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FUTEBOL
Fanático pelo Independiente, empresário cria fundo, levanta US$ 6,2 mi e arruma atletas para pôr time no topo
Mecenas tira equipe argentina do buraco
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Desafiando a velha máxima do
futebol de que "torcida não ganha
jogo", um torcedor fanático do
Independiente, uma das mais tradicionais agremiações da Argentina, decidiu injetar milhões de
dólares em seu clube do coração e
pode decidir o torneio nacional.
O torcedor é o empresário Daniel Grinbank, 48, que meses atrás
criou um fundo de investimentos
em futebol e levantou US$ 6,2 milhões. Com o dinheiro, Grinbank
comprou três bons jogadores em
atividade nos gramados argentinos -o meia Daniel Montenegro, o lateral Federico Domínguez
e o volante Lucas Pusineri- e os
emprestou ao Independiente.
Os três jogadores, somados a
outras três contratações feitas pelos próprios dirigentes, promoveram uma verdadeira revolução no
clube. Após amargar a última colocação no torneio nacional do
primeiro semestre, na pior campanha de sua história, o Independiente está na liderança do Apertura-2002 (o Campeonato Argentino disputado nos últimos seis
meses do ano), a nove rodadas de
seu final. O time, que anteontem
derrotou o Arsenal por 3 a 2, ocupa a ponta há várias rodadas.
A equipe, que começou o atual
campeonato ameaçada de rebaixamento -na Argentina, caem
para a segunda divisão os três clubes com pior campanha na média
dos últimos cinco torneios-, no
momento praticamente garantiu
sua permanência na elite do futebol do país.
Responsável pela reviravolta,
Grinbank disse à Folha que só decidiu investir no futebol devido à
crise econômica e à desvalorização cambial na Argentina. Empresário do setor musical, ele vendeu no começo do ano sua empresa de promoção de shows
-que levara ao país Madonna e
os Rolling Stones, entre outros-
porque "é impossível cobrar em
pesos e pagar em dólares".
Ao mesmo tempo, Grinbank
percebeu que sua outra paixão, o
futebol, representava um terreno
fértil para o fechamento de bons
negócios. Com a atual crise dos
clubes europeus, havia, segundo
ele, a oportunidade de comprar
bons jogadores locais a preços
atrativos e, no futuro, revendê-los, mais valorizados, no exterior.
Além do investido do próprio
bolso, Grinbank criou um fundo
local e conseguiu convencer outros 20 investidores a colocar dinheiro no empreendimento.
A escolha do Independiente foi
natural. Fanático pelo clube, ele
conta que mesmo nas constantes
viagens à Europa, onde possui outras empresas, sempre retorna
nos finais de semana para a Argentina para poder assistir aos jogos do time no próprio estádio.
Grinbank nega, no entanto, que
o fanatismo tenha sido o único
motivo para a escolha do Independiente. Segundo ele, o time
possui uma torcida numerosa,
que estava afastada dos estádios
devido apenas às campanhas medíocres nos últimos anos -o último título nacional foi em 1994.
Ele também diz que, apesar de
ser "difícil", tenta não misturar a
paixão pelo clube com os negócios que terá pela frente. "Sou a
cabeça de um fundo de investimentos e, ao mesmo tempo, um
torcedor. Quando vender os jogadores, sei que serei insultado pela
torcida, da mesma forma como
hoje sou idolatrado. Mas esse é o
objetivo do fundo", afirma.
O empresário acrescenta que
seu projeto defende interesses comuns: o clube foi o que mais levou
torcedores a estádios neste semestre -superando os populares Boca Juniors e River Plate-, atraiu
novos sócios e vendeu massivamente produtos licenciados.
Já a torcida está contente e voltou a sonhar com os tempos áureos do Independiente. Nas décadas de 60 e 70, ganhou sete Taças
Libertadores e passou a ser carinhosamente chamado pelos seus
seguidores de "Rei de Copas".
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