São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2005

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FUTEBOL

A melhor da melhor

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Se você viu Brasil x Paraguai, teve o privilégio de testemunhar o nascimento do que tem tudo, tudinho, para ser a melhor seleção de todos os tempos do melhor futebol de todos os tempos (o brasileiro).
Exagero? Precipitação? Ousadia? Não, a menos que, de novo, o medo vença a esperança. Se Parreira mantiver a escalação de ontem, com a volta de Ronaldo no lugar de Adriano, o Brasil terá para a Copa um quarteto fantástico, melhor do que qualquer quarteto, trio ou duo de seleções anteriores, e, por extensão, capaz de determinar um ritmo de jogo igualmente fantástico, do qual se viram ontem apenas lampejos.
É só comparar com a seleção que Pelé definiu ontem mesmo (em programa da Rede Globo) como "a melhor seleção de todos os tempos", a que disputou a Copa de 1970. Nela, havia de fato um quarteto formidável de craques: além de Pelé, o maior de todos, Gerson, Rivellino e Tostão.
Mas o quarteto-2006 (Kaká, Ronaldo, Ronaldinho e Robinho) tem tudo, tudinho, para ser ainda mais luminoso, ainda mais cintilante. É bom deixar claro que não vou comparar o time de 70 com o de 2006, posição por posição, tática por tática, que isso é coisa para especialistas. O que quero dizer é que, em termos de arte, os quatro de 2006 são fenomenais.
O que se viu ontem já é uma preciosa amostra, a começar do fato de que tornaram fácil um jogo que vem sendo historicamente difícil para o Brasil. Ou seja, além da beleza, puseram eficiência em campo, o que é vital para impedir que o medo (de perder) derrote a esperança (de jogar bonito). Mas olhe para a frente e note que:
1 - Esta fase das eliminatórias não traz a menor motivação. Todos sabem que Brasil e Argentina estarão na Alemanha em 2006.
2 - Os jogadores estão no bagaço depois da dura temporada européia. A Copa da Alemanha também será após a temporada européia, mas haverá, como em 2002, mais tempo para recuperação.
3 - Ronaldo não jogou, e não dá para minimizar sua ausência. É verdade que ele está tendo desempenho irregular, mas, pela primeira vez na carreira, já espetacular, terá três parceiros luminosos para desviar a atenção dos rivais. Se Ronaldinho, por si só, faz a diferença no Barça; se Robinho, por si só, faz a diferença no Santos; se Kaká, por si só, faz a diferença no Milan (ainda que menos que os outros dois); imagine os três ladeando Ronaldo, que, por si só, fez a diferença na Copa-2002.
O Brasil poderá até perder da Argentina. Poderá, como é óbvio, perder também a Copa de 2006. Mas aposto desde já que, se essa injustiça ocorrer, será como em 1954 na Copa da Suíça: só historiadores do futebol ou alguns alemães lembram nomes dos campeões (a antiga Alemanha Ocidental). Mas os fanáticos pela magia do futebol não esquecem os húngaros Kocsis, Czibor e, principalmente, Puskas. Assim como o colunista deste espaço, em 2056, ainda estará falando dos Ronaldos, de Robinho e de Kaká.

Pálido 1 Adriano pode ser um bom jogador, até muito útil. Mas, ao lado da sutileza de Kaká, Ronaldinho e Robinho, a bola nos pés dele fica quadrada.

Pálido 2 Tevez pode ser o grande jogador do Corinthians, mas, na seleção da Argentina, ao menos na partida de sábado, foi, mais que pálido, um trapalhão. Nada fez e ainda perdeu a bola que deu origem ao primeiro gol do time equatoriano.

Pálido 3 Dida pode ser um grande goleiro, excelente nos pênaltis, mas parece ter a mania de tomar gols perfeitamente defensáveis, como na final da Copa dos Campeões da Europa, contra o Liverpool, e ontem, nas eliminatórias, contra o Paraguai.

E-mail crossi@uol.com.br


Excepcionalmente hoje José Geraldo Couto não escreve neste espaço

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