São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Brasil aposta na lentidão por pódio na maratona

Atletas do país contam com tradição de marcas mais lentas na prova olímpica

Recorde dos Jogos para a distância, estabelecido em 1984, não está entre os 146 melhores tempos da lista da federação internacional


ADALBERTO LEISTER FILHO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um brasileiro, Vanderlei Cordeiro de Lima, espantou o mundo na maratona olímpica de Atenas, há quatro anos, e quase conquistou o ouro. A mesma surpresa, de um azarão na liderança, pode ser reeditada na competição de 42,195 km em Pequim, no mês que vem.
"Será uma prova lenta, o que pode favorecer os brasileiros, que não são tão rápidos, e prejudicar os quenianos, que têm tempos fortes. Vai depender do desgaste de cada um", analisa Adauto Domingues, técnico de Marilson dos Santos, vencedor da Maratona de Nova York-06 e um dos brasileiros na prova.
Para José Telles, 37, outro atleta do país que participará da maratona, as más condições ambientais e de clima e temperatura na China irão prejudicar os azarões menos do que os atletas favoritos ao ouro.
Um deles, o etíope Haile Gebrselassie, recordista mundial da maratona, já desistiu dos Jogos, preocupado com a poluição da capital chinesa.
"Ele fala que tomou a decisão por sofrer de asma. Mas acho que não é só isso. O Haile e os quenianos só entram em provas rápidas. Eles preferem maratonas em que é possível fazer marcas expressivas", diz Teles.
Historicamente, as maratonas olímpicas não preenchem essa expectativa. O recorde olímpico é o do português Carlos Lopes, obtido em Los Angeles-84 (2h09min21s), cidade que também não oferece boas condições aos maratonistas.
A marca não aparece nem entre as 146 melhores da história, em listagem oficial da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo).
Pequim não deve fugir à tradição olímpica. O ritmo da corrida deve ser bem mais lento do que o conseguido pelo etíope quando bateu seu recorde, em Berlim, no ano passado.
Para cumprir 42,195 km em 2h04min26s, Gebrselassie fez cada quilômetro em 2min57s, em média. Já o vencedor da Maratona de Pequim deste ano, o mongol Serod Batochir fez 3min11s por quilômetro. A diferença parece pequena. Não é.
"É enorme. Não dá para comparar", diz Henrique Viana, técnico de Franck Caldeira, ouro no Pan-07 e terceiro maratonista brasileiro em Pequim.
"Mas são atletas diferentes. O Haile é recordista. E a Mongólia não tem tradição nenhuma na maratona", pondera.
Ele afirma que é difícil prever uma marca para a corrida, mas crê que o vencedor cumprirá o percurso em até 2h12min.
"A altimetria da prova é boa, não há muitas subidas. O que preocupa é a temperatura, em torno de 34C, e a umidade do ar de 75%. E, acima disso, há os poluentes, como ozônio, monóxido de carbono e partícula de poeira", enumera o técnico.
E, para os brasileiros, com essa marca, a prova fica sem favoritos. "Acima de 2h12min, qualquer um pode vencer. E o fato de não existir um favorito destacado é bom para os brasileiros", conta Teles, que completou 13 maratonas na carreira.
"A prova está mais aberta do que nunca. Vai depender de como cada um vai estar no dia da corrida e como o corpo irá reagir ao ambiente, já que não dá para fazer uma adaptação à poluição", comenta Marilson.
Além do argumento técnico, Teles aposta numa peculiaridade olímpica. "Ninguém lá vai correr atrás de tempo [marcas], mas atrás das medalhas."

1896
O grego Spiridon Louis, um dos três atletas que completaram a prova de 40 km, bebeu vinho ao menos duas vezes ao longo do percurso. Com sede no final da prova, ele pediu água, mas recebeu conhaque, que cuspiu no ato. Cravou 2h58min50s e entrou para a história como vencedor da primeira maratona olímpica.

1900
Favorito local, o francês George Daunis parou para se refrescar no 12º km da prova, disputada sob 39C em Paris. Após algumas cervejas num café, desistiu da corrida, vencida por Michel Théato. "Estou feliz, como corredor e como francês", disse o campeão, nascido em Luxemburgo e cidadão daquele país pelo resto da vida.

1904
A prova de Saint Louis foi disputada sob 32C e teve só um ponto de hidratação. Fred Lorz, dos EUA, cruzou a linha de chegada na frente. Mas foi desqualificado por ter percorrido 17 km de carro. O campeão foi o norte-americano Thomas Hicks, que tomou duas doses de sulfato de estricnina antes de concluir a prova de 40 km.


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