São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Relatório questiona antidoping do Pan

Documento da Wada, redigido por observadores independentes, constata irregularidades nos controles dos Jogos no Rio

Agência aponta, entre outros erros, despreparo de pessoal, irregularidades na coleta dos exames e série de falhas em laboratório credenciado


ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os controles realizados no Pan do Rio foram postos em xeque por relatório da Wada (Agência Mundial Antidoping).
O texto da entidade foi tornado público na mesma época da maior investigação sobre o tema no Brasil, com o caso da nadadora Rebeca Gusmão, que é invstigado até pela polícia.
Segundo a Wada, houve despreparo de pessoal, irregularidade na coleta e erro de procedimento no laboratório, entre outros equívocos. Uma equipe de quatro observadores independentes acompanhou o Pan.
"Achei bom o relatório. É claro que, em 1.300 amostras, não espere que tudo ocorra direitinho. Mas discordo de algumas coisas", afirmou o médico brasileiro Eduardo de Rose, coordenador do antidoping no Pan.
Para o grupo, "muitos dos oficiais de controles de doping tinham pouca ou nenhuma experiência na condução de uma sessão de coleta de amostra".
Tal despreparo gerou confusão. Foi reportado que alguns oficiais colocavam o código de barras do exame (que vai identifíca-lo até o fim do processo) só na primeira via do formulário, pediam assinatura do atleta e o dispensavam. Só depois etiquetavam todas as vias, até a do laboratório, sem o competidor.
No preenchimento dos formulários, os observadores constataram ao menos três casos de equívocos relevantes.
Na coleta, os oficiais aceitaram amostras diluídas (densidade inferior a 1,004), o que dificulta a análise do laboratório.
Segundo a Folha apurou, o procedimento seguido era este: se a primeira amostra estivesse diluída, pedia-se outra; caso a segunda tivesse o mesmo problema, o material era aceito.
No pentatlo moderno, um atleta forneceu urina diluída e, em vez de ele colher nova amostra na hora, a coleta foi adiada para o dia seguinte, contrariando as regras do controle.
Nos esportes aquáticos, atletas reclamaram que constava nos formulários, além do gênero, a prova que haviam disputado. Com esse dado, seria muito fácil identificar os donos das amostras de urina, o que violaria o princípio do anonimato.
No Ladetec, laboratório do Rio credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional, também foram constatadas falhas.
A Wada notou que o local era pequeno para o volume de análises feitas diariamente. Além disso, houve descompasso entre o processo de entrega das urinas e o expediente dos técnicos. As amostras coletadas à noite eram entregues só no dia seguinte, atrasando resultados.
Os novos equipamentos, importados para o Pan, demoraram a entrar ação pelo laboratório. Isso atrasou as análises para substâncias como testosterona, substância do doping de Rebeca. E, quando o exame foi realizado, em alguns casos, houve falha de procedimento.
O nível da substância é considerado alterado quando a relação entre testosterona e epitosterona, um outro hormônio, é superior a quatro. Hoje, há equipamentos capazes de detectar se a alteração é produzida pelo organismo ou é exógena (foi ingerida pelo atleta).
Mas, quando há nível anormal, é preciso reportá-lo para que haja investigação, se o controle antidoping aprovar. No Pan, isso não foi mencionado no resultado quando detectado hormônio endógeno. "Nesse caso, nosso pessoal interpretou mal a forma de lançamento de resultados", diz Francisco Radler, coordenador do Ladetec.


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