São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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Ofensiva contra violência expõe a falta de soluções

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Emerson Assis, que teve o olho perfurado durante o confronto entre torcedores e a PM anteontem


Após conflito no Pacaembu, cartolas voltam a proibir organizadas e a levar clássico para o interior e assumem fiasco do monitoramento por câmeras e impotência contra vândalos

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para reagir à violência da torcida do Corinthians no Pacaembu após o fracasso na Libertadores, autoridades de segurança e esportivas apelaram para soluções velhas e promessas que já se mostraram ineficientes no passado.
Em reunião ontem, na Federação Paulista de Futebol, cartolas e policiais admitiram que, no momento, não têm como impedir a presença nos estádios de torcedores violentos. Mesmo assim, as autoridades determinaram que as torcidas organizadas de São Paulo estão proibidas de usar seus uniformes, tambores e bandeiras nos estádios durante 120 dias. Esse é o prazo para reconhecer os responsáveis pela briga no Pacaembu.
Outra medida foi a mudança do clássico entre São Paulo e Corinthians, amanhã, do Pacaembu para o interior do Estado.
"A gente tem que fazer alguma coisa. Se tiver alguma idéia melhor, pode dizer", afirmou o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, aos jornalistas presentes.
Já houve proibição de organizadas nos estádios, mas isso apenas fragmentou as lideranças dos torcedores, sem reduzir a violência.
E, apesar da ausência de camisas, não haverá controle sobre a entrada de membros das organizadas nos jogos. Assim, até torcedores que protagonizaram a pancadaria podem ir ao clássico.
"Não podemos desrespeitar as leis. São cidadãos e têm direitos [podem ir aos estádios]", diz o major Carlos Botelho, do Grupamento Especial de Policiamento nos Estádios. Por isso, todos apostam na mudança na lei, que tipificaria crimes específicos para violência no estádio. O Ministério do Esporte desenvolve projeto sobre o tema desde 2005.
"Uma briga em estádio tem que ser um delito mais grave do que uma na rua", fala Marco Aurélio Klein, do governo federal. "E poderia haver prisão em flagrante."
Esse projeto foi apresentado como solução no final do ano passado, quando houve quatro mortes no Brasileiro. Agora, seis meses depois, o governo promete entregar o projeto neste semestre. Só que nem a loteria Timemania, no Congresso há mais de um ano, foi aprovada. Em ano eleitoral, será difícil a negociação de um projeto.
Aprovada pelo Tribunal de Justiça de SP e marcada para 21 de maio, a reimplantação do Juizado Especial Criminal é outra solução dada pelas autoridades. No Rio, entretanto, o tribunal existe há dois anos e a violência se repete.
A aposta é que o Jecrim daria agilidade à detenção de torcedores. No jogo de anteontem, oito pessoas foram presas e levadas à delegacia. Algumas delas eram da Gaviões da Fiel. Em seguida, foram liberadas e, se quiserem, podem ir ao jogo de amanhã.
Foi aberto um inquérito no 23º Distrito Policial. Segundo a polícia, já foram identificadas outras pessoas. "Fazemos uma identificação quadro a quadro e cruzamos com informações do banco de dados", diz a delegada Margarette Barreto, do grupo da polícia que combate organizadas.
Para descobrir os culpados, a polícia usa imagens da TV. Isso porque o monitoramento por câmeras feito pela PM era improvisado e não funcionou.
Autoridades dizem que melhorar os serviços nos jogos ao público reduz a violência. "Quem faz o espetáculo são entidades bem-sucedidas economicamente e têm a responsabilidade", afirma o promotor de Justiça Ludgero Sabella.
Na partida de anteontem houve 65 feridos atendidos no ambulatório no Pacaembu. Foram levados para hospitais 11 torcedores e sete policiais. Havia um torcedor em estado grave. Amanhã, o clássico será em São José do Rio Preto (a 440 km da capital). "É mais fácil transferir o problema para o outro e minimizar do que encarar", diz Heloísa Reis, professora da Unicamp, que estuda torcidas.

Colaboraram Mariana Lajolo, da Reportagem Local, e Eduardo Ohata, do Painel FC

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