São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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XICO SÁ

Túmulo do futebol


De tanto proibir, São Paulo proibiu o torcedor de ir ao estádio, que se tornou uma praça dos vândalos

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, é triste, mas São Paulo, terra de muito samba, choro e rock'n'roll, está virando o túmulo do futebol. Foi a primeira a proibir cerveja, depois proibiu batucada, bandeiras... E, de tanto proibir, fez dos clássicos os incríveis jogos de uma só torcida. Palmas!
O pior: tantas proibições só proibiram a alegria, a prova dos noves do velho Oswald, o maior colunista de esportes da história paulistana (vide o jornal "O Homem do Povo"), e nada de proibir a dita cuja, a violência, essa dama bruta que toca o terror e sempre aparece travestida de velha da foice.
Proibir, aliás, é a única moral dos mandatários dos nossos tempos.
Quem não faz vai lá e proíbe, é bem mais fácil, sempre em nome das melhores das intenções e da cartilha do politicamente correto. Sim, a violência nos estádios e nos arredores não é monopólio de São Paulo, mas aqui o pânico tem sido frequente, como a emboscada, o pavor e a morte na noite gelada de anteontem.
De tanto proibir, proibiram o torcedor de ir a campo. Eles conseguiram. A praça é dos vândalos como o céu é do monóxido de carbono. Resta esperar o fim da novela mais chata do planeta, sentar a bunda no sofazão e ver o jogo pelos olhos das câmeras da TV, que manda nessa joça. Pelo menos uma boa lição disso tudo aprendemos: proibir não é o caminho, não adianta, talvez o segredo esteja no seu contrário. Em liberar geral, como na mais sensata, e ainda utópica, política antidrogas.
Vigiar e punir, essa obsessão barata, nunca foi o truque, só provocou mais desgraças mundo afora.
"Mas chega de chatice, seu Francisco, o recado foi dado, sossega, sem essa de panfleto filosófico na tribuna sagrada de todos os secadores", cutuca Edgar, meu corvo. Eu obedeço, não está mais aqui o cronista cricri.
Retomemos a alegria do Serafim e da Ponte Grande. Repare que maravilha, o Paysandu, o Papão da Curuzu, levando mais de 30 mil pessoas a campo na Terceirona do Brasileiro.
Uma pena Belém estar fora da Copa-14. Não há lugar que ame mais o futebol, de maneira decente, nesse amazônico país. Injustiça é o que não falta nesse mundão perdido, onde não se consagra, imediatamente, por exemplo, o escritor paraense Edyr Augusto, autor de "Moscow", entre outras belas narrativas fora do eixo das obviedades picaretas.
Repare, amigo, que sensacional, o XV de Piracicaba pode assegurar no domingo a ascensão à Segundona do Paulista e dali, como uma asa de barata, como um calcanhar de grilo, como no grito da torcida, o aguardado retorno ao grupo de elite. Está chegando a hora, o jogo é contra o Grêmio Osasco, fora do seu domínio, mas a romaria caipira já pôs o trenzinho para apitar na curva.
Ih, amigo, o Edgar chama. Tudo bem, deixa o bicho gastar o latim da urucubaca: "Não esquece de dizer que nós, os secadores, estamos nas mãos do Nacional do Uruguai e do Inter, que fica lá por perto, na Libertadores e na Copa do Brasil".
Tudo bem, estimada ave, encerro com o seu agouro, mas acho que vai dar Palmeiras e Corinthians na sequência. Afinal, miserável, depois que mudamos das cercanias da Augusta para a Vila Pompéia, você não acerta uma. Que fracasso: a saudade das moças tirou o seu poder de fogo.
xico.folha@uol.com.br


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