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FUTEBOL
Em busca da paciência perdida
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Depois do baile que o Corinthians levou do Atlético-PR
no Pacaembu, é fácil imaginar o
comentário mais ouvido no estádio: "Com esse time, a Libertadores já era". Mas essa é uma análise muito precipitada. Cansamos
de ver times desacreditados se recuperarem de tal maneira que, ao
final da temporada, ninguém
mais se lembrava do começo
cambaleante (alguém aí falou em
seleção brasileira?).
O próprio Corinthians de Parreira, o time mais bem-sucedido
do semestre passado, com um título regional (Rio-São Paulo) e
um nacional (Copa do Brasil), começou o ano sem inspirar confiança na torcida. O ceticismo
atingia primeiro o técnico, que
"nunca fez nada em clube" (corintiano nenhum achava que ganhar a Série C com o Flu servia
como credencial) e passava tanto
por Doni, o vilão do momento,
quanto por Dida ("inseguro, calado demais, sai mal do gol") e por
quase todo mundo até chegar a
Deivid, que era "uma invenção
do Luxemburgo".
O temor inicial em relação ao
técnico -de que ele fosse retranqueiro- logo se transformou em
acusação oposta: seu esquema
com três atacantes deixava o time
"muito vulnerável". A torcida se
queixava da falta de um matador
para o lugar do Luizão e de um
meia-atacante como Marcelinho,
capaz de desequilibrar o jogo em
um lance atrevido; pedia jogadores mais experientes para o meio-campo e mudanças na zaga.
Quando o Corinthians jogava
"completo", quer dizer, com todos
os remanescentes do Mundial de
2000, também decepcionava
-foi assim no 2 a 2 contra o Etti
pelo Rio-São Paulo, quando "Dida, Vampeta, Ricardinho e Luizão voltaram a jogar juntos, sem
brilho". Mais tarde, já com Leandro efetivado entre os titulares,
um diagnóstico era repetido muitas vezes: "Faltou objetividade e
criatividade na hora de decidir".
Parecia um problema insolúvel,
até que dois bons triângulos se
formaram -Kléber-Gil-Ricardinho de um lado, Leandro-Rogério-Deivid pelo outro- e, com talento e confiança, confundiram e
desmontaram defesas adversárias. Vampeta e Fabrício apareciam bem no apoio e protegiam a
zaga, que acabou se acertando
com os ex-reservas Fábio Luciano
e Anderson, e o Corinthians levou
duas taças e uma vaga.
Isso significa que os problemas
do time desapareceram? Não. De
fato, muitas vezes faltava objetividade na hora de decidir. Parreira lembra que Ricardinho faz falta agora porque "deixava o pessoal na cara do gol", mas o Corinthians vivia fazendo jogadas maravilhosas na área adversária que
nem sequer terminavam em finalização. Esse defeito continua
-Gil é muito habilidoso, mas é
irritantemente ineficaz em alguns
jogos. Deivid luta o tempo todo,
mas acaba ficando longe demais
da área (e do gol). Leandro some
às vezes, e Rogério e Kléber nem
sempre se oferecem no ataque.
Vampeta e Fabrício têm dias de
cão, em que falham na marcação
e erram muitos passes, tanto
quanto têm momentos brilhantes, com lançamentos perfeitos e
bons desarmes. Com o tempo, saberemos o que vai prevalecer.
O time do primeiro semestre
não era perfeito, mas teve uma fase excelente. Pode não ser um forte candidato ao título, mas talvez
não esteja condenado à mediocridade. Vamos ver se a proverbial
paciência já demonstrada em
campo será adotada mais uma
vez -pelos jogadores, dirigentes
e torcedores.
Ex-traidor?
Será que os torcedores que
agora pedem a volta do Marcelinho não o chamaram de
"traidor" quando ele brigou
com o clube para jogar no
Santos? Na época, procurei
entender os dois lados. O Corinthians tinha lá seus motivos para afastá-lo, mas não queria abrir mão dele de graça. E o jogador não queria ficar encostado, treinando sem
jogar, e por isso procurou outro time. Um direito -o de
trabalhar- que não lhe deveria ser negado. Mas os corintianos não queriam nem
saber... Talvez os mesmos
que pedem a sua volta, dizendo que ele, sim, era "fiel".
Baixa mobilidade
Embora tenha ficado quatro
anos no Corinthians, Ricardinho é citado como símbolo
da "falta de identificação" e
"excesso de mobilidade" dos
craques de hoje. Acho que ele
está mais para exceção...
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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