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FUTEBOL
Campo invadido
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O árbitro Alin Sars atuou
com um microfone da televisão francesa instalado em seu
uniforme durante uma partida
da Copa da França, anteontem.
Além do som da torcida e da voz
dos narradores, o espectador ouvia tudo o que o juiz dizia (e o que
era dito a ele), além de saber o
momento exato em que soava o
apito.
Se pararmos para pensar, uma
inovação aparentemente tão singela pode ter importantes desdobramentos. Não custa nada imaginar o que poderá acontecer se a
moda pegar.
No aspecto exclusivamente técnico, isto é, da condução do jogo
pela arbitragem, os efeitos são óbvios. Ao saber que está sendo ouvido por milhares de pessoas, o
árbitro tenderá a moderar sua
linguagem e a ser claro, quase didático, na interlocução com os jogadores.
Em vez de gritar "Dá logo a bola
que eu já apitei", dirá, por exemplo, "Você cometeu jogo perigoso.
Tiro livre indireto".
Os atletas, por sua vez, temerão
ofender ou desrespeitar o juiz
diante dos ouvidos de todos, temendo punições.
De certo modo, haverá um nivelamento da autoridade dos árbitros. Diminuirá a distância entre
o juiz "banana" e o "dono do
campo", pois o que hoje se diz no
gramado a um árbitro sem autoridade não poderá mais ser dito.
Da mesma forma, o mediador
autoritário, que xinga e ameaça
os jogadores, terá de adotar comportamento mais aceitável.
A tendência, portanto, é a uma
maior transparência e ao fortalecimento da instituição da arbitragem, não dos árbitros individualmente.
Mas há outro aspecto, mais sutil, a ser considerado: o da gradativa dissolução das fronteiras entre o lado de dentro e o lado de fora do campo.
A dessacralização do espaço do
jogo de futebol é um processo que
se iniciou, de certa maneira, com
a transmissão das partidas pela
televisão, seja ao vivo, seja em videoteipe.
Antes da televisão, o torcedor
que ia ao estádio tinha a forte
convicção de estar presenciando
um evento único e irrepetível,
com uma aura de cerimônia mágica ou religiosa.
Sem a aproximação promovida
pelas objetivas do cinema ou da
TV, o próprio rosto dos atletas era
para o torcedor uma imagem difusa, que ele só via de perto nas
fotos (muitas delas retocadas) estampadas nas revistas e jornais
em impressão de má qualidade.
Havia, simbolicamente, uma
distância intransponível entre o
campo e a arquibancada. Quando chegava a esta o som de uma
bola chocando-se contra a trave
ou sendo afastada da área por
um zagueiro, o frisson era total.
Só em estádios como a Vila Belmiro ou o Parque São Jorge, o torcedor situado junto ao alambrado podia ouvir, eventualmente, a
voz dos ídolos, gritando de dor ou
pedindo bola aos companheiros.
Hoje há câmeras e microfones
por toda parte: atrás dos gols, nas
laterais, nos bancos de reservas.
Conhecemos os palavrões favoritos de técnicos e goleiros, vemos
em close os ferimentos, as cuspidas e as coçadas dos craques.
Essa ruptura de fronteiras é de
mão dupla. Assim como temos
acesso às imagens e sons do campo de jogo, jogadores munidos de
fones de ouvido já podem ouvir à
distância a voz de seu treinador,
que por sua vez se comunica eletronicamente com auxiliares postados na arquibancada.
O big brother chegou para ficar.
Notícia boa e má
A eventual contratação de
Parreira como coordenador
de seleções seria uma notícia
ótima para a CBF e péssima
para o Corinthians. Com as
limitações de seu elenco, o alvinegro perderá força na disputa da Libertadores da
América se não puder contar
com o treinador que estruturou a equipe e extraiu dela o
máximo rendimento possível. Já na CBF, a indicação de
Parreira aumenta a possibilidade de escolha de Oswaldo
de Oliveira como técnico da
seleção principal. Aí quem
sairá perdendo é o São Paulo.
Esperança e medo
Hoje é um dia decisivo para o
futuro do Palmeiras. Se optarem pela reeleição do presidente, Mustafá Contursi, os
conselheiros perderão uma
ótima oportunidade de
transformar a crise atual no
estopim de uma mudança regeneradora. Tudo indica que
o medo vencerá a esperança.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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