São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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TOSTÃO

Craques, ídolos e preconceitos


O Brasil tem agora em Kaká, que será eleito o melhor do mundo com justiça, um bom exemplo para a juventude


KAKÁ, QUE já ganhou a Bola de Ouro da revista "France Football", será com justiça escolhido o melhor do ano e do mundo pela Fifa. Cristiano Ronaldo e Messi disputam com o brasileiro. Messi brilhou intensamente somente no segundo semestre.
Como escreveu José Geraldo Couto, Kaká é o mais completo dos três jogadores, Messi, o mais espetacular, e Cristiano Ronaldo, uma mistura dos dois. Para ser um craque como os três, é preciso unir, em proporções variáveis para cada jogador, muita técnica, habilidade, criatividade e ótimas condições físicas e emocionais. O talento é a síntese de tudo isso. Nada disso será suficiente se o craque não atuar em uma grande equipe, organizada e ao lado de excelentes atletas.
Entre tantas virtudes, Kaká se destaca mais pela exuberância física e técnica. Ele atua quase no máximo do possível. Já Messi encanta mais pela habilidade e capacidade de driblar em pequenos e grandes espaços. Ainda não sabemos aonde vai chegar. Cristiano Ronaldo e Kaká levam a vantagem de serem altos e fortes. Cristiano Ronaldo faz também muitos gols de cabeça e de falta.
Os três possuem em comum muita mobilidade e velocidade, características que já eram importantes no passado e que se tornaram mais fundamentais no presente. Talvez esse seja o principal motivo da queda de Ronaldinho. Ele está mais lento, jogando em um pequeno espaço e se limitando a dar excepcionais passes. É pouco.
Se Ronaldinho voltar a jogar como nos dois anos em que foi eleito o melhor do mundo, o que não espero, será ainda superior aos três. Muitos vão discordar por convicção ou porque esqueceram as espetaculares atuações do jogador. Assim é a vida. Os craques surgem, dão seu show e, em um tempo variável, são substituídos. O espetáculo continua.
Rodrigo Bueno escreveu muito bem que Kaká tem ainda que lutar contra o preconceito, por não ter sido pobre, não ser feio nem politicamente incorreto, além de parecer mais um craque europeu do que brasileiro.
Existe também o preconceito inverso. Por causa do comportamento de Romário e de Maradona fora de campo, fui várias vezes patrulhado por elogiar demais as suas qualidades técnicas. Para os patrulheiros, o Brasil tem agora no Kaká, enfim, um bom exemplo para a juventude.
Há ainda em uma mesma pessoa os dois tipos de preconceitos, com Kaká, por ser de uma elite branca, e com Romário, que sempre fez o que quis e que nunca deu bola para o que dizem dele.
O preconceito existe em todos os lugares e, muitas vezes, independe da escolaridade, da vontade e da inteligência. Ele surge, de repente, sem avisar e sem o filtro da consciência. Mesmo pessoas de quem nunca se espera podem demonstrar em algum momento absurdo preconceito. Todos carregamos algum tipo de preconceito. Uns mais, outros menos.
Em qualquer atividade, o craque é especial por sua obra, mesmo sabendo que alguns também sejam pessoas especiais. Esses, além de suas qualidades técnicas, nos influenciam de alguma maneira. São os meus ídolos.

tostao.folha@uol.com.br


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