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FUTEBOL
Time jovem e sem verba destoa da delegação do país
Seleção, que enfrenta amanhã a Alemanha, é antítese do conjunto dos brasileiros em Pequim
BRASIL
Estréia. Horário: 6h TV: Bandsports, ESPN Brasil, Globo e Sportv, ao vivo
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SHENYANG
Bárbara é recém-saída da
adolescência, nordestina, está
desempregada e nunca recebeu
um tostão do cerca de R$ 1,2 bilhão que o governo federal e
suas estatais despejaram no esporte brasileiro para o ciclo
olímpico antes de Pequim.
E a goleira não é caso isolado
na seleção feminina de futebol
do Brasil, que abre amanhã, às
6h, contra a Alemanha, em
Shenyang, a participação do
país na Olimpíada chinesa.
Sem dinheiro da Lei Piva, e
com investimento pequeno da
CBF (Confederação Brasileira
de Futebol), as mulheres do futebol são a antítese do grosso da
delegação recorde de 277 atletas montada pelo COB (Comitê
Olímpico Brasileiro).
O Brasil gastou muito dinheiro para ir a Pequim com praticamente o dobro de veteranos
(competidores que já passaram
dos 30) -a maioria deles, grandes azarões- do que novatos
promissores (com no máximo
20 anos). Também não foi capaz de levar esporte de alto rendimento para as regiões mais
pobres, como o Nordeste -só
12,6% dos atletas são de lá.
Tudo ao contrário do que o
miserável futebol das mulheres
conseguiu fazer.
O elenco convocado pelo técnico Jorge Barcellos tem, além
de Bárbara, 20 anos completados no mês passado, outras três
jogadoras com no máximo essa
idade. O número de trintonas é
só um pouco maior (cinco). E as
principais estrelas também são
bem jovens -Marta, por exemplo, tem somente 22 anos.
São cinco nordestinas, ou
28% do grupo, o que significa
participação igual à da região
na população do país. A pernambucana Bárbara e colegas
de time mostram que pouco dinheiro e falta de estrutura não
são barreira intransponível para a formação de talentos, como
muitas vezes prega o COB.
A goleira, descoberta pelo supervisor Paulo Dutra em uma
peneira em Recife, onde nasceu, está sem clube desde o ano
passado. Só jogou desde então
quando serviu a seleção.
"Só me mantenho na academia, por conta própria. Faz falta jogar, mas não tem quem me
treine", lamenta ela, que começou a jogar bola com o pai, que
foi jogador profissional.
"Ele era do Íbis quando o clube era o pior do mundo", diz ela
sobre a passagem do pai, de
quem se afastou a partir do início da adolescência, pelo folclórico clube da cidade de Olinda.
Para se manter, a goleira só
conta com uma bolsa de R$
1.500 mensais, fornecida pelo
governo de Pernambuco.
Com programas federais, como Bolsa-Atleta, ela ainda não
foi beneficiada. "Dei entrada na
papelada no final de junho, mas
ainda não tive resposta."
A atacante Fabiana, que ontem completou 19 anos, é outra
nordestina (nasceu em Salvador) que driblou as dificuldades
para ser atleta olímpica sem
apoio de governo federal e cartolas do esporte.
"Comecei jogando numa escolinha de futebol masculino.
Só joguei no feminino quando
fui para o Rio, com 15 anos, indicada por um empresário. Fiquei sem receber nada, meus
pais bancaram tudo. Morei um
ano e meio na casa do treinador. Tinha parentes no Rio,
mas não podia incomodar. Demorei anos para ganhar algum
dinheiro", diz Fabiana, outra
que nunca foi agraciada com o
Bolsa-Atleta do governo Lula.
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