São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Em busca da paciência perdida

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Depois do baile que o Corinthians levou do Atlético-PR no Pacaembu, é fácil imaginar o comentário mais ouvido no estádio: "Com esse time, a Libertadores já era". Mas essa é uma análise muito precipitada. Cansamos de ver times desacreditados se recuperarem de tal maneira que, ao final da temporada, ninguém mais se lembrava do começo cambaleante (alguém aí falou em seleção brasileira?).
O próprio Corinthians de Parreira, o time mais bem-sucedido do semestre passado, com um título regional (Rio-São Paulo) e um nacional (Copa do Brasil), começou o ano sem inspirar confiança na torcida. O ceticismo atingia primeiro o técnico, que "nunca fez nada em clube" (corintiano nenhum achava que ganhar a Série C com o Flu servia como credencial) e passava tanto por Doni, o vilão do momento, quanto por Dida ("inseguro, calado demais, sai mal do gol") e por quase todo mundo até chegar a Deivid, que era "uma invenção do Luxemburgo".
O temor inicial em relação ao técnico -de que ele fosse retranqueiro- logo se transformou em acusação oposta: seu esquema com três atacantes deixava o time "muito vulnerável". A torcida se queixava da falta de um matador para o lugar do Luizão e de um meia-atacante como Marcelinho, capaz de desequilibrar o jogo em um lance atrevido; pedia jogadores mais experientes para o meio-campo e mudanças na zaga.
Quando o Corinthians jogava "completo", quer dizer, com todos os remanescentes do Mundial de 2000, também decepcionava -foi assim no 2 a 2 contra o Etti pelo Rio-São Paulo, quando "Dida, Vampeta, Ricardinho e Luizão voltaram a jogar juntos, sem brilho". Mais tarde, já com Leandro efetivado entre os titulares, um diagnóstico era repetido muitas vezes: "Faltou objetividade e criatividade na hora de decidir".
Parecia um problema insolúvel, até que dois bons triângulos se formaram -Kléber-Gil-Ricardinho de um lado, Leandro-Rogério-Deivid pelo outro- e, com talento e confiança, confundiram e desmontaram defesas adversárias. Vampeta e Fabrício apareciam bem no apoio e protegiam a zaga, que acabou se acertando com os ex-reservas Fábio Luciano e Anderson, e o Corinthians levou duas taças e uma vaga.
Isso significa que os problemas do time desapareceram? Não. De fato, muitas vezes faltava objetividade na hora de decidir. Parreira lembra que Ricardinho faz falta agora porque "deixava o pessoal na cara do gol", mas o Corinthians vivia fazendo jogadas maravilhosas na área adversária que nem sequer terminavam em finalização. Esse defeito continua -Gil é muito habilidoso, mas é irritantemente ineficaz em alguns jogos. Deivid luta o tempo todo, mas acaba ficando longe demais da área (e do gol). Leandro some às vezes, e Rogério e Kléber nem sempre se oferecem no ataque.
Vampeta e Fabrício têm dias de cão, em que falham na marcação e erram muitos passes, tanto quanto têm momentos brilhantes, com lançamentos perfeitos e bons desarmes. Com o tempo, saberemos o que vai prevalecer.
O time do primeiro semestre não era perfeito, mas teve uma fase excelente. Pode não ser um forte candidato ao título, mas talvez não esteja condenado à mediocridade. Vamos ver se a proverbial paciência já demonstrada em campo será adotada mais uma vez -pelos jogadores, dirigentes e torcedores.

Ex-traidor?
Será que os torcedores que agora pedem a volta do Marcelinho não o chamaram de "traidor" quando ele brigou com o clube para jogar no Santos? Na época, procurei entender os dois lados. O Corinthians tinha lá seus motivos para afastá-lo, mas não queria abrir mão dele de graça. E o jogador não queria ficar encostado, treinando sem jogar, e por isso procurou outro time. Um direito -o de trabalhar- que não lhe deveria ser negado. Mas os corintianos não queriam nem saber... Talvez os mesmos que pedem a sua volta, dizendo que ele, sim, era "fiel".

Baixa mobilidade
Embora tenha ficado quatro anos no Corinthians, Ricardinho é citado como símbolo da "falta de identificação" e "excesso de mobilidade" dos craques de hoje. Acho que ele está mais para exceção...

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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