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FÁBIO SEIXAS
0,12%
Em um universo de 804 homens e mulheres que já tentaram a F-1, Hamilton caminha para se tornar único
SEIS. O número não sai da cabeça, não pára de martelar desde
Monte Fuji. Seis. Seis. Seis...
Desde 13 de maio de 1950 -um sábado, para não atrapalhar a missa
dominical em Northamptonshire-,
804 seres humanos tentaram correr
na F-1. Desses, 304 pontuaram, o
equivalente a 38%. O funil das vitórias é mais estreito: 98 chegaram lá,
ou 12%. Quer mais? Bem, 28 sujeitos, ou 3,5% do total, atingiram o
ápice, foram campeões mundiais.
E nove venceram um GP no ano
em que estrearam na F-1. Apenas
nove, ou 1,12% dos homens e mulheres que já entraram num cockpit.
Descontemos a aberração estatística do primeiro Mundial, em que
todos eram "estreantes" apesar de
anos de janela. A marca cai para sete.
Deixemos Hamilton de lado por um
instante e chegamos a seis. Seis.
O seis que martela na cabeça porque talvez ilustre, como nenhum
outro número, a dimensão da história que está prestes a ser escrita.
Em 56 temporadas, de 1951 até a
chegada do inglês, só seis pilotos
venceram um GP no ano de estréia.
E ele vai ganhar um campeonato...
Até o início deste Mundial, vencer
corridas era a façanha máxima, o
céu, o paradigma para um novato.
"Estou extasiado. Ganhar uma
prova no ano de estréia é demais",
disse Montoya, em Monza-2001.
Desde então, o colombiano acumulou polêmicas e quilos, foi chutado
da McLaren, ajeitou-se na Nascar.
Cinco anos antes dele, Villeneuve
havia sido o último a conseguir o feito. E com classe: quatro vitórias em
1996, mesma marca de Hamilton
hoje. O canadense conquistaria o título no ano seguinte, para então entrar em parafuso. Pela Williams
mesmo e depois por BAR, Renault,
Sauber e BMW, nunca mais foi o
mesmo. Foi chutado pela última e
hoje, adivinha, corre na Nascar.
Para buscar os próximos antecessores, é preciso um salto: Emerson e
Regazzoni, em 1970, venceram um
GP cada um. O brasileiro tornou-se
bicampeão, um dos grandes. Regazzoni rateou, bateu na trave, não virou. Antes, Stewart. Venceu em
Monza, em 1965, para depois ser tricampeão, também um dos grandes.
O sexto (ou o primeiro) da lista,
Baghetti. Quem? Giancarlo Baghetti. Talvez o maior sortudo da história
da F-1: em 1961, caiu de pára-quedas
num carro da Ferrari às vésperas do
GP da França, viu todo mundo quebrar e venceu. É até hoje o único a
ganhar a corrida de estréia. Foi chamado de gênio, mas, depois disso,
nada fez: correu mais 20 GPs e o máximo que conseguiu foi um quinto
lugar. Deixou a categoria em 1967,
mas seguiu com a sorte ao seu lado:
tornou-se fotógrafo da "Playboy".
Vencer GP no ano de estréia, portanto, não é exatamente garantia de
sucesso. Mas Hamilton está um
grande degrau acima... Deve se tornar o primeiro da história a ir além e
conquistar o Mundial como novato.
Um indivíduo num universo de
804. Ou 0,12%. Uma exceção. Uma
especial e brilhante exceção.
fseixas@folhasp.com.br
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