo há anos. O problema dessas torcidas organizadas é que elas sentem satisfação em brigar. Reforçamos o policiamento e, ainda assim, temos problemas", afirmou o major José Balestiero Filho, subcomandante do 2º Batalhão de Choque da PM e que se diz favorável à adoção do plano de torcida única.
Ele sustentou que não houve falha da polícia, citando que o efetivo usado na escolta dos ônibus de vascaínos -20 motocicletas e dois carros policiais- foi o dobro do normal.
O promotor Paulo de Castilho mostrou-se contrário ao remanejamento de um número excessivo de policiais para controle específico de violência relacionada a torcidas de futebol. Ele admitiu que não há um efetivo suficientemente grande para contornar esse problema.
"Não podemos desguarnecer a população. Quantos policiais serão necessários para escoltar torcedores que venham de outros Estados? Não tem policial sobrando. A sociedade quer pagar esse preço [de perder segurança em outros locais] para escoltar apenas 500 torcedores de organizadas?", questionou.
Devido à falta de segurança, o promotor, de novo, fez campanha pela adoção de torcida única em jogos de "alto risco".
Até as torcidas admitem a impotência. As quatro maiores organizadas de SP, Mancha Alviverde, Gaviões da Fiel, Independente e Torcida Jovem, afirmaram que é impossível manter 100% de controle sobre seus associados e que as brigas, invariavelmente, acontecem.
Confirmada no domingo como uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014, São Paulo luta para ter a abertura.
O choque de anteontem começou às 21h30 na marginal Tietê (zona norte de São Paulo), próximo da ponte das Bandeiras. Um comboio de 15 ônibus da torcida do Vasco, escoltado pela PM, foi abordado por um ônibus com 60 membros da Gaviões da Rua São Jorge.
Barras de ferro, fogos de artifício, pedras, facas e pelo menos duas armas de fogo -uma espingarda calibre 12 e uma pistola- foram usados no tumulto. Parte desse armamento estava no ônibus corintiano e em quatro carros particulares.
A PM informou que até 450 pessoas participaram da briga, mas a Polícia Civil disse ser impossível contabilizar. O conflito acabou em 15 minutos, com a chegada de mais policiais. Na correria, alguns corintianos invadiram o Clube Esperia, situado às margens da via, e depredaram parte das instalações.
O torcedor Clayton Ferreira de Souza, 27, foi encontrado sem roupas e com ferimentos provocados por pancadas e por um objeto cortante no rosto. Ele morreu no hospital. Outras nove pessoas (entra elas um policial) ficaram feridas.
Os ônibus com a torcida do Vasco seguiram para o estádio. Um deles foi incendiado durante o segundo tempo do jogo.
Só torcedores corintianos foram presos por causa da briga, pois a PM liberou os vascaínos sem revistar seus ônibus ou apresentá-los à Polícia Civil. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância diz que 32 pessoas foram detidas.
Até a noite de ontem, cinco delas tinham sido indiciadas pelos crimes de formação de quadrilha, rixa com resultado de morte e dano ao patrimônio privado. De acordo com a delegada Margarette Barreto, ainda não é possível saber se o confronto foi resultado de uma emboscada preparada por corintianos ou de um encontro eventual de torcidas rivais.


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