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Esporte gera dinheiro, mas não ganha atenção
Apesar de ver seu PIB decolar nos últimos dez anos, setor segue subaproveitado
Para especialistas, Brasil desperdiça força econômica emergente por direcionar mal seus recursos e não enxergar potencial da área
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Radiografar o papel do setor esportivo na
economia brasileira nunca foi tarefa fácil.
Afinal, não existe nem consenso entre entidades como Ministério do Esporte, Comitê Olímpico Brasileiro e IBGE sobre quais modalidades são consideradas, de fato, esporte. Um estudo
inédito produzido pelo instituto Ipsos Marplan, porém, compilou dados referentes às riquezas produzidas por indústria, comércio, impostos, salários e diversos serviços ligados direta e indiretamente ao setor. O resultado mostra que tal atividade econômica
cresceu acima da média brasileira nos últimos dez
anos. Um cenário surpreendente, mas que, segundo
especialistas, ainda é subaproveitado no país.
Um setor que cresce com impressionante vitalidade, gera
dinheiro, atrai a população,
mas não valoriza nem investe
em quem vive de seu sucesso.
Analisado como atividade
econômica, o esporte no Brasil
é retratado assim no inédito estudo produzido com dados da
Fundação Getúlio Vargas e
compilados pelo Ipsos Marplan. A pesquisa, patrocinada
pelo Sportv, revela que o impulso econômico proporcionado
pela prática de modalidades somado às atividades de produção, comércio e serviços ligados
direta ou indiretamente ao esporte movimentaram R$ 37,1
bilhões em 2005, valor correspondente a 1,95% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
Não se trata de uma explosão
circunscrita apenas ao ano passado. O incremento do setor é
progressivo e constante.
De 1995 a 2005, o PIB esportivo cresceu 10,86% por ano.
No mesmo período, o PIB nacional aumentou, em média,
3,2 % a cada 12 meses.
"É um potencial notável, que,
acredito, não está vinculado a
políticas ou projetos públicos
de incentivo a longo prazo.
Acho que a população assimilou a informação de que esporte faz bem e significa saúde",
diz Istvan Kasznar, PhD em administração pela California
Coast University (EUA) e coordenador da pesquisa.
O cenário parece inspirar
apenas otimismo. Segundo especialistas, contudo, a distribuição dos valores revela um
país que ainda não aproveita o
que o esporte pode oferecer.
"Nosso PIB esportivo é alavancado principalmente pelas
atividades de varejo, e não pela
venda de ingressos, pela receita
dos clubes, pelo salário dos
atletas, como nos países desenvolvidos. Isso significa que temos um bom mercado, mas o
dinheiro não chega para quem
faz e vive o esporte. Investimos
mal, e o recurso não alcança
quem deveria alcançar", argumenta Amir Somoggi, consultor em marketing esportivo.
Diagnósticos semelhantes
foram feitos pela equipe que
elaborou a pesquisa. Já que o
esporte gera tanta riqueza e
cresce com vigor, os pesquisadores resolveram averiguar como o Planalto, os Estados e os
municípios encaram o setor.
De acordo com o estudo, o
Ministério do Esporte utilizou
0,087% do valor arrecadado em
nível federal no ano de 2004.
Desse total, 53% acabaram despendidos em burocracia (gastos com pessoal, gestão, encargos) e apenas 47% chegaram
aos programas de fomento. A
pasta, porém, contesta os percentuais apresentados.
A situação não muda nos 26
Estados, mais o Distrito Federal, nem nos 5.567 municípios
esquadrinhados.
"Creio que gasta-se pouco e
muito mal. Existe falta de atenção para o potencial do setor.
Pelos valores que movimenta, o
esporte merecia ter no Brasil
uma estrutura mais rica, com
forte apoio da iniciativa privada, e todos os profissionais envolvidos poderiam ser mais valorizados", opina Gesner Oliveira, doutor em economia pela
Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV e
presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia.
Os salários dos esportistas
aquecem o debate. Kasznar explica que a defasagem em relação aos grandes centros não
aparece mais só no futebol.
Os ídolos, assim, tão importantes para incentivar a prática
de modalidades no país, acabam saindo cada vez mais cedo.
"No vôlei, os salários médios de
atletas de alto desempenho oscilaram entre R$ 9 mil e R$ 23
mil em 2004. No mesmo ano,
os atletas brasileiros que atuavam na Itália recebiam, em média, US$ 41,2 mil mensais", diz.
O trabalho analisa outro fato
que diferencia o Brasil em relação aos principais mercados: o
investimento privado no esporte. O texto conclui que empresas interessadas em aplicar
recursos em patrocínio ou marketing no Brasil não recebem
contrapartida para as taxas de
juros e para uma carga fiscal
que supera os 37% do PIB.
"Devemos mudar bastante se
quisermos aproveitar nosso
potencial. Esporte não pode ser
uma questão lateral, mas sim
ocupar um plano central na estratégia de desenvolvimento do
país", afirma Gesner Oliveira.
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