São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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OLIMPÍADA

Presidente do COB ganha mais quatro anos no poder e tenta acertar as prestações de conta do dinheiro público

Reeleito, Nuzman promete respeitar a lei

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova regulamentação da Lei Piva começa a dar dor de cabeça para as confederações olímpicas. E ontem virou pauta principal na assembléia que confirmou a reeleição de Carlos Arthur Nuzman.
De posse de mais quatro anos à frente do Comitê Olímpico Brasileiro, o presidente aproveitou a reunião para discutir a utilização do dinheiro das loterias e "enquadrar" as entidades presentes.
O motivo: a pressão estabelecida com o decreto que regulamenta a utilização dos recursos da Lei e que provocou chiadeira entre os presidentes de confederações.
Por uma mudança de estatuto, Nuzman, que tem mandato até 2008, ganhou a chance de perpetuar seu grupo no poder até 2012.
"Ele relatou a lei e disse que teremos de nos enquadrar", contou o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Ary Graça Filho, que presidiu a sessão no Rio.
De acordo com a nova regulamentação, comitês e confederações deverão elaborar um planejamento de quatro anos para o uso do dinheiro. Quem não cumprir pode ter de devolver o valor.
A forma de aplicação também muda. Gastos com manutenção de sedes, passagens, hospedagens, transporte e alimentação serão limitados. Obras, contratação de serviços, publicidade, aquisição e locação de bens só podem ser feitos por meio de licitação.
O próprio COB está descumprindo a regra. Pelo decreto, ele tinha 60 dias a partir de 13 de julho para pôr na internet o regulamento do funcionamento das escolhas. O prazo não foi cumprido.
"Alguns mecanismos não se aplicam à realidade do esporte. O handebol, por exemplo, compra passagens de ônibus para realizar as competições. Não há como licitar os bilhetes", disse Walcles Osório, presidente da Federação Brasileira de Vela e Motor.
A insatisfação com a nova forma de gerir os recursos fez o presidente da confederação de badminton, Luís Manuel da Fonseca Barreto, desistir da reeleição.
O dirigente, que enviou mensagem aos demais presidentes de confederações para reclamar e propor uma discussão sobre o novo cenário, não foi ontem ao Rio.
Segundo a assessoria do COB, ele e Bruno Caloi (ciclismo) não aclamaram Nuzman e o vice, André Richer, ontem.
"Parece que virou pecado pôr a mão no dinheiro. Essa norma provocou um engessamento da Lei Piva. Quem leva o esporte nas costas somos nós", declarou.
Confederações como a de badminton são a principal preocupação do presidente do COB. Nuzman considera que, com pouca verba e muitas vezes sem estrutura burocrática, elas não têm condições de auditar suas contas.
"No vôlei não temos problemas, contamos com duas auditorias. Mas eu tenho pena das [confederações] menores. Elas vão gastar todo o dinheiro para prestar contas", disse Graça Filho.
A CBV é uma das confederações mais beneficiadas e recebeu em 2003 aproximadamente R$ 1,2 mi -4% do total da verba das loterias. A confederação de badminton administrou o montante de cerca de R$ 410 mil ou 1%.
Para esclarecer questões sobre a prestação de contas, Nuzman pretende convidar algum auditor ou membro do Tribunal de Contas da União para debater a regulamentação com os dirigentes.
Cabe ao COB verificar os papéis enviados pelas entidades e encaminhá-los ao TCU. No mês passado, o tribunal detectou irregularidades e sugeriu a suspensão do repasse do dinheiro à confederação de tênis.
Apesar das dificuldades para fiscalizar as entidades, Nuzman gostaria de ter o poder ampliado. "O COB não tem poder de intervenção. Eu defendo que deveria ter na questão administrativa, não na técnica. Seria por um período pequeno só para regularizar problemas administrativos".


Colaboraram Eduardo Ohata e Luís Ferrari, da Reportagem Local, e Pedro Soares, da Sucursal do Rio


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