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TOSTÃO
Festas, bebidas e futebol
Ganhar uma Copa vai muito além da rotina de treinos, das inevitáveis badalações e dos excessos em dias de folga
RICARDO TEIXEIRA, na companhia de Romário e do escritor
Paulo Coelho, que já tinha sido um dos convidados da CBF na
Copa da Alemanha, entregou à Fifa
o projeto para o Mundial de 2014.
Estranhei a ausência de Pelé. Já está
tudo decidido. Foi apenas um gesto
protocolar. A Copa será no Brasil.
O esperto Ricardo Teixeira -no
sentido que você achar melhor- deve contratar pessoas competentes,
com tempo e disposição para trabalhar. Enquanto isso, e aí está o perigo, ele vai negociar com os políticos,
os governos, os empresários e os dirigentes esportivos.
A CBF é uma entidade privada,
porém de interesse público. A seleção é do país, e não da CBF. Ela e os
governos têm a obrigação de prestarem contas dos gastos com a Copa. É
necessário ainda que toda a mídia
trate os eventos esportivos como fato jornalístico, e não apenas como
entretenimento e como uma parceria comercial.
Ricardo Teixeira teria dito que em
2006 alguns jogadores chegaram de
madrugada e bêbados à concentração. Em uma entrevista à Globo, ele
negou que falou a palavra bêbado.
De qualquer maneira, Ricardo Teixeira quis dizer que a culpa do fracasso na Copa foram o desinteresse
dos jogadores e a falta de autoridade
da comissão técnica.
Não fica bem para a seleção e para
os atletas badalarem durante a preparação para uma Copa do Mundo,
mas, se isso aconteceu no período de
folga, tem pouca ou nenhuma importância. Em todos os Mundiais,
nos que o Brasil ganhou e nos que
perdeu, alguns jogadores se excederam nos dias de folga, cada um do
seu jeito.
Sempre houve também um grande tumulto em torno da seleção. Foi
assim nas Copas do Mundo de 1966
e de 1970, quando joguei, e nas de
1994, 1998, 2002 e 2006, quando
trabalhei como comentarista.
Os campos de treinamento estavam quase sempre lotados, e, com
freqüência, eram vendidos ingressos para os torcedores, como ocorreu na Suíça.
Em 2002, os jogadores, mesmo
em andares reservados à seleção, ficaram concentrados na Coréia do
Sul em um hotel junto com jornalistas e hóspedes comuns. Se a seleção
tivesse perdido, apareceriam várias
histórias negativas sobre o comportamento dos atletas.
Além disso, se as festas durante os
treinos na Suíça tiveram conseqüências ruins para a equipe, a culpa
é da CBF, que ganhou muito dinheiro nos contratos com empresas e
com a prefeitura.
Entre tantos motivos para o fracasso do Brasil no Mundial de 2006,
os principais foram os problemas
técnicos, físicos e a prepotência dos
atletas, da comissão técnica e da
CBF, que, após a conquista da Copa
das Confederações, acharam que o
Brasil ganharia fácil. Parte da imprensa, a turma do oba-oba, entrou
também na festa e elogiava até as
brincadeiras durante os treinos.
Para ganhar um Mundial, além
das virtudes técnicas e físicas, é preciso haver muita concentração, um
desejo intenso de superar as dificuldades e a percepção pelos jogadores
de que eles só vão brilhar se o conjunto for bem.
Tudo isso vai muito além da rotina
de treinos, das inevitáveis badalações e dos excessos em dias de folga.
tostao.folha@uol.com.br
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