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Corintiano
é operado, mas
pode ficar cego
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTÔNIO GAUDÉRIO
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
"Eu estava na arquibancada",
declarou ontem Emerson Assis, 29, corintiano que teve o
olho direito perfurado, provavelmente por um estilhaço de
uma das diversas bombas de
efeito moral lançadas pela Polícia Militar contra os torcedores, enquanto protegia a namorada no estádio do Pacaembu.
Membro da uniformizada
Gaviões da Fiel, maior torcida
do Corinthians, Assis, que tem
o apelido de Gavião e Loucão,
passou por cinco horas de cirurgia para reconstruir o globo
ocular na Santa Casa de São
Paulo, na região central.
"Foi uma perfuração grave, e
suturamos seu olho", disse José
Ricardo de Abreu Reggi, médico-chefe do pronto-socorro da
oftalmologia do hospital.
Apesar de a operação ter
ocorrido bem, são grandes as
chances de Assis não voltar a
enxergar ou ter seqüelas na visão. Existe até a possibilidade
de vir a perder o globo ocular.
"O prognóstico é ruim. O
olho levou um estilhaço que o
pressionou e ele explodiu.
Além disso, o torcedor está
sendo medicado para não pegar alguma infecção. Só quando tirarmos o curativo saberemos o que terá", falou Reggi.
A Folha entrou no ambulatório em que Assis está internado
após autorização do médico e
do próprio paciente, que permitiu ser fotografado.
"Agora estou melhor, não está mais doendo", falou o corintiano, que fora ao Pacaembu
acompanhado da namorada e
de um casal de amigos.
"Não sinto mais vontade de ir
aos estádios. Vi crianças chorando e a polícia soltando
bombas e tiros", falou a torcedora Débora Amorim, mulher
de Alexandre Feliciano Borges,
ambos de 31. Seu marido também é integrante da Gaviões.
Segundo o relato dos dois,
quando o River Plate fez o terceiro gol, muitos torcedores inconformados desceram e empurraram quem estava na frente contra o alambrado.
"Só vi o pessoal pulando por
cima de nós. Fomos espremidos. A namorada do Assis bateu a cabeça. Estava desmaiando. Foi aí que uma bomba explodiu perto deles. Só vimos fumaça", falou Borges, que criticou a ação de PM e torcedores.
"Foi um despreparo da polícia e dos torcedores. A PM deveria ter prevenido aquilo, e a
diretoria da Gaviões também
teria de intervir para controlar
os ânimos", falou Borges, que,
apesar do incidente, continuará indo aos jogos. "A paixão pelo clube é algo inexplicável."
O torcedor do Palmeiras Gilberto de Assis, 54, pai do corintiano ferido, pretende mover
uma ação indenizatória contra
o Estado. "Meu filho nunca foi
de briga e agora vai ficar cego.
Ele precisa da visão para trabalhar. É estoquista", afirmou.
Apesar de o conflito entre a
torcida e a PM ter sido deflagrado no chão, num portão do
alambrado, os policiais, na tentativa de dispersar a multidão
que tentava invadir o campo,
usaram armas para atirar balas
de borracha contra torcedores
que estavam na arquibancada.
"A PM mirou na gente. O
pessoal da arquibancada não
havia brigado. Um policial falou que devíamos morrer", disse Borges, que viu uma das balas de borracha perfurar também o olho direito do corintiano João Mendonça Cortez, 47.
Segundo informou a assessoria de imprensa da Santa Casa,
mais quatro pessoas foram
atendidas no local com fraturas
e escoriações, mas liberadas.
No Hospital das Clínicas, foram nove atendimentos.
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