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"Meu pai recuperou o tempo perdido"
Ex-goleiro de Santos e São Caetano, Edinho afirma que período na prisão o ajudou a estreitar relações com o pai, Pelé
"Se não tive o pai ideal
no meu crescimento, ele recuperou tudo isso nesse momento em que ficou do meu lado", diz o ex-jogador
DA ENVIADA A SANTOS
E DA REPORTAGEM LOCAL
Livre graças a um habeas corpus concedido pelo Supremo
Tribunal Federal em dezembro
de 2006, após um segundo período na prisão (dez meses) sob
acusação de envolvimento com
o tráfico de drogas, Edinho, filho de Pelé, pode hoje, enfim,
conseguir aquilo que não alcançou como camisa 1 do Santos e
do São Caetano. Um título.
Na Vila Belmiro, ele experimenta um recomeço. Desde fevereiro, Edson Cholbi do Nascimento, 36, faz parte da comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo, como auxiliar de
preparador de goleiros.
À Folha, ele falou sobre sua
rotina no cárcere, o estreitamento de seu relacionamento
com Pelé após os problemas
com a prisão, seu melhor momento como atleta do Santos,
em 1995, e o desejo de ser campeão. "Não seria mal começar
com fama de pé-quente."
(JULYANA TRAVAGLIA E PAULO GALDIERI)
FOLHA - Em 1995, você fez parte da
equipe que conseguiu uma virada
memorável na semifinal do Brasileiro contra o Fluminense. Como foi
aquela noite no Pacaembu?
EDINHO - Foi um jogo histórico,
o mais emocionante da minha
carreira. A gente tinha tomado
uma goleada na primeira partida [4 a 1], mas o clima era de esperança e de muita apreensão.
A história foi maravilhosa. Pena que o título não veio.
FOLHA - O que pesou para conseguir aquele resultado?
EDINHO - Psicologicamente era
a confiança. O talento e o empenho de todos e da torcida também contou. Nós tínhamos de
fazer três gols de diferença. O
Pintado deu a sugestão de que,
se nós fizéssemos dois gols no
primeiro tempo, que ficássemos no campo na hora do intervalo. A gente tinha certeza de
que a torcida estaria vibrante, e
não queríamos deixar esfriar.
FOLHA - Contra o São Caetano, o time atual também terá de reverter
uma desvantagem. O que você pode passar de experiência?
EDINHO - O aspecto psicológico. Se fizer 1 a 0 no primeiro
tempo e 1 a 0 no segundo tempo, já está alcançado o objetivo,
mas precisa jogar bola. Nos últimos jogos o time não tem
atuado bem.
FOLHA - Qual foi o papel de Luxemburgo na sua volta ao Santos?
EDINHO - Ele é uma das pessoas
que me conhecem, sabe de tudo
o que aconteceu. Infelizmente,
quase nada do que foi divulgado
é verdade. Tem gente que apenas ouviu notícia e criou uma
imagem fictícia. Ele sempre
acreditou em mim e foi fundamental para eu estar de volta à
minha casa, que é o Santos.
FOLHA - Como você se sentiu na
época de sua prisão?
EDINHO - Fiquei frustrado com
as coisas que foram divulgadas.
Infelizmente, faz parte de
quem sou, filho de quem sou.
Não fui criado no Brasil e, até os
20 anos, nunca fui filho de ninguém. Fui criado pela minha
mãe, tive uma vida normal de
estudo e trabalho e, de repente,
vim pro Brasil e joguei futebol.
Às vezes esqueço dessa ligação
que tenho e que me torna um
alvo, como acabei virando. É
claro que talvez eu tenha facilitado por conta de algumas amizades. Mas insisto na tese de
que não cometi um crime.
FOLHA - Ser filho do Pelé atrapalhou você?
EDINHO - Não é questão de ter
atrapalhado. É uma realidade
que às vezes eu esqueço, não
me dou conta 24 horas por dia
que sou sempre um alvo em potencial e que a qualquer momento eu posso ser usado. Talvez eu tenha sido imprudente,
mas é a realidade. É o que sou.
Nasci filho dele e tudo que tenho é graças a ele, por bem ou
por mal. A gente não escolhe o
pai que tem, então eu sempre
agradeço por tudo o que ele pôde fazer por nós. Se ele não foi o
pai ideal no meu crescimento,
ele recuperou tudo isso nesse
momento em que ficou do meu
lado e passou por tudo isso junto comigo. Ele foi o meu representante enquanto estive preso, procurando o que era melhor pra mim, me preservando.
Se atrapalhou [ser filho do Pelé] em algum momento, tenho
certeza que ajudou em outro.
FOLHA - Como era a vida na cadeia? Os outros presos perguntavam sobre futebol?
EDINHO - Existia essa curiosidade. Fui muito bem recebido,
nunca tive nenhum problema
ou dificuldade ou opressão. É
claro que é um lugar complicado, com pessoas complicadas,
mas a gente aprende a se virar.
FOLHA - O que aprendeu lá que você consegue aplicar agora?
EDINHO - Aprendi a dar valor
para as mínimas coisas da vida.
Quando você perde a sua liberdade, cria uma nova maneira de
ver as coisas e sempre ter força
para superar as dificuldades.
Conheci pessoas passando por
situações muito piores que a
minha. Aprendi a ser mais prudente, a saber quem sou e quem
represento e tomar mais cuidado com minha conduta.
FOLHA - Como era a sua rotina enquanto esteve preso?
EDINHO - No primeiro [presídio, em Arthur Bernardes] não
tinha atividade nenhuma. Em
Tremembé, trabalhava na lavanderia e tinha horário de tomar sol, campo de terra para
bater uma bolinha com o pessoal e muita leitura. Agora a rotina é mais agitada. Trabalho
nos treinos diariamente e à noite faço faculdade de educação
física. A vida está maravilhosa.
FOLHA - Se o Santos ganhar, será
seu primeiro título...
EDINHO - É claro que é bem melhor ser campeão como jogador, mas não vai ser nada mal
começar a carreira com a fama
de pé-quente.
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