São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

Coletiva nunca mais


Para Dunga e seus pupilos, o papel da mídia é o de torcer pela seleção, no estilo "pra frente Brasil"


EXISTEM POUCAS coisas que aborrecem mais do que uma entrevista coletiva da seleção brasileira em Johannesburgo, onde a equipe se prepara para a Copa do Mundo da África do Sul.
Discursos redundantes, respostas evasivas, clichês religiosos e de autoajuda, declarações no estilo "pra frente Brasil" de muitos jornalistas-torcedores etc.
No entanto o auditório está sempre cheio de profissionais da imprensa escrita, falada, televisiva e virtual de vários países.
Há também um descompasso entre o interesse da mídia e a irrelevância das informações produzidas naquele palco decorado com mais logotipos que um macacão de F-1.
O mais paradoxal é que boa parte desse blá-blá-blá inócuo é ocupada por comentários ressentidos contra a própria imprensa.
A julgar pelas quatro entrevistas que presenciei (do técnico Dunga, de seu auxiliar Jorginho, do meia-atacante Kaká e do volante Josué), a seleção encara a mídia como um mal necessário.
Entenda-se: necessário para veicular a publicidade que, em última análise, sustenta o caro circo do futebol.
"Eu sei que vocês precisam preencher o seu espaço com alguma coisa", declarou, por exemplo, Dunga.
É como se a imprensa só servisse a nós, jornalistas, ou às empresas para as quais nós, jornalistas, trabalhamos.
O que o público precisa, de acordo com o treinador e seus pupilos, é de mensagens positivas.
O mais assustador, a meu ver, é a identificação entre o criticar e o "torcer contra". Quem aponta problemas e quem questiona decisões acaba acusado de sabotar a seleção.
É mais ou menos como dizer que quem denuncia a precariedade das estradas brasileiras ou a nossa má distribuição de renda quer o mal do país.
A sensação, durante esses rituais vazios, é a de que a vida está acontecendo lá fora, em outra parte. E é para lá que eu vou, a partir de agora.
Coletiva nunca mais.

GEOGRAFIA
Peço desculpas ao leitor pelo erro que, na pressa do fechamento, o pessoal que rala na Redação introduziu no meu texto de ontem.
A África do Sul tem três capitais (Pretória, Cidade do Cabo e Bloemfontein).
Johannesburgo, evidentemente, não está entre elas.

jgcouto@uol.com.br


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