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FUTEBOL
Júlio Cesar deixou o país aos 16 anos, passou por Honduras e virou titular no time campeão mundial
Real Madrid revela zagueiro brasileiro
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
Um zagueiro que jamais atuou
por uma equipe profissional no
Brasil, grande ou pequena, é a
grande revelação brasileira do futebol europeu.
Há 45 dias no Real Madrid, da
Espanha, atual campeão mundial
de clubes, Júlio Cesar Santos Correa, 21 anos a completar em novembro e desde os 16 fora do país,
conseguiu o posto de titular num
time com tantos astros que o meia
holandês Seedorf e o atacante brasileiro Sávio são reservas, e o brasileiro Rodrigo Fabri acabou sendo emprestado.
Na pré-temporada, o zagueiro
fez o primeiro jogo na reserva,
mas logo conquistou a confiança
do técnico galês John Toschak e
conquistou a posição, que tem
conservado nas últimas nove partidas, inclusive duas do Campeonato Espanhol 1999/2000.
Filho de um mestre-de-obras
que mantinha a família com dificuldades, Júlio Cesar nasceu e começou a jogar em São Luís (MA),
a porta de saída dos jogadores
sem horizontes, uma espécie de
Governador Valadares do futebol.
Em vez de ir para a Bélgica, como Oliveira (jogador-símbolo
maranhense), Júlio Cesar foi para
outro país latino-americano, o
México. ""Disputei um torneio
amador lá. Fomos campeões. O
vice-presidente do América do
México me viu e me chamou."
O irmão mais velho não o queria deixar partir. Mas acabou cedendo ao apelo de Júlio Cesar.
Conseguiu apenas que o clube
concordasse em levar também os
pais. ""Eu e meus pais fomos morar numa casa-pensão com outro
jogador do América, que era de
Camarões."
Júlio Cesar não ganhava salário,
apenas uma ajuda para se manter.
Treinava com os profissionais,
mas jogava com os juniores na
equipe B do time na terceira divisão. E assim foi um ano, sob o comando do holandês Leo Benhakker e do croata Mirko Jozic."
No começo de 1996, sua carreira
começou a mudar, para pior. O
novo técnico do América, o argentino Marcelo Bielsa, o vetou
na equipe principal. ""Ele disse
que eu não servia, que não tinha
qualidade."
O clube o emprestou ao minúsculo Maratón de San Pedro Sula,
em Honduras. Foi tão bem que,
no meio do ano, largou o time nas
semifinais do Nacional para atender a um convite da Sampdoria
(Itália) para fazer um teste.
Júlio Cesar foi, mas não ficou.
Segundo ele, foi aprovado, mas os
mexicanos pediram alto demais
por seu passe. Quando ia voltar ao
México, conseguiu um teste no
Valladolid, um clube modesto da
primeira divisão espanhola.
Houve acordo, e ele assinou por
seis anos. O Valladolid pagou US$
700 mil, com cláusula rescisória
de US$ 13 milhões.
Lá, jogou ao lado do brasileiro
Edu (que no final dos anos 80 foi
destaque do Palmeiras) e já pensava no próximo passo. ""Encarei
o Valladolid desde o começo como um trampolim para um clube
grande", disse o zagueiro, sobre a
estratégia de muitos jogadores
que dá certo apenas para poucos.
Na metade do contrato, veio o
Real. Para ficar com o zagueiro e
não ter que pagar a multa, o clube
madrileno negociou um acordo:
US$ 2 milhões em dinheiro, mais
um jogador em definitivo (o zagueiro Tena) e outro por empréstimo (o atacante colombiano
Congo, revelação da Copa América). E ainda ficou com o compromisso de emprestar mais um, que
acabou sendo Rodrigo Fabri.
Apesar do sonho de criança de
jogar num grande clube do Brasil
(""de preferência o Flamengo, que
era o meu time"), Júlio Cesar não
pensa em fazer isso já e não tem
ilusão sobre sua trajetória. "Minha carreira começou agora."
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