São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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FUTEBOL

O "gordinho" é um fenômeno

TOSTÃO

COLUNISTA DA FOLHA

Aconteceu o que era mais provável: na quarta-feira, no Mineirão, pelas eliminatórias da Copa, a Argentina, desde o primeiro minuto, pressionou os armadores e laterais brasileiros, teve mais a posse de bola, dominou a maior parte do jogo, avançou com muitos jogadores, criou varias chances de gols, mas não tinha um craque no ataque.
Em compensação, nas poucas vezes que o Brasil chegou bem no ataque, teve várias oportunidades de fazer o gol. Isso também era previsto.
Havia muitos espaços na defesa da Argentina. Os três zagueiros correm demais atrás dos atacantes da equipe rival. Isso é muito perigoso. Ainda mais contra o Ronaldo. Além dos três pênaltis (não marcaria o terceiro deles), houve outro, e o Luis Fabiano ainda desperdiçou dois gols diante do goleiro Cavallero.
A vitória foi merecida. A Argentina teve chances de vencer e de quase levar uma goleada.
Na festa das celebridades, só uma brilhou. Ronaldo decidiu a partida. Não é novidade. Segundo a Folha, ele é responsável por 62% dos gols marcados pela seleção, durante o ano, nas partidas em que esteve em campo.
Além de talento e velocidade, ele mostrou, contra os argentinos, a mobilidade de tempos atrás.
Como os quatro armadores e laterais do Brasil foram bem marcados, faltou um atacante recuar e armar as jogadas. Por isso, voltaram os chutões do goleiro Dida e dos zagueiros.
Nessa partida, com Alex e Kaká a equipe ficaria melhor. Alex entrou, jogou pouco tempo e deu dois passes excepcionais. Um no terceiro pênalti e outro para o Zé Roberto, que tocou para o Luis Fabiano perder o gol.
Luis Fabiano ficou perdido. Ele tentou recuar, mas não sabe fazer isso. Porém não se pode dizer por um jogo que ele e Ronaldo não possam fazer uma boa parceria. Isso deverá acontecer nas partidas em que o Brasil pressionar contra defesas fechadas (pode ser hoje à noite, contra o Chile) e quando houver bons cruzamentos das laterais.
A Argentina tem muita garra, uma maneira de jogar diferente e ousada (de grande risco contra fortes equipes como o Brasil), mas não tem um excepcional atacante. O craque é mais importante do que a tática. Isso já tinha acontecido no Mundial de 2002. A Argentina tinha o melhor conjunto, dominou os três adversários na primeira fase, mas foi desclassificada. O atacante Batistuta já estava decadente.
Contra o Chile vai ser uma partida diferente. Os chilenos devem recuar e contra-atacar. O Brasil é sempre favorito. Porém não podemos esperar e exigir que os craques decidam todos os jogos.

Volantes ou meias
No passado havia maior número de talentos no meio-campo, que defendiam e atacavam bem, como Falcão, Gerson, Toninho Cerezo, Júnior e outros.
Com o tempo, por causa da marcação mais dura e do esquema com dois volantes e um meia de cada lado, houve uma nítida divisão entre os meias, que quase só pensam no ataque, e os volantes, que quase só pensam na defesa. Desses, surgiu uma anomalia, os brucutus, que quase só pensam em pegar as pernas do adversário.
Isso tem mudado. No esquema da seleção, adotado também por muitas equipes brasileiras, com apenas um volante mais recuado pelo meio e um armador de cada lado, com funções defensivas e ofensivas, aumentou o número de jogadores que marcam como volantes e avançam como meias.
Juninho, Zé Roberto, Júlio Baptista, Kleberson e outros devem ser chamados de volantes ou de meias? Eles não são típicos volantes nem típicos meias. São armadores defensivos e ofensivos. Todos eles são ou já foram meias nos seus clubes. Na Alemanha, Zé Roberto é meia esquerda.
O canhoto Edu vai substituir o Zé Roberto. Para o atual esquema tático, ele é a melhor opção. Edu atua de volante, pelo meio, no Arsenal. O time inglês joga com dois volantes e um meia de cada lado. Como os volantes do Arsenal não marcam muito atrás, Edu também chega ao ataque.
Edu marca, passa e finaliza bem, mas não tem velocidade e habilidade de um meia como o Zé Roberto. Edu terá dificuldades nessa posição. Mas vai mudar pouco, já que Zé Roberto tem avançado menos e sido discreto nas partidas pelo Brasil.
O melhor caminho para os times brasileiros melhorarem a qualidade no meio-campo é tentar adaptar alguns meias ofensivos à posição de armadores, com funções defensivas e ofensivas, como aconteceu com Juninho.


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