São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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À flor da pele

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Ronaldo, de chinelo e boné, chega ao hotel da seleção em Konigstein, na Alemanha, acompanhado de Robinho e um minuto antes do fim da folga concedida aos atletas


Após ouvir queixas públicas de Ronaldo à sua chuteira, Nike se enrola para explicar problema e deixa episódio com imagem arranhada

EDUARDO ARRUDA
FÁBIO VICTOR
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN

Ao perturbar Ronaldo às vésperas do início da Copa do Mundo, a crise das bolhas nos pés do atacante abalou simultaneamente o marketing da Nike, empresa que produz as chuteiras que ele calça, e a relação do craque com a CBF.
Apesar de não se pronunciar oficialmente sobre o assunto, o presidente da confederação, Ricardo Teixeira, avalia que o jogador poderia ter preservado a empresa parceira da CBF.
O cartola não queria que a patrocinadora saísse do episódio com a imagem arranhada, prejuízo que a essa altura parece inevitável.
Na Nike, a posição de Ronaldo não provocou tanto mal-estar, já que a empresa avalia que seria impossível não associar o problema ao produto.
A multinacional americana é talvez a maior vítima das bolhas, possivelmente mais até que o próprio atleta. Foi obrigada a engolir a queixa de um dos seus principais garotos-propaganda justo em relação a um produto de ponta e às vésperas de um evento como o Mundial. E, ao apresentar justificativas para o problema, enrolou-se.
A versão apresentada pela Nike para atenuar sua responsabilidade no episódio choca-se frontalmente com as informações divulgadas por ela própria na época do badalado lançamento do produto.
Lançada no início do ano como última maravilha do design esportivo, a Mercurial Vapor III é o pivô do problema. Foram pares deste modelo que, segundo Ronaldo, causaram as bolhas que o tiraram do amistoso contra a Nova Zelândia no intervalo da partida, anteontem, em Genebra.
Ao fornecer a posição da Nike para o episódio, ainda em solo suíço, o porta-voz da Nike do Brasil, Ingo Ostrovsky, afirmou e reafirmou que a única mudança no novo modelo era a cor, azul -não havendo, portanto, qualquer alteração quanto ao design.
O material de divulgação da Mercurial Vapor III enviado à imprensa pela Nike em janeiro e fevereiro, porém, alardeia as vantagens do modelo. Diz um dos trechos do press-release: "Fabricada artesanalmente na Itália e pesando o mesmo que uma sapatilha de atletismo (uma fração acima dos 200 gramas), a Mercurial Vapor III é a chuteira mais avançada feita pela Nike até hoje".
A Nike dizia ainda ter gasto com o produto "mais de dois anos de design, desenvolvimento e pesquisa sobre como impulsionar a velocidade de um jogador ao maximizar a aceleração".
Ontem, questionado pela Folha sobre a contradição, Ingo Ostrovsky disse ter dado a informação errada anteontem. "Os releases estão corretos, eu é quem fiz confusão."
Ao mesmo tempo, a Nike emitiu uma nota de esclarecimento à imprensa, no final da tarde de ontem. Afirma que a linha Mercurial é usada desde 1998 por Ronaldo, cujas chuteiras são feitas sempre sob medida e que os pares que teriam causado as bolhas são "exatamente iguais" aos que ele vinha usando há três meses.
Também causa espécie o depoimento que Ronaldo deu à época para atestar a eficiência do modelo. "Participei da criação da chuteira desde o princípio, inclusive dos detalhes mais técnicos. Encontro todo o conforto e, tecnicamente, o calçado é perfeito. Estou muito contente com o design."
O preço ao consumidor da Mercurial Vapor III -a "top de linha" da empresa, lançada com uma imensa campanha de marketing- pode ajudar a explicar parte do imbróglio.
Um par da chuteira custa R$ 599 em lojas do Brasil, mais que o dobro do modelo anterior, a Mercurial Vapor II, que sai por R$ 229.


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