São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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TOSTÃO

Festas, bebidas e futebol

Ganhar uma Copa vai muito além da rotina de treinos, das inevitáveis badalações e dos excessos em dias de folga

RICARDO TEIXEIRA, na companhia de Romário e do escritor Paulo Coelho, que já tinha sido um dos convidados da CBF na Copa da Alemanha, entregou à Fifa o projeto para o Mundial de 2014. Estranhei a ausência de Pelé. Já está tudo decidido. Foi apenas um gesto protocolar. A Copa será no Brasil.
O esperto Ricardo Teixeira -no sentido que você achar melhor- deve contratar pessoas competentes, com tempo e disposição para trabalhar. Enquanto isso, e aí está o perigo, ele vai negociar com os políticos, os governos, os empresários e os dirigentes esportivos.
A CBF é uma entidade privada, porém de interesse público. A seleção é do país, e não da CBF. Ela e os governos têm a obrigação de prestarem contas dos gastos com a Copa. É necessário ainda que toda a mídia trate os eventos esportivos como fato jornalístico, e não apenas como entretenimento e como uma parceria comercial.
Ricardo Teixeira teria dito que em 2006 alguns jogadores chegaram de madrugada e bêbados à concentração. Em uma entrevista à Globo, ele negou que falou a palavra bêbado.
De qualquer maneira, Ricardo Teixeira quis dizer que a culpa do fracasso na Copa foram o desinteresse dos jogadores e a falta de autoridade da comissão técnica.
Não fica bem para a seleção e para os atletas badalarem durante a preparação para uma Copa do Mundo, mas, se isso aconteceu no período de folga, tem pouca ou nenhuma importância. Em todos os Mundiais, nos que o Brasil ganhou e nos que perdeu, alguns jogadores se excederam nos dias de folga, cada um do seu jeito.
Sempre houve também um grande tumulto em torno da seleção. Foi assim nas Copas do Mundo de 1966 e de 1970, quando joguei, e nas de 1994, 1998, 2002 e 2006, quando trabalhei como comentarista.
Os campos de treinamento estavam quase sempre lotados, e, com freqüência, eram vendidos ingressos para os torcedores, como ocorreu na Suíça.
Em 2002, os jogadores, mesmo em andares reservados à seleção, ficaram concentrados na Coréia do Sul em um hotel junto com jornalistas e hóspedes comuns. Se a seleção tivesse perdido, apareceriam várias histórias negativas sobre o comportamento dos atletas. Além disso, se as festas durante os treinos na Suíça tiveram conseqüências ruins para a equipe, a culpa é da CBF, que ganhou muito dinheiro nos contratos com empresas e com a prefeitura.
Entre tantos motivos para o fracasso do Brasil no Mundial de 2006, os principais foram os problemas técnicos, físicos e a prepotência dos atletas, da comissão técnica e da CBF, que, após a conquista da Copa das Confederações, acharam que o Brasil ganharia fácil. Parte da imprensa, a turma do oba-oba, entrou também na festa e elogiava até as brincadeiras durante os treinos.
Para ganhar um Mundial, além das virtudes técnicas e físicas, é preciso haver muita concentração, um desejo intenso de superar as dificuldades e a percepção pelos jogadores de que eles só vão brilhar se o conjunto for bem. Tudo isso vai muito além da rotina de treinos, das inevitáveis badalações e dos excessos em dias de folga.


tostao.folha@uol.com.br

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