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CLÓVIS ROSSI
"Fracassomania" é coisa nossa até no futebol
Se o presidente Fernando Henrique Cardoso soubesse ao
menos quantos jogam de cada lado no futebol, hipótese altamente
improvável, certamente diria que
também nesse território os brasileiros são "fracassomaníacos".
Até a Rede Globo de Televisão,
que é uma espécie de Conde Affonso Celso eletrônico (aquele do
ufanismo exacerbado), anda
meio borocoxô com a seleção.
A mídia impressa, então, nem
se fala.
Mas, por enquanto, são só os
brasileiros a duvidar de seu próprio time. Na William Hill, uma
das principais casas de apostas
londrinas, o Brasil continuava,
ontem, favorito disparado.
Cada 4 libras esterlinas de
aposta no Brasil rendia apenas 11
de volta.
Já uma libra apostada na França (agora a segunda colocada) dá
um retorno de seis libras.
Essa é a cotação dos que apostam mais que torcem, porque,
afinal, ninguém rasga dinheiro
só por patriotismo.
Mas não é diferente a cotação
do Brasil entre os que dão palpites sem pôr dinheiro em cima. A
firma holandesa de pesquisas Nipo ouviu 2.800 torcedores de sete
países europeus (Holanda,
Grã-Bretanha, Bélgica, França,
Espanha, Alemanha e Itália).
Deu Brasil de novo: 24% dos
consultados dizem que a seleção
brasileira repetirá em 1998 o
triunfo de 1994. É o dobro, exatamente, dos que apontam Alemanha e Itália (12% cada) como favoritos.
Note-se que, nesse caso, o "patriotismo" conta: na Grã-Bretanha, a maioria relativa (26%)
aposta na Inglaterra. Mas, mesmo assim, é empate estatístico
com os 25% que acham que o
Brasil leva.
É muito possível que apostadores e pesquisados não estejam
lendo ou vendo nada sobre a seleção brasileira. Mas, ainda que
estivessem, não creio que a opinião dos torcedores e apostadores
(ao menos os europeus) fosse mudar substancialmente.
No futebol, ao contrário do que
ocorre no resto, o brasileiro não
tem motivos para "fracassomania". Há praticamente meio século (desde a Copa de 50 pelo menos), o Brasil no futebol é uma
potência, não emergente, mas
consolidada.
É o que os Estados Unidos são
no resto. Pode derrapar aqui e
ali, mas está sempre por cima.
Basta recordar fatos que devem
estar na cabeça de todos, pelo
menos de todos os que acompanham futebol: o Brasil é o único
país do mundo que conseguiu
disputar, até agora, todas as fases
finais de todas as Copas. E é
igualmente o único que ganhou
quatro títulos.
Ninguém ficará lá muito surpreso se a economia desandar,
vitimada pelos famosos déficits
externo e fiscal. Para não mencionar o absurdo déficit social, o
maior e mais obsceno de todos.
Mas, no futebol, se a seleção
fracassar, aí sim o mundo inteiro
ficará abismado.
Até porque, se a seleção tem
problemas (e são muitos), os outros também os têm. A Inglaterra
já perdeu Gascoigne, seu jogador
mais habilidoso. Agora, está todo
mundo caindo de pau no grandalhão Teddy Sheringham, pilhado
numa boate do Algarve (Portugal), fumando, bebendo e bolinando uma mulher.
Na Holanda, o próprio técnico
Guus Hiddink abandonou a esperança de contar com Dennis
Bergkamp para o jogo de estréia
contra a Bélgica. É o eixo da seleção holandesa, eleito o jogador
do ano na Premier Ligue, a liga
inglesa.
É como diz o Ronaldinho: o
Brasil só tem um adversário, o
próprio Brasil.
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