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Só comida assusta Brasil, à vontade na "Gaza" olímpica
Entre os prédios anônimos dos EUA e as cercas de Israel, delegação olímpica nacional faz festa monitorada por agentes, barreiras eletrificadas e câmeras de segurança
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
O jovem Che joga xadrez e ensina um pouco de geopolítica dentro da Vila Olímpica de Atenas.
No conjunto habitacional que
concentrará durante as próximas
semanas a nata do esporte mundial, o medo e o orgulho contrastam a metros de distância.
Uma imagem da altura de dois
andares do guerrilheiro argentino
e outra do seu companheiro de revolução Fidel Castro ilustram a
concentração que abrigará os 156
atletas cubanos nos Jogos.
É algo bem distinto do que
adorna os prédios israelenses:
uma grande cerca azul, com dois
guardas na porta, formando uma
segunda barreira dentro da barreira maior que cerca toda a Vila.
Bem perto dali, um conjunto de
sete prédios com várias bandeiras
verde-amarelas indica a concentração brasileira. Do alto de uma
das habitações, avista-se toda a lateral do conjunto vizinho, na qual
as paredes não exibem nenhum
sinal patriótico. É a base dos EUA.
Explica-se: o próprio Comitê
Olímpico Americano pediu a seus
atletas que se comportassem de
maneira discreta em Atenas, para
não cutucar o antiamericanismo
que só fez crescer pelo mundo
após a guerra no Iraque.
Já a cerca olímpica de Israel tem
motivação histórica: em 1972, terroristas palestinos invadiram a
Vila de Munique e deixaram um
saldo de 11 atletas do país mortos.
Entre EUA e Israel aparece o
prédio brasileiro. Antes dos Jogos, a Polícia Federal torcia para
não ficar perto dos americanos
dentro da Vila. Não deu, e a piada
já corre solta entre os atletas nacionais: o Brasil está na "Faixa de
Gaza" da Vila Olímpica.
"Ficar perto de EUA e Israel não
compromete a nossa segurança",
diz o chefe da missão brasileira,
Marcus Vinícius Freire, que explica que cada país indica onde gostaria de ficar sem saber quem está
ao lado. A única coisa que o Brasil
pôde escolher foi se alojar longe
do barulho do restaurante principal, que pode servir 5.200 pessoas,
e da zona internacional -local
com lojas e lanchonetes, onde o
atleta pode encontrar a imprensa.
O restaurante, aliás, é um dos
locais que Freire aponta como
tendo potencial de problema.
"Você chega, senta e não sabe
quem está do lado", diz ele.
Outro ponto-chave para a segurança é o transporte da Vila para
os locais de prova. Cada ônibus
que deixa o conjunto leva dois seguranças e segue protegido por
um carro com mais quatro agentes. Quem habita um dos 366 edifícios da Vila tem a proteção de
uma cerca eletrificada, de policiais que circulam pelo conjunto e
de câmeras de vigilância.
Contudo a Vila segue a regra
das demais instalações olímpicas
e, a uma semana dos Jogos, ainda
é um canteiro de obras -árvores
e grama são plantadas às pressas.
Ontem, o Comitê Organizador
disse que 171 dos 202 países que
estarão nos Jogos têm algum representante na Vila. Mas é pouco,
e a área de 1,2 milhão de metros
quadrados está quase deserta.
A segurança ostensiva e a falta
de gente parecem não afetar
quem tentará o estrelato. "A Vila é
ótima", diz a ginasta Daiane dos
Santos, que habita pela primeira
vez a residência olímpica oficial.
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