São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Único culpado, Dodô prepara volta só

Atacante que foi suspenso pela CAS por doping faz treinos individualizados para retornar em novembro aos gramados

Jogador, que se diz inocente e demonstra desgosto com o Botafogo, verá na sexta o aniversário de sua punição internacional, alegria da Fifa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dodô é simples. Femproporex é complicado. A soma dos dois resultou na maior punição a um jogador de futebol brasileiro por doping na história.
Punição que está para acabar. Na sexta-feira, o anúncio da CAS (Corte de Arbitragem do Esporte) sobre o polêmico caso do atacante completará um ano. E, no dia 7 de novembro, ele estará livre para jogar.
"É uma punição dura que estou passando. Uma temporada completa. Se você paga por uma coisa que fez, até que aceita, mas no meu caso não. Era algo que fugia da minha responsabilidade, coisa que me foi dada pelo clube [Botafogo], pelos médicos do clube, pelo departamento de fisiologia. Fui pego como exemplo", desabafa Dodô após mais um dia de treino.
O "artilheiro dos gols bonitos" mantém a forma, sem grama e outros boleiros por perto, numa academia em São Paulo que faz trabalho individualizado e é dirigida pelo fisiologista do Santos, Claudio Pavanelli.
"Em nenhum momento pensei em desistir porque não podia parar desse jeito, com uma baita injustiça, uma carreira que eu ralei para ter", fala o jogador que teve a sua longa suspensão festejada por Joseph Blatter, o presidente da Fifa.
"A CAS tomou decisão importante, que indica grande avanço na luta contra o doping", comentou satisfeito há um ano o dirigente suíço.
A corte considera Dodô suspenso desde 6 de dezembro de 2007, ano em que ele atuou dopado contra o Vasco no Brasileiro. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu primeiro Dodô por 120 dias, depois o absolveu. Fifa e Wada (Agência Mundial Antidoping) apelaram no caso, que rendeu um ano e meio de inatividade.
"O meu filho de cinco anos [Pedro] entende agora [de futebol] e pergunta porque estou sem jogar. Não dá para explicar detalhes, tem que falar que o papai daqui a pouco volta porque não pode jogar ainda. Mas ele já entende. O Enrico [o segundo filho, de dois anos] não acompanhou nada [da carreira do pai]. É pelos meus filhos também que quero voltar."
A revolta de Dodô com a suspensão é porque ele consumiu cápsula de cafeína ministrada pelo médico do Botafogo, Márcio Cunha. O time culpou uma farmácia de manipulação pela contaminação de três lotes de cápsulas com femproporex e saiu ileso do julgamento, assim como o médico, criticado posteriormente pela mulher de Dodô, Tatiana, por se "isentar".
"Depois de toda a novela e de ser absolvido no Brasil, o caso foi à Suíça, e eles não querem saber o que aconteceu, só o resultado final, que foi o doping. Ficou comprovado que teve problema lá no clube e, depois, que veio contaminado de onde os médicos do Botafogo pediam esse suplemento", afirma Dodô, mesmo ciente do conceito básico de doping da Wada.
"Quando eu fui lá no julgamento [na Suíça], já senti que queriam punir. Eles falavam que eu tinha que saber o que eu tomo dentro do clube. Se você for em qualquer clube do mundo, os médicos e os fisiologistas são responsáveis por aquilo que você toma, todo tipo de medicação, suplemento alimentar. O jogador confia porque é impossível ler a bula de tudo que te dão, isso não existe."
E Dodô, que gostava tanto do Botafogo, perdeu a confiança no clube, que apostava no atacante para ganhar o Brasileiro-2007, vencido pelo São Paulo.
"A partir de tudo o que aconteceu, eu já não tinha mais cabeça para continuar no Botafogo, já não confiava naquilo que as pessoas davam. Foi chegando o final da temporada, e eu já tinha manifestado o interesse de deixar o time por não confiar mais naquilo que eu tomava dentro do clube, porque o único prejudicado fui eu. O médico continuou, o fisiologista continuou, o clube continua..."
O médico Márcio Cunha deixou o Botafogo no primeiro semestre do ano seguinte. Estava desgastado com o técnico Cuca e com outras pessoas no clube desde o caso Dodô. Ele, que era homem de confiança do então presidente Bebeto de Freitas, não foi localizado em seu consultório para falar do episódio.
"Eu e o Botafogo processamos o laboratório [que fez as cápsulas]. Está correndo, até falei com o advogado do caso. Mas já fiquei uma temporada sem jogar. O prejuízo foi grande. Eu sempre fui um cara que todo mundo respeitou por ter boa índole. As pessoas sabem que eu não teria coragem de fazer isso, ainda mais aos 33 anos, depois de uma carreira toda."
Dodô é grato em especial às personalidades que o apoiaram no caso. Uma, o presidente do país, que ele já conhecia. Outra, o técnico Vanderlei Luxemburgo, com quem ele mal falava.
"O Lula manifestou apoio para mim. Ele falou comigo, com os advogados, deu entrevista, logo depois da punição no Brasil. Conheço ele da zona leste de São Paulo, ele era daqui de São Bernardo. E corintiano."
"Treinadores que nunca trabalharam comigo me ligaram. O Luxemburgo me ligou no outro dia [após a suspensão] para falar "Não trabalhei com você, mas a gente conhece pessoas que trabalharam com você...", pessoas de fora do país me ligaram, foi muito legal [o apoio]."
Ele não se sente abandonado por colegas de profissão. Diz que foi uma opção sua se isolar e não treinar em um ex-clube.
"Poderia ter as portas abertas em todos. É que um ano é muito tempo. A academia é um lugar que me oferece tudo, fiz toda a parte muscular, todos os trabalhos, estou bem. E é mais tranquilo para mim, sossegado, venho todo dia. Quando estiver no último mês [da suspensão], se tiver acertado alguma coisa fora, como a gente tem conversado, procurarei um time aqui para treinar mais com bola."
Às quartas e aos sábados, Dodô faz coletivos com "pessoal que está sem jogar". "Tô com saudade de falar de futebol".


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