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Estádio do DF acumula suspeitas
Acusação de superfaturamento paralisa licitação em obra de arena que disputa abertura do Mundial
Tribunal aponta sobrepreço de até R$ 74 milhões e põe em risco cumprimento do cronograma exigido pela CBF e pela Fifa para o evento
FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alternativa ao Morumbi para
receber a abertura da Copa de
2014, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, enfrenta suspeita de superfaturamento de
R$ 74 milhões para suas obras
de ampliação. Que, com a licitação suspensa, devem extrapolar os prazos da CBF e da Fifa.
O Tribunal de Contas do Distrito Federal apontou sobrepreço de até 65% em relação
aos valores de mercado no projeto elaborado pelo governo
distrital. A previsão é que o custo da reforma chegue a R$ 740
milhões, o que o transformaria
no estádio mais caro do evento.
"Da análise dos preços orçados para os serviços, observou-se sobrepreço médio de cerca
de 22%. Os destaques dessas
variações de preço foram relacionadas aos itens concreto,
forma e transporte de material
escavado, cujas variações ficaram entre 35% e 65%", informa
o relatório do TCDF.
Com as irregularidades, o órgão paralisou o processo licitatório em fevereiro e pediu que o
governo esclareça e corrija as
falhas. A CBF quer que as obras
comecem em maio, mas até lá
não há na pauta do tribunal
qualquer julgamento marcado
para o caso. A ampliação levará
três anos e, pelo planejamento
da Fifa, os estádios destinados à
Copa do Mundo devem ficar
prontos até o fim de 2012.
A capacidade atual do Mané
Garrincha é de 45 mil torcedores. Depois das obras, passará
para 71 mil. A reforma tornará o
setor de "geral" uma nova arquibancada. A estrutura contará com três subsolos, onde serão construídos estacionamentos privativos, vestiários, uma
central médica e áreas de apoio
exigidas pela Fifa.
O estádio brasiliense disputa
com o Morumbi e o Mineirão a
condição de palco da partida
inaugural do torneio. Na arena
do São Paulo, a entidade máxima do futebol fez restrições ao
plano de melhorias, que vão
desde a capacidade de público
até a entrada do campo e as curvas de visibilidade para o torcedor. O clube paulista deve apresentar nova proposta no dia 14.
Apesar da pressa, a reforma
em Brasília nem sequer saiu do
papel e já foram detectadas diversas irregularidades. Para a
procuradora Márcia Farias, o
pré-projeto dá margem para
prejuízos aos cofres públicos.
"A análise do edital demonstrou a existência de uma série
de irregularidades que devem
merecer reparo, sob pena de
elevado prejuízo para os cofres
públicos", diz o parecer do Ministério Público.
O projeto já havia sido suspenso em dezembro passado,
mas o governo do DF decidiu
prosseguir com a licitação.
A manobra do governo foi
classificada pelo Ministério Público de "atropelo". "Somente
por este fato, poder-se-ia negar
validade aos atos praticados pela jurisdicionada [governo]",
completa o parecer.
Não foi só. O TCDF apurou
ainda que o edital da reforma
do Mané Garrincha desobedecia a Lei de Licitações ao não
prever penas para eventuais
atrasos nas obras. O tribunal limitou também a subcontratação de empresas em apenas 5%
da obra, e apenas para serviços
especializados.
O diretor da Novacap, empresa estatal responsável pela
urbanização e jardinagem do
DF, já foi convocado pelo tribunal para explicar os preços da
licitação. José Alves de Melo
Júnior pode receber multa de
até R$ 20 mil por descumprir
as ordens do tribunal.
A obra de R$ 740 milhões
também não tem, até agora, lastro orçamentário. A reforma do
estádio foi colocada no Programa Plurianual de 2008-2011
sob a rubrica de "Esporte, Mente e Corpo em Equilíbrio", cujo
orçamento é de R$ 1 milhão.
A reforma do Mané Garrincha era comandada pelo ex-chefe de gabinete do governador cassado José Roberto Arruda (sem partido), Fábio Simão.
O então coordenador do projeto Copa-2014 em Brasília foi
afastado em novembro, quando
a Polícia Federal passou a investigá-lo como um dos operadores do mensalão do DEM.
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