São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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FUTEBOL
Júlio Cesar deixou o país aos 16 anos, passou por Honduras e virou titular no time campeão mundial
Real Madrid revela zagueiro brasileiro

MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

Um zagueiro que jamais atuou por uma equipe profissional no Brasil, grande ou pequena, é a grande revelação brasileira do futebol europeu.
Há 45 dias no Real Madrid, da Espanha, atual campeão mundial de clubes, Júlio Cesar Santos Correa, 21 anos a completar em novembro e desde os 16 fora do país, conseguiu o posto de titular num time com tantos astros que o meia holandês Seedorf e o atacante brasileiro Sávio são reservas, e o brasileiro Rodrigo Fabri acabou sendo emprestado.
Na pré-temporada, o zagueiro fez o primeiro jogo na reserva, mas logo conquistou a confiança do técnico galês John Toschak e conquistou a posição, que tem conservado nas últimas nove partidas, inclusive duas do Campeonato Espanhol 1999/2000.
Filho de um mestre-de-obras que mantinha a família com dificuldades, Júlio Cesar nasceu e começou a jogar em São Luís (MA), a porta de saída dos jogadores sem horizontes, uma espécie de Governador Valadares do futebol.
Em vez de ir para a Bélgica, como Oliveira (jogador-símbolo maranhense), Júlio Cesar foi para outro país latino-americano, o México. ""Disputei um torneio amador lá. Fomos campeões. O vice-presidente do América do México me viu e me chamou."
O irmão mais velho não o queria deixar partir. Mas acabou cedendo ao apelo de Júlio Cesar. Conseguiu apenas que o clube concordasse em levar também os pais. ""Eu e meus pais fomos morar numa casa-pensão com outro jogador do América, que era de Camarões."
Júlio Cesar não ganhava salário, apenas uma ajuda para se manter. Treinava com os profissionais, mas jogava com os juniores na equipe B do time na terceira divisão. E assim foi um ano, sob o comando do holandês Leo Benhakker e do croata Mirko Jozic."
No começo de 1996, sua carreira começou a mudar, para pior. O novo técnico do América, o argentino Marcelo Bielsa, o vetou na equipe principal. ""Ele disse que eu não servia, que não tinha qualidade."
O clube o emprestou ao minúsculo Maratón de San Pedro Sula, em Honduras. Foi tão bem que, no meio do ano, largou o time nas semifinais do Nacional para atender a um convite da Sampdoria (Itália) para fazer um teste.
Júlio Cesar foi, mas não ficou. Segundo ele, foi aprovado, mas os mexicanos pediram alto demais por seu passe. Quando ia voltar ao México, conseguiu um teste no Valladolid, um clube modesto da primeira divisão espanhola.
Houve acordo, e ele assinou por seis anos. O Valladolid pagou US$ 700 mil, com cláusula rescisória de US$ 13 milhões.
Lá, jogou ao lado do brasileiro Edu (que no final dos anos 80 foi destaque do Palmeiras) e já pensava no próximo passo. ""Encarei o Valladolid desde o começo como um trampolim para um clube grande", disse o zagueiro, sobre a estratégia de muitos jogadores que dá certo apenas para poucos.
Na metade do contrato, veio o Real. Para ficar com o zagueiro e não ter que pagar a multa, o clube madrileno negociou um acordo: US$ 2 milhões em dinheiro, mais um jogador em definitivo (o zagueiro Tena) e outro por empréstimo (o atacante colombiano Congo, revelação da Copa América). E ainda ficou com o compromisso de emprestar mais um, que acabou sendo Rodrigo Fabri.
Apesar do sonho de criança de jogar num grande clube do Brasil (""de preferência o Flamengo, que era o meu time"), Júlio Cesar não pensa em fazer isso já e não tem ilusão sobre sua trajetória. "Minha carreira começou agora."


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