São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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FUTEBOL

Time jovem e sem verba destoa da delegação do país

Seleção, que enfrenta amanhã a Alemanha, é antítese do conjunto dos brasileiros em Pequim

BRASIL
Estréia. Horário: 6h TV: Bandsports, ESPN Brasil, Globo e Sportv, ao vivo

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SHENYANG

Bárbara é recém-saída da adolescência, nordestina, está desempregada e nunca recebeu um tostão do cerca de R$ 1,2 bilhão que o governo federal e suas estatais despejaram no esporte brasileiro para o ciclo olímpico antes de Pequim.
E a goleira não é caso isolado na seleção feminina de futebol do Brasil, que abre amanhã, às 6h, contra a Alemanha, em Shenyang, a participação do país na Olimpíada chinesa.
Sem dinheiro da Lei Piva, e com investimento pequeno da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), as mulheres do futebol são a antítese do grosso da delegação recorde de 277 atletas montada pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
O Brasil gastou muito dinheiro para ir a Pequim com praticamente o dobro de veteranos (competidores que já passaram dos 30) -a maioria deles, grandes azarões- do que novatos promissores (com no máximo 20 anos). Também não foi capaz de levar esporte de alto rendimento para as regiões mais pobres, como o Nordeste -só 12,6% dos atletas são de lá.
Tudo ao contrário do que o miserável futebol das mulheres conseguiu fazer.
O elenco convocado pelo técnico Jorge Barcellos tem, além de Bárbara, 20 anos completados no mês passado, outras três jogadoras com no máximo essa idade. O número de trintonas é só um pouco maior (cinco). E as principais estrelas também são bem jovens -Marta, por exemplo, tem somente 22 anos.
São cinco nordestinas, ou 28% do grupo, o que significa participação igual à da região na população do país. A pernambucana Bárbara e colegas de time mostram que pouco dinheiro e falta de estrutura não são barreira intransponível para a formação de talentos, como muitas vezes prega o COB.
A goleira, descoberta pelo supervisor Paulo Dutra em uma peneira em Recife, onde nasceu, está sem clube desde o ano passado. Só jogou desde então quando serviu a seleção.
"Só me mantenho na academia, por conta própria. Faz falta jogar, mas não tem quem me treine", lamenta ela, que começou a jogar bola com o pai, que foi jogador profissional.
"Ele era do Íbis quando o clube era o pior do mundo", diz ela sobre a passagem do pai, de quem se afastou a partir do início da adolescência, pelo folclórico clube da cidade de Olinda.
Para se manter, a goleira só conta com uma bolsa de R$ 1.500 mensais, fornecida pelo governo de Pernambuco.
Com programas federais, como Bolsa-Atleta, ela ainda não foi beneficiada. "Dei entrada na papelada no final de junho, mas ainda não tive resposta."
A atacante Fabiana, que ontem completou 19 anos, é outra nordestina (nasceu em Salvador) que driblou as dificuldades para ser atleta olímpica sem apoio de governo federal e cartolas do esporte.
"Comecei jogando numa escolinha de futebol masculino. Só joguei no feminino quando fui para o Rio, com 15 anos, indicada por um empresário. Fiquei sem receber nada, meus pais bancaram tudo. Morei um ano e meio na casa do treinador. Tinha parentes no Rio, mas não podia incomodar. Demorei anos para ganhar algum dinheiro", diz Fabiana, outra que nunca foi agraciada com o Bolsa-Atleta do governo Lula.


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