São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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GUERRA FRIA

EUA >> SÉRGIO DÁVILA

Velhos namorados

NO VALE DO SILÍCIO , pais milionários da revolução do pontocom matriculam seus filhos apenas em escolas que ofereçam aulas de mandarim -a maioria dos moleques ainda nem nasceu. Num comercial de celular, um funcionário de uma multinacional americana treina sua pronúncia para cumprimentar o empresário chinês com quem vai almoçar.
Ao mesmo tempo, cresce aqui o movimento "China Free" (sem China), de pessoas que só consomem produtos que não tenham sido fabricados ou cultivados ou criados lá.
Não é fácil. Seus seguidores têm de levar uma vida quase tão monástica quanto a dos que só comem alimentos crus -afinal, 16,9% de tudo o que os EUA importam vêm daquele país, o primeiro colocado mundial entre os vendedores de produtos para os gringos, segundo o "World Factbook", da CIA.
É nesse fio da navalha entre ódio e dependência que a relação dos dois países caminha, como a de um velho casal de namorados que calculasse a cada dia o esforço da separação e o conforto da continuidade e decidisse que é melhor sofrer junto do que ser feliz sozinho.
O americano médio suspeita que o chinês rouba seus empregos ou pelo menos faz seu salário diminuir. O americano mais instruído sabe que seu país é refém econômico daquele que é o segundo maior detentor de títulos do Tesouro dos EUA, meio trilhão de dólares, atrás apenas do Japão.
Como acontece com velhos parceiros, também, há lugar para tiradas bem-humoradas. "Vocês estão animados com a Olimpíada? Bem, a animação está no ar -assim como o chumbo, o zinco, o arsênico, o benzeno e o dióxido de enxofre", brinca o apresentador David Letterman na TV, referindo-se à poluição de Pequim.
Você está animado com as Olimpíadas? Este colunista está, e suspeita que seu colega ao lado também. Mas eu não terei de respirar o ar de Pequim...


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