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Único culpado, Dodô prepara volta só
Atacante que foi suspenso pela CAS por doping faz treinos individualizados para retornar em novembro aos gramados
Jogador, que se diz inocente e demonstra desgosto com o Botafogo, verá na sexta o aniversário de sua punição internacional, alegria da Fifa
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dodô é simples. Femproporex é complicado. A soma dos
dois resultou na maior punição
a um jogador de futebol brasileiro por doping na história.
Punição que está para acabar. Na sexta-feira, o anúncio
da CAS (Corte de Arbitragem
do Esporte) sobre o polêmico
caso do atacante completará
um ano. E, no dia 7 de novembro, ele estará livre para jogar.
"É uma punição dura que estou passando. Uma temporada
completa. Se você paga por
uma coisa que fez, até que aceita, mas no meu caso não. Era algo que fugia da minha responsabilidade, coisa que me foi dada pelo clube [Botafogo], pelos
médicos do clube, pelo departamento de fisiologia. Fui pego
como exemplo", desabafa Dodô
após mais um dia de treino.
O "artilheiro dos gols bonitos" mantém a forma, sem grama e outros boleiros por perto,
numa academia em São Paulo
que faz trabalho individualizado e é dirigida pelo fisiologista
do Santos, Claudio Pavanelli.
"Em nenhum momento pensei em desistir porque não podia parar desse jeito, com uma
baita injustiça, uma carreira
que eu ralei para ter", fala o jogador que teve a sua longa suspensão festejada por Joseph
Blatter, o presidente da Fifa.
"A CAS tomou decisão importante, que indica grande
avanço na luta contra o doping", comentou satisfeito há
um ano o dirigente suíço.
A corte considera Dodô suspenso desde 6 de dezembro de
2007, ano em que ele atuou dopado contra o Vasco no Brasileiro. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu primeiro Dodô por 120 dias,
depois o absolveu. Fifa e Wada
(Agência Mundial Antidoping)
apelaram no caso, que rendeu
um ano e meio de inatividade.
"O meu filho de cinco anos
[Pedro] entende agora [de futebol] e pergunta porque estou
sem jogar. Não dá para explicar
detalhes, tem que falar que o
papai daqui a pouco volta porque não pode jogar ainda. Mas
ele já entende. O Enrico [o segundo filho, de dois anos] não
acompanhou nada [da carreira
do pai]. É pelos meus filhos
também que quero voltar."
A revolta de Dodô com a suspensão é porque ele consumiu
cápsula de cafeína ministrada
pelo médico do Botafogo, Márcio Cunha. O time culpou uma
farmácia de manipulação pela
contaminação de três lotes de
cápsulas com femproporex e
saiu ileso do julgamento, assim
como o médico, criticado posteriormente pela mulher de
Dodô, Tatiana, por se "isentar".
"Depois de toda a novela e de
ser absolvido no Brasil, o caso
foi à Suíça, e eles não querem
saber o que aconteceu, só o resultado final, que foi o doping.
Ficou comprovado que teve
problema lá no clube e, depois,
que veio contaminado de onde
os médicos do Botafogo pediam
esse suplemento", afirma Dodô, mesmo ciente do conceito
básico de doping da Wada.
"Quando eu fui lá no julgamento [na Suíça], já senti que
queriam punir. Eles falavam
que eu tinha que saber o que eu
tomo dentro do clube. Se você
for em qualquer clube do mundo, os médicos e os fisiologistas
são responsáveis por aquilo que
você toma, todo tipo de medicação, suplemento alimentar.
O jogador confia porque é impossível ler a bula de tudo que
te dão, isso não existe."
E Dodô, que gostava tanto do
Botafogo, perdeu a confiança
no clube, que apostava no atacante para ganhar o Brasileiro-2007, vencido pelo São Paulo.
"A partir de tudo o que aconteceu, eu já não tinha mais cabeça para continuar no Botafogo, já não confiava naquilo que
as pessoas davam. Foi chegando o final da temporada, e eu já
tinha manifestado o interesse
de deixar o time por não confiar
mais naquilo que eu tomava
dentro do clube, porque o único
prejudicado fui eu. O médico
continuou, o fisiologista continuou, o clube continua..."
O médico Márcio Cunha deixou o Botafogo no primeiro semestre do ano seguinte. Estava
desgastado com o técnico Cuca
e com outras pessoas no clube
desde o caso Dodô. Ele, que era
homem de confiança do então
presidente Bebeto de Freitas,
não foi localizado em seu consultório para falar do episódio.
"Eu e o Botafogo processamos o laboratório [que fez as
cápsulas]. Está correndo, até
falei com o advogado do caso.
Mas já fiquei uma temporada
sem jogar. O prejuízo foi grande. Eu sempre fui um cara que
todo mundo respeitou por ter
boa índole. As pessoas sabem
que eu não teria coragem de fazer isso, ainda mais aos 33 anos,
depois de uma carreira toda."
Dodô é grato em especial às
personalidades que o apoiaram
no caso. Uma, o presidente do
país, que ele já conhecia. Outra,
o técnico Vanderlei Luxemburgo, com quem ele mal falava.
"O Lula manifestou apoio para mim. Ele falou comigo, com
os advogados, deu entrevista,
logo depois da punição no Brasil. Conheço ele da zona leste de
São Paulo, ele era daqui de São
Bernardo. E corintiano."
"Treinadores que nunca trabalharam comigo me ligaram.
O Luxemburgo me ligou no outro dia [após a suspensão] para
falar "Não trabalhei com você,
mas a gente conhece pessoas
que trabalharam com você...",
pessoas de fora do país me ligaram, foi muito legal [o apoio]."
Ele não se sente abandonado
por colegas de profissão. Diz
que foi uma opção sua se isolar
e não treinar em um ex-clube.
"Poderia ter as portas abertas
em todos. É que um ano é muito tempo. A academia é um lugar que me oferece tudo, fiz toda a parte muscular, todos os
trabalhos, estou bem. E é mais
tranquilo para mim, sossegado,
venho todo dia. Quando estiver
no último mês [da suspensão],
se tiver acertado alguma coisa
fora, como a gente tem conversado, procurarei um time aqui
para treinar mais com bola."
Às quartas e aos sábados, Dodô faz coletivos com "pessoal
que está sem jogar". "Tô com
saudade de falar de futebol".
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