São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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No ano da vergonha, conselheiros decidem se Contursi continua ou se Belluzzo vira o novo presidente

Palmeiras vota o marechal da 2ª

EDUARDO ARRUDA
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à maior crise moral da história do Palmeiras, a sede social do tradicional clube paulistano viverá noite agitada hoje por conta da mais disputada eleição presidencial dos últimos tempos.
Mustafá Contursi, 61, atual presidente, e Luiz Gonzaga Belluzzo, 60, candidato da oposição, se digladiam nas urnas para ver quem ganha a missão de tirar o time da segunda divisão e devolvê-lo à elite do futebol brasileiro.
Quando estiverem frente a frente no salão nobre do Parque Antarctica, o esperado aperto de mão entre os dois candidatos não esconderá a guerra de nervos existente entre eles, desde que Belluzzo decidiu ser oposição a até então sempre tranquila situação que domina já tem tempo o clube.
Havia mais de uma década, os palmeirenses não acompanhavam um processo eleitoral tão tumultuado e tenso. O clube tem visto um reinado soberano de Contursi desde 1993, graças a uma manobra no estatuto do clube armada três anos depois.
Em novembro último, uma semana depois de o time ser rebaixado para a segundona, uma ala descontente de conselheiros e simpatizantes do clube articulava em evento, num reduto italiano, o lançamento oficial da candidatura do oposicionista Belluzzo.
Na mesma noite era marcado por Contursi, em uma pizzaria da cidade, um "jantar" para conselheiros do clube. Contursi, que não compareceu à pizzada, queria saber quem estava a seu lado.
Ficou feliz com a resposta: 180 conselheiros foram ao evento da situação, enquanto apenas 40 manifestaram apoio a Belluzzo.
Começava aí a rede de provocações entre os dois postulantes ao cargo de comandante palmeirense numa era tão turbulenta para o clube que deve continuar mesmo após o pleito de hoje.
Em pouco tempo, setores da oposição divulgaram uma lista pela internet com nome, endereço e telefone de todos os conselheiros do clube e suas supostas preferências nas eleições.
A resposta de Contursi foi imediata. Segundo ele, a lista serviu para intimidar, por meio de ameaças telefônicas anônimas e pichações pelas ruas, os simpatizantes da situação.
"É claro que os covardes, que ficam no anonimato, estão tentando me intimidar, mas isso não acontecerá", esbravejou o presidente, que solicitou reforço policial no Parque Antarctica hoje.
Com o nome de "Muda Palmeiras", a chapa liderada por Belluzzo levou a campanha eleitoral às ruas. Espalhou 50 outdoors pela cidade, embarcou na onda de mudanças do governo Lula ("O Brasil mudou. Muda Palmeiras") e fez troça com a queda do time para a segunda divisão na gestão Contursi ("O Palmeiras merece um presidente de primeira").
Para alavancar sua candidatura, Belluzzo, que diz contar com 120 votos de um total estimado por ele em 250, também tentou pegar carona nos triunfos da oposição em outros clubes, como no Botafogo, outro rebaixado para a Série B, que fez do candidato Bebeto de Freitas seu novo presidente.
Contursi, favorito para vencer o pleito de hoje, não faz contas. E zomba da chiadeira de seus opositores. "Aqui até quando o Palmeiras é campeão aparece gente para reclamar. Se o clube fosse levar em conta os descontentes, todo final de temporada haveria eleição para presidente do Palmeiras."
As duas principais torcidas organizadas do Palmeiras têm comportamento diferente quanto à eleição que vai definir o futuro do clube. Enquanto a TUP "abraçou" a campanha de Belluzzo, a sempre agitada Mancha Alviverde optou estranhamente pelo silêncio.



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