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FUTEBOL
Achismo e pensamento único
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Desde os anos 60, fala-se
muito que os zagueiros brasileiros são fracos. Essa avaliação
é muito mais pela comparação
com os craques do ataque. Os zagueiros atuais da seleção não estão entre os melhores do mundo,
mas são bons ou excelentes.
A deficiência da seleção não está na zaga, e sim no meio-campo.
Há também bons jogadores nessa posição, mas estamos mal, ou
melhor, bem acostumados e saudosos de um Didi, Gerson, Rivelino, Falcão, Ademir da Guia, Dirceu Lopes. É também muito importante ter um grande talento
nesse setor.
Esse é um problema antigo e
mundial. O motivo foi a divisão
no meio-campo entre os volantes,
que se preocupam demais com a
defesa, e os meias ofensivos, que
quase só pensam no ataque.
Acabaram os típicos armadores
talentosos e organizadores. Zidane é exceção.
Parreira, que muda pouco as
suas equipes, já escalou nove titulares para as três posições do
meio-campo: Gilberto Silva, Edmilson, Emerson, Renato, Kleberson, Juninho Pernambucano, Julio Baptista, Edu e Zé Roberto,
além de outros que foram eventualmente convocados, como Magrão e Dudu Cearense.
Com exceção do Juninho Pernambucano, que deu um pouco
mais de qualidade ao meio-campo, há pouca diferença entre os
outros. Nenhum faz falta.
Além de não serem craques, os
três volantes do meio se preocupam demais com a proteção aos
zagueiros e deixam quase toda a
armação para o meia de ligação.
Se os dois da frente forem típicos
centroavantes, o meia fica ainda
mais sobrecarregado.
Como não há nenhuma outra
boa opção individual, a única
tentativa para melhorar o meio-campo seria criar opções táticas.
Em dois anos com o Parreira, o
time jogou sempre da mesma forma. Uma das alternativas seria
colocar dois volantes e um meia
de cada lado, com funções mais
ofensivas do que defensivas. Assim joga o Arsenal.
Por causa da velocidade e habilidade, Kaká e Robinho seriam as
melhores opções para atuarem de
meias pelos lados, além dos dois
volantes e os dois Ronaldinhos na
frente. O time teria mais jogadores no meio-campo e no ataque.
Kaká e Robinho não seriam
também tão fixos como os meias
do Arsenal.
Gosto do Arsenal, mas não sou
tão entusiasmado com o seu futebol e a invencibilidade de 48 jogos
no Campeonato Inglês, quanto o
excelente comentarista Paulo Vinicius Coelho, da ESPN Brasil,
pois a maioria absoluta das equipes é fraca.
Outra opção, para utilizar durante algumas partidas, seria a
do Barcelona com uma linha de
três atacantes.
Numa coluna, escrevi que, se o
Rijkaard fosse técnico da seleção
brasileira, trocaria um volante
por um atacante e que o Parreira
nunca faria essa "loucura".
No último jogo, Rijkaard endoidou de vez, ao escalar, desde o início, um quarto atacante no lugar
do volante Edmilson. Não deu
certo. Ficou embolado.
Aí ele tirou dois atacantes e colocou dois armadores. O time melhorou e venceu.
Os técnicos, em todo o mundo,
fazem o contrário. Escalam vários
volantes, e no final, se o time estiver perdendo, trocam volantes
por atacantes.
Não sou entusiasmado com os
exageros do Rijkaard, mas é preciso haver diversidade no futebol
e em todos os setores da vida.
O pensamento único, seja em
toda a sociedade, na imprensa,
na seleção, no clube ou em qualquer lugar, empobrece a atividade humana. Há muitas maneiras
de se ver o mundo, de se ganhar e
de se perder.
Como já disse, tudo é discutível,
desde que sejam com bons argumentos. Não basta achar. É preciso dizer porquê.
Mudança de técnicos
Com Bonamigo, o Atlético-MG
não ganhava, mas era um time
organizado e dava a impressão
que iria melhorar. O problema
era mais individual do que coletivo. Não foi surpresa o crescimento
do Botafogo com o técnico.
Com Jair Picerni, o Atlético-MG
também não ganhava, mas não
havia esperança.
O time virou uma bagunça.
Não será surpresa também se
melhorar com Mário Sérgio, que
conhece bem os detalhes técnicos
e táticos.
Mário Sergio poderá fazer no
Atlético-MG o que o Tite e outros
técnicos fizeram: marcar bem e
ganhar várias partidas no sufoco.
Não sei se haverá tempo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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