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À flor da pele
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Ronaldo, de chinelo e boné, chega ao hotel da seleção em Konigstein, na Alemanha, acompanhado de Robinho e um minuto antes do fim da folga concedida aos atletas |
Após ouvir queixas públicas de Ronaldo à sua chuteira, Nike se enrola para explicar problema e deixa episódio com imagem arranhada
EDUARDO ARRUDA
FÁBIO VICTOR
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN
Ao perturbar Ronaldo às vésperas do início da Copa do
Mundo, a crise das bolhas nos
pés do atacante abalou simultaneamente o marketing da Nike,
empresa que produz as chuteiras que ele calça, e a relação do
craque com a CBF.
Apesar de não se pronunciar
oficialmente sobre o assunto, o
presidente da confederação,
Ricardo Teixeira, avalia que o
jogador poderia ter preservado
a empresa parceira da CBF.
O cartola não queria que a
patrocinadora saísse do episódio com a imagem arranhada,
prejuízo que a essa altura parece inevitável.
Na Nike, a posição de Ronaldo não provocou tanto mal-estar, já que a empresa avalia que
seria impossível não associar o
problema ao produto.
A multinacional americana é
talvez a maior vítima das bolhas, possivelmente mais até
que o próprio atleta. Foi obrigada a engolir a queixa de um dos
seus principais garotos-propaganda justo em relação a um
produto de ponta e às vésperas
de um evento como o Mundial.
E, ao apresentar justificativas
para o problema, enrolou-se.
A versão apresentada pela
Nike para atenuar sua responsabilidade no episódio choca-se
frontalmente com as informações divulgadas por ela própria
na época do badalado lançamento do produto.
Lançada no início do ano como última maravilha do design
esportivo, a Mercurial Vapor
III é o pivô do problema. Foram pares deste modelo que,
segundo Ronaldo, causaram as
bolhas que o tiraram do amistoso contra a Nova Zelândia no
intervalo da partida, anteontem, em Genebra.
Ao fornecer a posição da Nike para o episódio, ainda em solo suíço, o porta-voz da Nike do
Brasil, Ingo Ostrovsky, afirmou
e reafirmou que a única mudança no novo modelo era a
cor, azul -não havendo, portanto, qualquer alteração quanto ao design.
O material de divulgação da
Mercurial Vapor III enviado à
imprensa pela Nike em janeiro
e fevereiro, porém, alardeia as
vantagens do modelo. Diz um
dos trechos do press-release:
"Fabricada artesanalmente na
Itália e pesando o mesmo que
uma sapatilha de atletismo
(uma fração acima dos 200 gramas), a Mercurial Vapor III é a
chuteira mais avançada feita
pela Nike até hoje".
A Nike dizia ainda ter gasto
com o produto "mais de dois
anos de design, desenvolvimento e pesquisa sobre como
impulsionar a velocidade de
um jogador ao maximizar a
aceleração".
Ontem, questionado pela Folha sobre a contradição, Ingo
Ostrovsky disse ter dado a informação errada anteontem.
"Os releases estão corretos, eu
é quem fiz confusão."
Ao mesmo tempo, a Nike
emitiu uma nota de esclarecimento à imprensa, no final da
tarde de ontem. Afirma que a
linha Mercurial é usada desde
1998 por Ronaldo, cujas chuteiras são feitas sempre sob medida e que os pares que teriam
causado as bolhas são "exatamente iguais" aos que ele vinha
usando há três meses.
Também causa espécie o depoimento que Ronaldo deu à
época para atestar a eficiência
do modelo. "Participei da criação da chuteira desde o princípio, inclusive dos detalhes mais
técnicos. Encontro todo o conforto e, tecnicamente, o calçado é perfeito. Estou muito contente com o design."
O preço ao consumidor da
Mercurial Vapor III -a "top de
linha" da empresa, lançada
com uma imensa campanha de
marketing- pode ajudar a explicar parte do imbróglio.
Um par da chuteira custa R$
599 em lojas do Brasil, mais
que o dobro do modelo anterior, a Mercurial Vapor II, que
sai por R$ 229.
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