São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2010

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UM MUNDO QUE TORCE

Prontos para o mundial (de hóquei)

Mesmo com a ida às oitavas de final na Copa, Eslováquia ainda não adota o futebol como o seu esporte preferido

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BRATISLAVA

Era feriado na Eslováquia ontem. Dos bons, emendado no domingo. Homenagem a são Cirilo e a são Metódio, patronos da Europa, fundadores da literatura eslava.
Não no clube Ruzinov, na região oeste de Bratislava.
Às 14h30, os meninos chegaram. Treinaram pesado por uma hora, sob gritos incessantes do técnico. Nas arquibancadas, pais e mães aproveitavam a segunda de folga para assistir à ralação.
Em comum, no longo prazo, alguns objetivos: tornar-se profissional, jogar no exterior, atuar pela seleção. Para logo, uma meta mais palpável: ver o Mundial. De perto. Já em 2011.
Copa? Futebol? Esquece. Os meninos, o técnico, os pais, as mães e enorme parte da Eslováquia são loucos por hóquei no gelo. E eles não veem a hora de abril chegar.
Daqui a nove meses, Bratislava e Kosice, respectivamente a capital e a segunda maior cidade do país, recebem 16 seleções para "o mais importante evento esportivo da história eslovaca". A definição é da federação local.
A gelada arena do Ruzinov foi a 25ª parada da série "Um Mundo Que Torce". Para chegar a Bratislava, troca de aviões em Praga, na República Tcheca. Contando escalas em lugares que não jogaram a Copa, a Folha já passou por 37 países desde 11 de junho.
"A popularidade do futebol está em alta depois do que a nossa seleção fez na Copa. A Eslováquia foi muito bem. Pena que perdeu para... quem mesmo?", solta Milan Vojnoda, 34. Para a Holanda.
Após baterem a campeã Itália e se classificarem em segundo no grupo, os eslovacos caíram nas oitavas.
"Há 40 anos, o futebol tinha mais força aqui. Hoje, ainda tem. Mas muitos meninos preferem o hóquei", completa, enquanto seu filho, Michael, 10, é o que mais sofre no treino. Trata-se do único goleiro da turma.
A Tchecoslováquia foi vice-campeã no Chile, em 1962, perdendo para o Brasil.
"Gosto de futebol, torço para o Manchester United. Mas meu esporte favorito é o hóquei. Quero ver todas as partidas no ano que vem", diz Michael. "Sou fã do Villa [atacante da Espanha]. Mas meu ídolo mesmo é o Satan", afirma Roman Sidny, 12.
Ele leva no capacete o emblema da seleção eslovaca e o número 18, utilizado por Miroslav Satan, astro da seleção eslovaca e do Boston Bruins, a liga americana.
A NHL é o tal sonho a longo prazo dos garotos. "Receber o Mundial será ótimo para esta geração. Em 2011, seremos o centro mundial do hóquei. E estaremos prontos", comenta o técnico do time, Peter Kudelka, 22.
Mas ainda não estão. Numa repetição do que ocorreu na África do Sul e numa prévia do que deve ocorrer no Brasil, as obras sofrem com atrasos. Em Bratislava, a casa do Slovan, maior clube da cidade, com capacidade para 8.000 pessoas, foi demolida. No lugar, está sendo erguida uma arena para 13.600.
No centro histórico, uma barraca de camisetas dá a dimensão do quanto que a bola ainda precisa rolar na Eslováquia. A camisa da seleção de hóquei custa € 45. A da equipe de futebol, € 25.


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