São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Kia diz que clube vivia na "Idade da Pedra"

Para ele, queda é "tragédia que se abateu sobre nós"

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele chegou ao Brasil, em 2004, com a proposta de uma parceria milionária debaixo do braço. Conseguiu emplacá-la no Corinthians, a quem iria transformar no clube número um da América do Sul. Agora, longe do clube e de seus problemas, Kia Joorabchian afirmou que tem se sentido "mal, muito mal" com o rebaixamento do time para a Série B do Brasileiro.
O iraniano, ex-presidente da MSI, afirmou em entrevista à Folha que o Corinthians, antes da chegada da parceira, vivia na "Idade da Pedra".
A queda para a segunda divisão foi classificada por Kia como um "desastre inacreditável, uma coisa que pensei que nunca pudesse acontecer". Ele diz ter sentido muito o ocorrido.
"Parecia-me impossível. Senti por mim, mas senti demais, também, pelos torcedores, pelos atuais diretores e pelos jogadores. Passei 18 meses lutando e dando tudo de mim, com profissionalismo e amor, para tornar o Corinthians um dos melhores clubes do futebol internacional. Defendia a contratação de grandes jogadores, dos melhores profissionais, de gente com visão nova", disse.
Kia, entretanto, não respondeu diretamente de quem foi a culpa pela queda.
Ele alega ter conseguido triplicar receitas do departamento de futebol enquanto atuou ativamente no clube. Não citou, no entanto, as despesas causadas pelo acordo com a MSI. Relatório produzido pelo Corinthians apontou aumento em diversos setores.
Gastos com funcionários subiram 32%, honorários profissionais, 85%, despesas com telefone, 188%, custos com viagens e estadia, 175%, aluguéis, 216%, e serviços relacionados ao futebol, 130%.
Entre 2004 e 2006, período em que a parceria com a MSI esteve ativa, as receitas corintianas aumentaram 39%, enquanto as despesas cresceram 88% -a inflação no período, diz o documento, foi de 5%.
Kia diz que lutou contra o grupo de Dualib "tentando evitar decisões erradas".
Segundo o iraniano, em 18 meses, ele viu Dualib e seus diretores "encarando o Corinthians como um negócio familiar, não como uma atividade profissional, gastando mal, evitando prestar contas à MSI e tomando decisões totalmente contra os meus princípios, contra tudo aquilo em que eu acreditava, o trabalho foi desfeito."
Kia diz que ainda assiste jogos do time pela TV e pela internet. "Uma coisa que aprendi no Brasil, com nossos torcedores, foi que uma vez Corinthians, sempre Corinthians."
Ele se queixou ainda da forma como os negócios foram conduzidos após ele ter deixado o país, em 2006.
"O que fizeram a partir do momento em que deixei o Corinthians foi totalmente contra meus princípios e decisões. Hostilizaram grandes jogadores, criaram um clima horroroso para forçá-los a sair, contrataram mal sem condições de recuperar o investimento, já que os atletas não tinham bom mercado internacional. Quanto às revelações, foram rapidamente vendidas. Pelo que diz a imprensa, foram preços muito altos, e a dívida continua."
Kia também atribui a Dualib a culpa por ele ter deixado o clube. Segundo ele, os dirigentes corintianos "sempre insistiam em fazer apenas o que queriam" e o projeto montado pela MSI fora atrapalhado.
"Nunca entendi a necessidade de contratar firmas de fora do clube, pagando caro, para trazer contratos que o Corinthians poderia obter diretamente, com seus próprios recursos, ficando com a receita integral que lhe é devida."
Segundo Kia, a "luta" contra os erros de Dualib muitas vezes foi ao lado do atual presidente, Andrés Sanches. "Só espero uma coisa, agora que a tragédia do rebaixamento recaiu sobre nós: que a nova diretoria consiga unir todos os corintianos em volta do clube, reorganizando-o, reestruturando-o, buscando novos caminhos. Que a torcida acompanhe o time sem pressão. Mas com amor", finalizou.


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