São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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TOSTÃO

Um dia de torcedor


Com cachecol no pescoço, fui a Barcelona x Levante; vaiei, aplaudi e tive vontade de chamar Rijkaard de burro


NO DOMINGO , estava em Barcelona e assisti no estádio Camp Nou, que não conhecia, à vitória do time catalão sobre o Levante por 1 a 0. De metrô, cheguei rápido, cedo e desci próximo ao campo. Aos poucos o estádio ficou lotado. Havia muitas pessoas de todos os tipos: crianças, idosos, jovens, homens e mulheres.
Comportei-me como um torcedor, o que não posso fazer no Brasil, na minha função de comentarista. Coloquei no pescoço um cachecol azul e grená, das cores do Barcelona, e aplaudi e vaiei. Deu até vontade de chamar o técnico Rijkaard de burro por colocar novamente o medíocre zagueiro Oleguer de lateral.
Sou torcedor do Barcelona, não somente pelo Ronaldinho mas também por Deco, Messi, Eto'o, Xavi, Iniesta e Puyol, e porque o clube se confunde com essa sedutora, belíssima e avançada cidade, terra de muitos geniais visionários, como Gaudí e Miró, que transcenderam a realidade e revolucionaram a arte.
Sou torcedor do Barcelona porque foi o único time que me fascinou nos últimos anos. O meu encanto não foi pelo título da Copa dos Campeões e pelo bicampeonato espanhol, e sim pela maneira ousada e leve de jogar, unindo o coletivo com o individual.
O Barcelona e Ronaldinho mostraram ao mundo que é possível ser eficiente e jogar bonito. Por causa de seus problemas, pela dificuldade de todo time, com qualquer estilo, de se manter no topo por muitos anos e pela dura marcação dos adversários, que cada dia mais impedem os times e jogadores habilidosos de brilharem, o Barcelona caiu de produção. Mesmo assim, como torcedor e analista, espero que o time se recupere.
Messi é o novo xodó da torcida. No domingo, um diário esportivo vendia o jornal por 1, e o leitor ainda ganhava um DVD do jogo em que o argentino fez um gol espetacular, à la Maradona na Copa de 1986, no México, contra a Inglaterra.
Já a relação atual da torcida com Ronaldinho tem sido mais distante e mais fria. Depois de ver o jogador atuar durante anos no nível dos maiores craques da história do futebol mundial, o torcedor não aceita mais vê-lo apenas atuar bem.
Ronaldinho reclama dessa cobrança. Parece uma briga passageira de amor.
Como ocorre na atual sociedade de consumo e de espetáculo, em que nada satisfaz, em que as coisas, as pessoas, os sentimentos, os valores e os prazeres são descartáveis e trocados rapidamente, no futebol os conceitos são também cada vez mais sobre a última partida, a última semana, o último mês ou, no máximo, o último ano.
Após o jogo contra o Levante, voltei de ônibus, lotado. Como o jogo terminou às 21h (não há o horário da Globo), ainda deu tempo para saborear tapas (tira-gostos) e tomar um bom vinho espanhol. Foi um inesquecível dia de torcedor.

Decisões
Hoje é dia de comemorações e de frustrações. O melhor momento do esporte para quem compete e para o torcedor é o da vitória. O pior é o da derrota. O resto é supérfluo. Mas, como crítico, preciso cobrar bons espetáculos e não só elogiar os vencedores e criticar os perdedores. Quem ganha também erra, e quem perde também acerta.

tostao.folha@uol.com.br


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