São Paulo, quinta, 6 de maio de 1999

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Situação do clube se agrava, diz promotor

da Reportagem Local

O promotor de Justiça criminal Pedro Manuel Ramos, que acompanha o inquérito sobre a trama de suborno da Lusa no Campeonato Paulista do ano passado, afirmou à Folha que a revelação do novo caso "complica muito" a situação dos dirigentes do clube.
"Esse fato indica fortemente que a Lusa tinha o hábito de recorrer a recursos ilegais para vencer partidas. Isso é muito sério. Vou anexar o conteúdo da fita ao inquérito. Vai ajudar na acusação", afirmou o promotor.
Pelo menos quatro pessoas deverão ser indiciadas no inquérito que apura o desvio de R$ 130 mil dos cofres da Lusa e o esquema de suborno ao qual esse dinheiro foi destinado: o presidente Amilcar Casado, o vice Ilídio Lico, o ex-diretor Camões Salazar e o empresário do futebol Toninho Silva.
O esquema de suborno foi posto em prática na partida Portuguesa Santista x Lusa, válido pela última rodada da primeira fase do Campeonato Paulista do ano passado. O resultado, empate de 4 a 4, classificou a Lusa e obrigou a Santista a disputar o quadrangular de rebaixamento.
Mas o jogo por pouco não foi fraudado. Segundo depoimento de Lico a uma comissão de sindicância do clube, ele acertou com Silva o suborno do goleiro Nasser, que atuava pela Portuguesa Santista. Mais tarde verificou que o goleiro nem ao menos havia sido contactado e que o dinheiro fora desviado, ou seja, havia acontecido uma trapaça, que ele desconhecia, dentro da outra, que ele confessara ter planejado.
Ao procurar o goleiro, Lico admitiu ter revelado a trama a ele e acabou tendo que assinar um contrato com o goleiro sob a ameaça de que o caso viesse a público. Em seis meses, Nasser recebeu R$ 83 mil e nunca treinou no clube. O goleiro afirmou reiteradas vezes que sua principal intenção era jogar e que até contratou um treinador de goleiros particular para se manter em forma enquanto esperava ser chamado para se apresentar.
Só quando a Folha revelou o caso no final do mês de março, Nasser decidiu denunciar a trama. A publicação pela Folha de uma cópia do contrato foi a primeira prova de que a história era verdadeira.
Nessa operação, saíram R$ 130 mil da Lusa, que foram destinados a Silva, em dois cheques (R$ 100 mil e R$ 30 mil). Os recibos dizem que foi pagamento da comissão pela intermediação do jogador Alexandre. Mas o negócio do meia foi feito diretamente entre o dono de seu passe, o ex-sócio do União Francisco Martins e a Lusa.
Nos dias seguintes ao recebimento do dinheiro, Silva passou metade a Salazar, numa operação que quem recebeu diz que é empréstimo e quem deu afirma que é devolução, e R$ 25 mil a Lico, supostamente para ajudá-lo a pagar o contrato de Nasser.
Apesar da confissão de Lico, a sindicância não pediu punição a ele. O único indiciado foi Salazar, incriminado pelo desvio de dinheiro. Salazar não foi ouvido no clube, mas na polícia ele negou ter ficado com dinheiro do clube.
O presidente da comissão, Marco Antonio Teixeira Duarte, afirmou que a simples compilação do depoimento significava um "pedido automático" de punição para o dirigente.
Segundo Ramos, o caso sobre o jogo Lusa x Remo, pela Copa do Brasil, vai dar origem a um novo inquérito, separado do primeiro.
"Tem que ser separado. Se ficar misturando as coisas, o inquérito não termina nunca", finalizou o promotor, que só espera a chegada dos depoimentos do goleiro Nasser e do técnico Orlando Pereira, que dirigiu a Santista naquele jogo, e das transcrições das fitas para formalizar a acusação. (MD e RD)



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