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FUTEBOL
Quem é que vai pagar por isso?
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Parece sem sentido a discussão sobre o que seria mais
importante: descobrir eventuais
culpas pela morte de Serginho ou
estabelecer programas de primeiros socorros nos estádios e de prevenção de doenças coronarianas
nos atletas. A velha sacada daquele alemão pioneiro -Hegel,
não Marx- ensina: "A questão é
dialética".
Ou seja: uma investigação indigna do nome não vai incentivar
a mudança nos procedimentos
médicos. Assim como a apuração
escrupulosa sobre o que se passou
com o zagueiro pode contribuir
para que se tomem as medidas de
precaução que a compostura recomenda. No popular: as coisas se
misturam.
Há posturas a destacar. Positivas: a decisão do Incor de não divulgar sem autorização o resultado dos exames de Serginho; e a
dos médicos do São Paulo de falar
pacientemente sobre o atendimento no Morumbi, mesmo bombardeados por quem não difere
uma gaze de um "band-aid".
Negativas: a afirmação inicial
do presidente do São Caetano de
que não havia problema cardíaco
(havia, e dele Serginho morreu); o
veto a que atletas se manifestassem; o sumiço do médico do clube, Paulo Forte, e sua versão posterior de que o Incor não informara sobre a gravidade do caso.
Como revelou o repórter Fábio
Victor, o ortopedista e o jogador
foram avisados de que "a situação clínica era incompatível com
a atividade profissional".
O mero diagnóstico de arritmia
talvez exigisse outro comportamento. O Atlético-PR tem um
atacante cardiopata. O clube leva
sempre equipamento específico
de emergência perto dele, inclusive no campo (o São Caetano não
levava). Promove baterias bimestrais de testes (os últimos de Serginho tinham quatro meses). Dois
médicos assinam a autorização
de jogo, assumem a responsabilidade. A única obrigação de Washington é cumprir a prescrição
dos doutores.
E o papel de Serginho? Ninguém
pode ser obrigado a parar de beber ou de se drogar. Mesmo que
esses hábitos levem à morte.
Um hospital, contudo, tem o
dever de impedir que um alcoólatra ingira álcool por conta própria e que um dependente químico consuma os remédios que bem
entender. Se não controlar os pacientes, pode ser condenado por
negligência.
Um funcionário de usina nuclear se submeter por sua vontade
a níveis excessivos de radiação,
por inexistência de outro emprego, poderia ser assunto do funcionário. Mas a usina não tem o direito de expor o trabalhador a tal
risco.
Uma coisa é o atleta se dispor a
arriscar a vida em troca de um
pé-de-meia mais gordo antes de
pendurar as chuteiras. Outra é o
clube se associar a essa aventura.
Uma coisa é a insegurança humana com o futuro. Outra, o desprezo pela vida alheia. Aqui, as
coisas não se misturam. Não custa sublinhar: ainda se desconhece
qual foi ao certo a atitude do São
Caetano. Em qualquer hipótese, a
opção de Serginho não é álibi para ninguém.
4 a 2
O abalo do São Caetano pesou
para a vitória são-paulina, em
meia hora. Mas é impossível
não pensar: como o futebol seria melhor se os times jogassem
desde o início para vencer.
Roleta-russa
Os corintianos que aprovam o
acordo com a MSI não têm a
mínima idéia do que ocorrerá
com o clube. Nem os que se
opõem.
Elegância
Do bi Nilton Santos, na Uerj,
conforme testemunho do professor Emir Sader: "Só tirei as
amígdalas. Meniscos, tenho os
quatro, porque nunca dava carrinho. Quem mais gostava de
mim no Botafogo era a lavadeira, porque no fim do jogo meu
uniforme estava limpinho".
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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