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Clóvis Rossi
Estranha final
AO TERMINAR a primeira fase do Mundial, duvido que alguém, em seu juízo perfeito, apostasse numa final
entre França e Itália. Nem
sequer apostaria que qualquer uma das duas pudesse
estar em Berlim no dia 9.
A rigor, a Itália chega à final tendo disputado apenas duas partidas boas,
contra Ucrânia e Alemanha. A França, menos. Jogou alguns minutos bem
(os decisivos) contra a Espanha, bem contra o Brasil
praticamente o tempo todo, e foi só razoável ontem,
contra Portugal. Tanto que
a partida acabou decidida
por um pênalti, que, embora claro, foi cometido mais
por precipitação do zagueiro Ricardo Carvalho do que
por haver real risco de gol
na ação de Thierry Henry.
Esse tipo de final mostra
que, bem feitas as contas,
não foi exatamente o melhor Mundial de todos os
tempos, longe disso.
Para começar, só havia
uma equipe que parecia estar acima das outras, justamente a brasileira. Não estava. A Alemanha ainda
deu a impressão de que,
empurrada pelo público e
pela tradição, acabaria sendo superior às demais.
Mas, justamente na hora
da decisão, contra Argentina, primeiro, e Itália, depois, caiu muitíssimo de
rendimento. Poderia -e
merecia- ter perdido já da
Argentina, tivesse o técnico José Pekerman um pouco mais de coragem.
A França, ao contrário,
subiu de produção, para
surpresa até de seu público
na Alemanha, que, ao final
da fase de classificação, já
estava abandonando o time, pela sua ineficiência.
Tem dois jogadores de alto nível, Zidane e Henry,
que, quando se juntam na
frente, criam problemas
sérios para qualquer adversário. E tem Ribéry, a revelação, jogador que, além de
veloz, consegue ficar com a
bola mesmo enroscando-se com vários adversários.
A Itália, a outra finalista,
também cresceu na competição. Mostrou-se sólida
nas duas partidas mais recentes, mas é mais força
que jeito. Ganhou assim.
Quanto ao Brasil, o jogo
de ontem entre Portugal e
França serviu, se ainda fosse preciso, para demonstrar que um pouquinho
que fosse de empenho, de
atitude, como se gosta de
dizer hoje, teria certamente produzido outro resultado. Portugal, sem mágicos,
foi levemente superior aos
franceses. Merece, portanto, a festa (modesta, mas
festa) que Lisboa fazia ontem à noite.
crossi@uol.com.br
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