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Kia diz que clube vivia na "Idade da Pedra"
Para ele, queda é "tragédia que se abateu sobre nós"
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele chegou ao Brasil, em
2004, com a proposta de uma
parceria milionária debaixo do
braço. Conseguiu emplacá-la
no Corinthians, a quem iria
transformar no clube número
um da América do Sul. Agora,
longe do clube e de seus problemas, Kia Joorabchian afirmou
que tem se sentido "mal, muito
mal" com o rebaixamento do time para a Série B do Brasileiro.
O iraniano, ex-presidente da
MSI, afirmou em entrevista à
Folha que o Corinthians, antes
da chegada da parceira, vivia na
"Idade da Pedra".
A queda para a segunda divisão foi classificada por Kia como um "desastre inacreditável,
uma coisa que pensei que nunca pudesse acontecer". Ele diz
ter sentido muito o ocorrido.
"Parecia-me impossível.
Senti por mim, mas senti demais, também, pelos torcedores, pelos atuais diretores e pelos jogadores. Passei 18 meses
lutando e dando tudo de mim,
com profissionalismo e amor,
para tornar o Corinthians um
dos melhores clubes do futebol
internacional. Defendia a contratação de grandes jogadores,
dos melhores profissionais, de
gente com visão nova", disse.
Kia, entretanto, não respondeu diretamente de quem foi a
culpa pela queda.
Ele alega ter conseguido triplicar receitas do departamento de futebol enquanto atuou
ativamente no clube. Não citou, no entanto, as despesas
causadas pelo acordo com a
MSI. Relatório produzido pelo
Corinthians apontou aumento
em diversos setores.
Gastos com funcionários subiram 32%, honorários profissionais, 85%, despesas com telefone, 188%, custos com viagens e estadia, 175%, aluguéis,
216%, e serviços relacionados
ao futebol, 130%.
Entre 2004 e 2006, período
em que a parceria com a MSI
esteve ativa, as receitas corintianas aumentaram 39%, enquanto as despesas cresceram
88% -a inflação no período,
diz o documento, foi de 5%.
Kia diz que lutou contra o
grupo de Dualib "tentando evitar decisões erradas".
Segundo o iraniano, em 18
meses, ele viu Dualib e seus diretores "encarando o Corinthians como um negócio familiar, não como uma atividade
profissional, gastando mal, evitando prestar contas à MSI e
tomando decisões totalmente
contra os meus princípios, contra tudo aquilo em que eu acreditava, o trabalho foi desfeito."
Kia diz que ainda assiste jogos do time pela TV e pela internet. "Uma coisa que aprendi
no Brasil, com nossos torcedores, foi que uma vez Corinthians, sempre Corinthians."
Ele se queixou ainda da forma como os negócios foram
conduzidos após ele ter deixado o país, em 2006.
"O que fizeram a partir do
momento em que deixei o Corinthians foi totalmente contra
meus princípios e decisões.
Hostilizaram grandes jogadores, criaram um clima horroroso para forçá-los a sair, contrataram mal sem condições de
recuperar o investimento, já
que os atletas não tinham bom
mercado internacional. Quanto às revelações, foram rapidamente vendidas. Pelo que diz a
imprensa, foram preços muito
altos, e a dívida continua."
Kia também atribui a Dualib
a culpa por ele ter deixado o
clube. Segundo ele, os dirigentes corintianos "sempre insistiam em fazer apenas o que
queriam" e o projeto montado
pela MSI fora atrapalhado.
"Nunca entendi a necessidade de contratar firmas de fora
do clube, pagando caro, para
trazer contratos que o Corinthians poderia obter diretamente, com seus próprios recursos, ficando com a receita
integral que lhe é devida."
Segundo Kia, a "luta" contra
os erros de Dualib muitas vezes
foi ao lado do atual presidente,
Andrés Sanches. "Só espero
uma coisa, agora que a tragédia
do rebaixamento recaiu sobre
nós: que a nova diretoria consiga unir todos os corintianos em
volta do clube, reorganizando-o, reestruturando-o, buscando
novos caminhos. Que a torcida
acompanhe o time sem pressão. Mas com amor", finalizou.
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