São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ GERALDO COUTO

Maracanazos


O desastre do Flu puniu a empáfia de Renato e ratificou que o Maracanã pode ser o lugar mais triste do mundo

E MPÁFIA.
Foi essa a palavra que Tostão empregou há algumas semanas, com precisão cirúrgica, ao se referir de passagem ao técnico do Fluminense, Renato Gaúcho.
Não há no dicionário, de fato, vocábulo melhor para definir um sujeito que, às vésperas do jogo mais importante da história de seu time, declara-se vencedor por antecipação, pois "sabe tudo" sobre futebol.
Há uma fronteira tênue, mas decisiva, entre autoconfiança (necessária a qualquer indivíduo que encara um desafio) e presunção. Renato, ao que tudo indica, rompeu essa fronteira e levou consigo seus atletas.
Foi uma pena para os 80 mil tricolores que lotaram o Maracanã aos gritos de "Eu acredito". Foi uma pena para alguns notáveis, como Thiago Neves, Júnior César e Fernando Henrique, que mereciam o título.
O Maracanã, que, em seus momentos de festa, é o maior espetáculo da Terra, transforma-se no mais gélido dos túmulos quando toda a torcida que o ocupa sofre a decepção da derrota inesperada, como a do Brasil para o Uruguai em 1950, a do Flamengo para o América do México em 7 de maio último e, claro, a do Fluminense (nos pênaltis) para a LDU na noite fatídica de quarta.
Não conheço outro estádio do mundo cujo nome tenha dado origem a uma expressão como "maracanazo". É como se ele, na sua imensidão de concreto, assumisse a euforia ou a depressão de seus ocupantes. Local de festa e de luto, o Maracanã é o retrato cambiante dos nossos humores e estados de espírito.

O "projeto" Ronaldinho
Um texto que ajuda a entender a vertiginosa queda de Ronaldinho está na revista "Placar" deste mês. Foi escrito pelo espanhol Toni Frieros, editor do jornal "Sport", de Barcelona, e biógrafo do craque.
Em seu artigo, com a autoridade de quem ganhou a confiança do jogador a ponto de freqüentar a sua casa e a sua família, Frieros diz que o problema central de Ronaldinho é a perda de motivação, ou, para usar as suas palavras, "a falta de ambição", após a conquista do Espanhol, da Copa dos Campeões e do título de melhor futebolista do mundo por dois anos consecutivos.
Para o biógrafo e jornalista, uma mudança de clube, a esta altura, seria essencial para que Ronaldinho voltasse a treinar e jogar com vontade. "Ele precisa de novos ares, novos objetivos."
Ricardo Teixeira, que é tudo, menos bobo, vislumbrou a chance de faturar prestígio como o padrinho da reabilitação do atleta, via a convocação a fórceps para a Olimpíada. Entre a intransigência rancorosa de Dunga, que gosta de punir os craques, e o oportunismo de Teixeira, que humilha em público o técnico que ele próprio escolheu para a seleção, é duro escolher.
É bom que Ronaldinho saiba que, se quiser voltar a brilhar e a ser feliz em campo, não deve contar com nenhum desses dois, mas só com o seu próprio empenho.
Nenhum atalho mágico, mesmo com o empurrão da Globo, o levará de volta ao topo. Um Ronaldo (o Fenômeno) desleixado e acima do peso foi um fiasco na Copa da Alemanha. O outro Ronaldo que se cuide para não fazer o mesmo papel em Pequim.

jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor: As contas de Bruno
Próximo Texto: Phelps bate seu recorde nos 200 m medley
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.