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MARILENE FELINTO
Mulher que gosta de marido
Não existe uma única coisa no
mundo em torno da qual mulheres se juntem como os homens
em torno de futebol. Ainda que
digam novela, ninguém briga por
novela, nem cria campeonato,
nem arma torcidas.
Numa mesa de almoço com jornalistas de esportes aqui em Paris, a conversa era essa -velha
conversa, é verdade. Que termina
sempre do mesmo jeito também:
os homens não sabem dizer de
onde vem tanta paixão pelo jogo.
Emperram num certo ponto da
explicação. Não ultrapassam certo estágio de inconsciência -nível primitivo em que o jogo se
instala na cabeça deles.
Dizer que mulher gosta de futebol é balela. As que gostam, o
fazem porque os maridos gostam.
Como já dizia Schopenhauer, e
um amigo meu, mulher nasceu
para agradar marido. Se o marido joga tênis, ela vira especialista
em tênis, se o marido é político,
ela se prepara para ser primeira-dama e assim por diante.Claro que tem mulher que gosta de
futebol porque sempre gostou de
brincadeira de menino, que se
identifica, coisa e tal. Mas são a
minoria da minoria.
O jogo é uma perda de tempo,
duas horas para uma bola entrar
dentro duma rede -mulher não
tem tempo para isso, vive biologicamente ocupada com a reprodução e os cuidados com a espécie,
como também disse o filósofo.
Se o menino chorar na hora do
jogo, é só reparar para ver quem é
que se levanta para trocar a fralda, dar a mamadeira etc.
Mulher gosta mesmo é de marido. É capaz de se anular por ele,
ainda hoje e para sempre. Não há
feminismo que mude isso. Nesse
aspecto, mulher é um ser estranho, porque nem personalidade
tem. Melhor: é dissimulada até
na personalidade que tem. Afinal, manter um marido, nos dias
de hoje especialmente, exige muita personalidade.
Além disso, não se pode dizer
que futebol é um esporte compatível com o corpo feminino, embora não seja pior do que a violenta pegação do rugby. É exatamente essa excessiva proximidade física que não emplaca com
mulheres em geral.
Por falar em "pegação", lembrei
de que pouco tempo atrás, um
amigo meu, fanático por futebol,
teve o seguinte diálogo com seu
filho de 6 anos:
-Pai, amanhã é aniversário do
Rui. Quero comprar um presente.
-Tudo bem, a gente compra.
-Vou comprar o vídeo do Ronaldinho pra ele. Você compra?
-Claro. Ele vai gostar?
-O Rui adora o Ronaldinho,
ele é fanático pelo Ronaldinho, só
fala nisso o tempo todo. Eu acho
que o Rui é bicha.
O pai, chocado, reagiu:
-Mas como assim, filho? Eu
também adoro futebol e não sou
bicha, ora essa.
Os meninos, na sua espontaneidade invejável, apreendem logo o
outro lado do universo macho futebolístico. E são admiravelmente solidários com os amiguinhos.
É toda uma inconsciência.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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