São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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Corintiano é operado, mas pode ficar cego

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

ANTÔNIO GAUDÉRIO
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

"Eu estava na arquibancada", declarou ontem Emerson Assis, 29, corintiano que teve o olho direito perfurado, provavelmente por um estilhaço de uma das diversas bombas de efeito moral lançadas pela Polícia Militar contra os torcedores, enquanto protegia a namorada no estádio do Pacaembu.
Membro da uniformizada Gaviões da Fiel, maior torcida do Corinthians, Assis, que tem o apelido de Gavião e Loucão, passou por cinco horas de cirurgia para reconstruir o globo ocular na Santa Casa de São Paulo, na região central.
"Foi uma perfuração grave, e suturamos seu olho", disse José Ricardo de Abreu Reggi, médico-chefe do pronto-socorro da oftalmologia do hospital.
Apesar de a operação ter ocorrido bem, são grandes as chances de Assis não voltar a enxergar ou ter seqüelas na visão. Existe até a possibilidade de vir a perder o globo ocular.
"O prognóstico é ruim. O olho levou um estilhaço que o pressionou e ele explodiu. Além disso, o torcedor está sendo medicado para não pegar alguma infecção. Só quando tirarmos o curativo saberemos o que terá", falou Reggi.
A Folha entrou no ambulatório em que Assis está internado após autorização do médico e do próprio paciente, que permitiu ser fotografado.
"Agora estou melhor, não está mais doendo", falou o corintiano, que fora ao Pacaembu acompanhado da namorada e de um casal de amigos.
"Não sinto mais vontade de ir aos estádios. Vi crianças chorando e a polícia soltando bombas e tiros", falou a torcedora Débora Amorim, mulher de Alexandre Feliciano Borges, ambos de 31. Seu marido também é integrante da Gaviões.
Segundo o relato dos dois, quando o River Plate fez o terceiro gol, muitos torcedores inconformados desceram e empurraram quem estava na frente contra o alambrado.
"Só vi o pessoal pulando por cima de nós. Fomos espremidos. A namorada do Assis bateu a cabeça. Estava desmaiando. Foi aí que uma bomba explodiu perto deles. Só vimos fumaça", falou Borges, que criticou a ação de PM e torcedores.
"Foi um despreparo da polícia e dos torcedores. A PM deveria ter prevenido aquilo, e a diretoria da Gaviões também teria de intervir para controlar os ânimos", falou Borges, que, apesar do incidente, continuará indo aos jogos. "A paixão pelo clube é algo inexplicável."
O torcedor do Palmeiras Gilberto de Assis, 54, pai do corintiano ferido, pretende mover uma ação indenizatória contra o Estado. "Meu filho nunca foi de briga e agora vai ficar cego. Ele precisa da visão para trabalhar. É estoquista", afirmou.
Apesar de o conflito entre a torcida e a PM ter sido deflagrado no chão, num portão do alambrado, os policiais, na tentativa de dispersar a multidão que tentava invadir o campo, usaram armas para atirar balas de borracha contra torcedores que estavam na arquibancada.
"A PM mirou na gente. O pessoal da arquibancada não havia brigado. Um policial falou que devíamos morrer", disse Borges, que viu uma das balas de borracha perfurar também o olho direito do corintiano João Mendonça Cortez, 47.
Segundo informou a assessoria de imprensa da Santa Casa, mais quatro pessoas foram atendidas no local com fraturas e escoriações, mas liberadas. No Hospital das Clínicas, foram nove atendimentos.


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