São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÁBIO SEIXAS

Marcha a ré


Alonso, que no ano passado havia mostrado estar pronto, perdeu as estribeiras agora que está por baixo; surtou


IMOLA, 2005 , foi uma espécie de choque para todos. Ali, Alonso deixou de ser um menino apenas atrevido, um garoto prodígio colecionador de recordes de precocidade para se tornar, aos olhos da F-1, um piloto amadurecido, pronto para algo a mais, candidato mais forte a comandar a nova geração.
Fez por merecer o novo status segurando atrás de si um Schumacher ensandecido, que havia avançado do 13º para o segundo lugar num dos mais brilhantes desempenhos de uma carreira tão repleta de brilho.
O alemão, como de hábito, vinha destruindo todos os que estavam à frente. Mas encontrou Alonso e estancou. E olha que tentou de todo jeito. Pôs de lado, incomodou, ameaçou. Pressão demais para qualquer piloto normal. Não para o espanhol, que resistiu e venceu com o ferrarista no cangote.
A partir daí, deslanchou. Ganhou GP atrás de GP e levou o Mundial, quebrando ali, claro, outro recorde da pouca idade.
Assim, Alonso começou esta temporada como um piloto formado, pronto. E, numa repetição do campeonato passado, saiu ganhando GP atrás de GP. Tudo ia bem, tudo corria bem até que... a Ferrari despertou. Uma reação que começou como algo curioso, tornou-se problema sério, ameaça iminente e, em Xangai, alçou Schumacher à ponta da tabela.
Aí, o espanhol perdeu o chão e as estribeiras. E revelou seu outro lado. Demonstrar confiança e amadurecimento quando está por cima é fácil. Mas da primeira vez em que foi exigido e estava por baixo, surtou, enlouqueceu, pirou, foi impulsivo da maneira mais infantil e mais boba.
Acusar a Renault de sabotagem foi a atitude mais estúpida que ele poderia ter tomado agora. Primeiro, porque obviamente não é verdade -se pode conquistar os dois títulos, por que o time preferiria ganhar só um? Segundo, porque criou um clima de animosidade, de indignação, de aversão, de ruptura na equipe no momento crucial do campeonato.
Se não estava prejudicando Alonso, um ou outro membro da equipe começou a cogitar essa possibilidade nos últimos dias. E de nada adianta a chefia empenhar apoio público ao piloto. Uma porca mal apertada, um pouco mais de asa, um pneu com menos pressão e lá se vai mais uma corrida pro espaço.
Um causo: viajei de Xangai a Nagoya no mesmo vôo do espanhol. Webber e Kubica também estavam no avião. Como de praxe, havia motoristas da Williams e da BMW esperando para levar os dois últimos a Suzuka. Para Alonso, ninguém. De repente, lá estava o campeão mundial, abandonado no meio do aeroporto, olhar perdido, sem saber o que fazer.
Coincidência ou sinal do que vem aí? Resposta em duas semanas. Mas a solidão e a birra retratavam fielmente a imagem que Alonso tem hoje na F-1. Ele se tornou, novamente, só um menino atrevido.

FIM DA LINHA 1
O site do jornal espanhol "As" fez a seguinte pergunta aos internautas: "A Renault está sabotando Alonso?" Até ontem, 60% haviam clicado no "sim". Você acha que a montadora ficou satisfeita com a última má-criação do seu piloto?

FIM DA LINHA 2
Mais do que qualquer outro campeonato de ponta, a Champ Car verá uma agitada dança de cadeiras. Bourdais e Junqueira procuram novos ares e já falam com outras categorias. Para eles, já deu.

FIM DA LINHA 3
A associação da Piquet Sports com a Minardi e sua transferência para Veggiano é o primeiro passo na dissolução do time do tricampeão. Que, afinal, alcançou o objetivo de quando foi criado, na F-3 sul-americana: levar Nelsinho à F-1.

fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Ponte Preta: Após derrota, clube demite treinador
Próximo Texto: Ação pede a penhora da Timemania
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.